ESPMEXENGBRAIND
23 jun 2025
ESPMEXENGBRAIND
23 jun 2025
Os preços globais dos lácteos seguem em alta, mas o aumento da oferta e a demanda enfraquecida podem inverter essa tendência no segundo semestre, alerta o Rabobank.
Michael Harvey, analista sênior de lácteos da RaboResearch. Preços globais.
Michael Harvey, analista sênior de lácteos da RaboResearch.

Os preços globais das commodities lácteas continuaram subindo na maioria dos principais países exportadores nos últimos meses.

No entanto, o Rabobank, banco especializado em agronegócio, alerta em seu novo relatório que riscos de queda devem surgir na segunda metade do ano.

No relatório trimestral global sobre lácteos do segundo trimestre, intitulado “Bom demais para ser verdade?”, a divisão RaboResearch aponta que o crescimento modesto da produção global de lácteos nos primeiros meses de 2025 sustentou os preços firmes das commodities do setor.

“Estimamos que a produção nas sete principais regiões exportadoras de lácteos — Nova Zelândia, Austrália, União Europeia, Argentina, Uruguai, Brasil e Estados Unidos — tenha crescido apenas 0,5% em relação ao ano anterior no primeiro trimestre, um aumento modesto, mas coerente com a recente força dos preços”, afirmou Michael Harvey, analista sênior de lácteos da RaboResearch e coautor do relatório.

“Contudo, o cenário está mudando. A produção global deve crescer 1,1% no segundo trimestre e 1,4% no terceiro trimestre, o maior aumento trimestral desde o primeiro trimestre de 2021. Tanto os EUA quanto a União Europeia devem contribuir para esse crescimento, com apoio adicional da América do Sul — ainda que em comparação a bases fracas do ano passado”, acrescentou.

No lado da demanda global, o relatório destaca que sinais de estresse começam a aparecer, com “diversos fatores preocupantes em evidência”.

“Entre eles, estão o nível historicamente baixo de confiança do consumidor nos Estados Unidos, indicadores econômicos preocupantes na China e queda nas vendas de restaurantes e empresas de bens de consumo embalados em várias regiões”, explicou Harvey.

Em meio a esse cenário, o relatório aponta que os conflitos comerciais globais permanecem intensos, com alta volatilidade e tarifas mudando rapidamente — fatores que influenciam os fluxos de comércio de lácteos no mundo. Apesar disso, os preços das commodities lácteas, especialmente na Oceania, dispararam para os níveis mais altos em vários anos.

“As últimas sessões do leilão Global Dairy Trade têm mostrado uma tendência predominantemente positiva”, disse Harvey. “Mesmo nos Estados Unidos, a maioria das commodities lácteas apresentou comportamento altista até o final de maio, sustentadas por estoques mistos ou em queda e exportações fortes no primeiro trimestre — antes da aplicação de tarifas retaliatórias por parceiros comerciais-chave como China e Canadá”.

Mas, ao nos aproximarmos do meio de 2025, o relatório questiona: “Isso tudo é bom demais para ser verdade?” no que se refere aos preços globais das commodities lácteas.

“Na visão da RaboResearch, a resposta provavelmente é sim”, afirma Harvey.

“Esperamos que os riscos de queda ganhem força no segundo semestre, impulsionados pelo aumento da oferta e pela incerteza na demanda global.”

“No entanto, em vez de uma queda brusca, prevemos um ajuste natural, uma correção após o recente desempenho extremamente positivo”, completa o analista.

Austrália: preços do leite pagos ao produtor sobem, mas produção segue pressionada

Para a Austrália, com o encerramento da safra 2024–25 se aproximando, diversas empresas do setor exportador no sul do país anunciaram aumentos nos preços pagos ao produtor, segundo o relatório.

“Essa é uma boa notícia para os produtores de leite”, afirmou Harvey. O preço médio de referência alcançou aproximadamente AU$ 8,40 por quilo de sólidos do leite (kgMS).

“Os preços mais altos pagos ao produtor refletem o aumento dos preços dos ingredientes e das exportações”, disse ele.

Os preços mínimos oficiais para a safra 2025–26 no sul da Austrália giram em torno de AU$ 9/kgMS, em linha com as previsões da RaboResearch, segundo Harvey.

O relatório também aponta que a produção de leite australiana está sob pressão em várias regiões importantes, devido às condições sazonais desafiadoras.

“A produção nacional de leite na safra 2024–25 caiu levemente, com o volume acumulado de julho de 2024 a abril de 2025 totalizando 7,129 bilhões de litros, uma queda de 0,1% em relação ao ano anterior”, disse Harvey.

“As condições secas resultaram em quedas significativas de produção no oeste de Victoria, na Austrália do Sul e na Tasmânia, com redução combinada de 4% nessas regiões na safra 2024–25 até abril de 2025, o que representa uma perda de 70 milhões de litros. Também houve inundações severas no norte de Nova Gales do Sul, afetando um número relativamente pequeno de fazendas leiteiras.”

A RaboResearch projeta que a produção australiana de leite em 2025–26 será ligeiramente inferior à da safra anterior (queda de 0,4%), com risco de agravamento caso as condições secas persistam. Harvey também alertou para o aumento dos custos de alimentação, com os preços de forragem disparando no sul da Austrália, impulsionados pela forte demanda e pelos estoques reduzidos.

Exportações em alta, mas mercado doméstico enfrenta dificuldades

No comércio exterior, o relatório destaca que as exportações australianas de lácteos de julho de 2024 a março de 2025 cresceram 5,4% em comparação ao mesmo período da safra anterior.

“Os volumes exportados de leite em pó, manteiga e queijo apresentaram forte recuperação”, disse Harvey.

Por outro lado, o mercado doméstico australiano segue enfrentando desafios, conforme aponta o relatório.

“Embora cortes nas taxas de juros possam aliviar a pressão sobre o orçamento das famílias e já se observe uma leve deflação no setor de laticínios no varejo, o setor de food service continua fraco. Além disso, o sentimento do consumidor segue frágil, o que contribui para a tendência de os consumidores buscarem produtos mais baratos”, finalizou Harvey.

 

Te puede interesar

Notas Relacionadas