O ano de 2024 aponta uma pequena recuperação do preço pago ao produtor de leite, conforme aponta o Boletim do Departamento de Economia Rural (Deral) divulgado na segunda semana de fevereiro deste ano.
Em janeiro o valor médio chegou a R$ 2,15, contra R$ 2,13 em dezembro, repetindo o que tinha sido pago em novembro de 2023, mas ainda abaixo dos R$ 2,58 de janeiro do ano passado.
De acordo com o diretor de Agropecuária da Secretaria de Agronegócio, Inovação e Desenvolvimento Econômico João Nogueira, esse preço é uma realidade de Toledo e da região Oeste do Paraná. Nogueira explica que o setor do leite é considerado muito sensível por vários motivos. “Em nossa região, particularmente Toledo, embora a maioria das propriedades seja considerada pequena, ela é diversificada, razão pela qual, na minha opinião, torna-se sustentável”.
O diretor acredita também que o leite sempre fica em terceiro ou quarto lugar na ordem de prioridades do produtor. Desta forma o rendimento está muito abaixo de seu potencial. “O setor vive uma crise de baixa liquidez e sofreu com custos que se elevaram, sobretudo, durante a pandemia da Covid-19, situação agravada com aumento das importações de leite via Mercosul no ano passado”, menciona Nogueira.
Segundo ele, este excesso de oferta afetou o preço e promoveu um movimento grande de desistência da atividade de produtores pequenos, os quais sentem os efeitos desse cenário diante da dificuldade de diluir custos, porque a escala é pequena demais. “Uma alternativa é investir mais, melhorar a qualidade e o rendimento segmentando a atividade com a agroindústria. Temos alguns casos de sucesso em Toledo, de produtores que buscaram este caminho, como inovar na produção de queijo. Muitos produtores já ganharam vários prêmios justamente, porque buscaram este caminho”.
O diretor pontua que o produtor sai de uma dimensão de consumidores e ganha um horizonte mais amplo. “O investimento na cadeia do leite é positivo, porque em muitos momentos o produtor consegue ampliar o seu mercado e essa é uma alternativa interessante”.
ECONOMIA – Nogueira salienta que o leite de alguma forma está na mesa do brasileiro todos os dias. “Enfim, depende muito da capacidade de compra do consumidor, uma vez que não é um produto que conquistou ainda o mercado externo. Este é um fator a ser também considerado na análise da performance da cadeia do leite”, acrescenta.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Leite de Toledo e Região (Aproltol) Saul Zeuckner, a realidade do município e da região Oeste é considerada heterogênea. “Nós temos produtores recebendo R$ 2,50; outros R$ 2,30, mas estamos falando de fevereiro”.
A atividade leiteira tem função social e econômica importante para o Brasil, sendo que em 98,85% dos municípios possuem a atividade, totalizando 5.504 cidades. A cadeia gera quatro milhões de empregos diretos na atividade, além dos indiretos. “O leite é um dos alimentos mais completos que o ser humano consome, sendo o primeiro alimento após o nascimento. Mesmo com toda a relevância, a atividade é a mais esquecida quando se trata de política pública”, enfatiza Zeuckner.
REALIDADE – Essa realidade é vivenciada pelo produtor de leite Edson Schmidt. A propriedade está localizada em Dez de Maio e ele afirma que a situação é considerada desesperadora. Um dos motivos é a ‘enxurrada’ de leite importada sem rastreabilidade de qualidade e em um volume nunca visto.
Schidt complementa que até existe a sinalização de algum tipo de melhoria, mas é considerada tímida diante do custo de produção. “Os produtores de leite trabalham dia e noite, final de semana e feriado. O valor de produção recebido por quem produz leite não cobre o nosso custo. O custo de produção continua sendo maior”, lamenta o produtor.