Cotação próxima de R$ 60,00 deixa produtor com boas expectativas para nova safra e preocupa criadores de aves e suínos, dependentes do grão
Apromilho estima que 15% dos agricultores ainda têm produto disponível no RS | Foto: Karine Viana/Palácio Piratini
O preço do saco de milho se manteve acima dos R$ 60,00 no período de 25 de agosto a 2 de setembro, atingindo o pico de R$ 61,25 em 31 de agosto, recorde nominal da séria histórica do Esalq/BM&FBovespa. Apesar de recuar para R$ 59,06 em 4 de setembro, mantém-se distante dos R$ 36,63 da mesma data no ano passado e, ao longo de 2020, se sustentou a maior parte do tempo entre os R$ 50,00 e os R$ 60,00, com raras quedas para menos de R$ 50,00. No Rio Grande do Sul, o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar apurou cotação média de R$ 50,44 em 3 de setembro, largamente superior à de R$ 33,18 da mesma época no ano passado. A valorização do grão gera diferentes reações dentro do setor agropecuário. Enquanto os agricultores que ainda têm o grão para vender comemoram a alta, os criadores de suínos e aves se queixam dos custos do item, indispensável à produção dos animais.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), a alta ocorre mesmo com a colheita avançada da segunda safra do grão no Paraná e estados do Centro Oeste e com as estimativas apontando produção recorde no país. No Rio Grande do Sul, no entanto, a disponibilidade é menor por causa da quebra de 28,4% da safra 2019/2020. A análise do Cepea/Esalq/USP indica que a retenção do milho pelos vendedores, a demanda interna firme e as exportações em ritmo aquecido são as principais justificativas para a manutenção dos preços.
O presidente da Associação dos Produtores de Milho (Apromilho/RS), Ricardo Meneghetti, estima que cerca de 15% dos agricultores gaúchos ainda têm o grão para negociar. Nas praças de Ijuí e Santa Rosa, segundo ele, os preços atuais do saco variam de R$ 50,00 a R$ 55,00. Mesmo diante destas cotações, Meneghetti estima que a área a ser cultivada na safra 2020/2021 não será maior que a de 791 mil hectares do ciclo passado porque o produtor dará preferência à soja. O dirigente só prevê incremento da área de milho se o agricultor decidir plantar o grão em lavouras de trigo e aveia prejudicadas pelas geadas de agosto.
AVES E SUÍNOS – Para a avicultura, os atuais valores pagos pelo milho são motivos de preocupação, já que pelo menos 60% da ração dos animais é composta pelo cereal. Segundo o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Eduardo Santos, o setor, que já trabalha com margem apertada, sofre perda de competitividade em relação às indústrias que estão próximas dos estados que têm grande produção de milho. “Não sabemos até que ponto temos condição de suportar esta elevação dos preços”, analisa.
Para o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, a alta das cotações do milho pressiona cada vez mais os níveis de rentabilidade dos criadores. Citando levantamento da Embrapa Suínos e Aves, Folador ressalta que o valor médio do custo de produção do quilo de suíno vivo, de janeiro a julho, foi de R$ 4,35, enquanto a média do preço recebido pelo suinocultor foi de R$ 4,60. Ele diz ainda que a preocupação aumenta na medida em que a tendência é que o custo continue subindo, diante da conjuntura do mercado de grãos. “Só vamos ter oferta local de milho em abundância a partir de janeiro”, acredita.