A produção de leite, em Minas Gerais, segue enfrentando um cenário desfavorável. Além da produção concorrer com o aumento das importações de leite em pó, os preços no mercado interno estão com tendência de queda. Apesar de em julho, referente à produção entregue em junho, o preço do litro ter avançado 1,9% na média do Estado, para o próximo pagamento, conforme o Conseleite-MG, a estimativa é de uma retração de 3,2% nos valores.
Assim, a atividade está com margens apertadas ou negativas, tendo como consequência o desestímulo, a queda na produção e produtores saindo da atividade leiteira.
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De acordo com a analista de agro do Sistema Faemg, Mariana Simões, em julho, o pecuarista mineiro recebeu, em média, R$ 2,68 pelo litro do leite, o que representou uma alta de 1,9%. Porém, a tendência para o pagamento de agosto é de uma retração de 3,2% e o litro vendido a R$ 2,60. O preço estimado para agosto fica aquém do necessário para que a atividade seja lucrativa.
Considerando apenas os custos de produção dos pecuaristas do Programa de Assistência Técnica e Gerencial – ATeG, o valor necessário para se produzir um litro de leite varia de R$ 2,39 a R$ 2,63 no Estado.
“O preço do leite vinha em uma crescente pelo período da entressafra, quando há uma menor produção no Sudeste e Centro-Oeste do País. Em junho, houve uma queda de 10% na produção comparada com a média do ano, o que ainda segurou um pouco os preços, mesmo com a alta das importações. Já para agosto, com a maior oferta no mercado, a tendência é de queda nos valores”, aponta a analista.
Valorização do preço do leite não compensou perdas
Conforme Mariana Simões, no acumulado de dezembro de 2023 até julho, houve um reajuste de 40% no preço do leite para o produtor, porém, a alta não foi suficiente para cobrir os prejuízos acumulados desde o ano passado, quando a entrada sem precedentes do leite em pó importado impactou fortemente a cotação do produto.
Vale ressaltar que durante a entressafra, quando não há pastagem disponível, os custos também aumentam e que, mesmo com a recuperação, os preços atuais estão abaixo da média histórica.
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“A recuperação dos preços do leite no período foi positiva, mas o cenário é complicado tendo em vista a queda acentuada dos preços em 2023 que comprometeu a rentabilidade em geral. O momento agora seria de recuperar, mas veio essa sinalização de queda dos preços. Os preços ainda estão em patamares inferiores a 2023, 2022 e 2021”, acrescenta ela.
Falta de lucratividade compromete produção de leite
O comprometimento da rentabilidade da produção de leite traz diversos impactos, segundo Mariana Simões. Nos últimos anos, produtores reduziram os investimentos e muitos saíram da atividade.
“Nos últimos 12 meses, o custo total do litro de leite subiu 108%, isso mostra que, a longo prazo, a atividade não está viável ao produtor. A consequência é a saída dos produtores da atividade, gerando, assim, queda na produção. Se a situação persistir, no longo prazo, corremos o risco de ficarmos dependentes do leite do mercado externo”.
Ainda conforme a analista do Sistema Faemg, diante do mercado desafiador dos últimos anos, os produtores investiram menos devido ao desestímulo e também ao aumento do endividamento.
“O endividamento dos produtores de leite está maior. Pela situação, podemos presumir que estão mais cautelosos e foram obrigados a reduzir investimentos. Com o cenário de alta nas importações e sem reversão à vista, o cenário segue crítico. Então, o produtor deve avaliar o custo e o fluxo de caixa porque o momento é de alta das importações, da produção e de queda do preço”, aponta.
Importações ainda em alta
Quanto às importações, as mesmas seguem elevadas desde agosto de 2022. Em julho, por exemplo, houve um novo pico, chegando, assim, a 224 milhões de litros equivalentes entrando no mercado nacional.
“O volume de leite importado em julho ficou 26% maior que em junho e 24% superior na comparação com julho de 2023. Assim, as importações seguem pesando muito”, explicou Mariana Simões.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior, o Brasil importou, no primeiro semestre deste ano, 1,07 bilhão de litros de leite em pó, aumento de 1,8% em relação ao mesmo período do ano passado.