Depois de amargar mais um ano de queda de rentabilidade devido à grande oferta de lácteos no Brasil, com o aumento das importações, e à conjuntura internacional desfavorável que derrubou os preços globais, o setor produtivo de leite brasileiro pode começar a enxergar o fim da crise cada vez mais próximo e a considerar um cenário de mercado mais equilibrado em 2024.
A aposta de especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é que as cotações do produto vão reagir no mercado mundial neste ano e as compras externas do Brasil devem ser mais comedidas no período. O desafio, apontam os pesquisadores, é incentivar o aumento do consumo no país.
Mudanças no cenário internacional sustentam as projeções da estatal. Em 2023, a geopolítica não colaborou. As guerras em curso na Ucrânia e no Oriente Médio, inflação mundial e juros altos influenciaram na queda dos preços globais dos lácteos. Na China, maior comprador do produto, as importações recuaram 30% nos primeiros meses do ano passado.
Em agosto de 2023, o índice médio dos preços no leilão plataforma Global Dairy Trade (GDT) recuou 7,4%, para US$ 2,8 mil a tonelada, menor patamar desde junho de 2020. Leite UHT e leite em pó integral tiveram quedas de 4% e 7%, respectivamente, na comparação com o mesmo período de 2022.
Com a piora na rentabilidade das fazendas ao redor do mundo, a oferta dos grandes exportadores de lácteos ficou reprimida, segundo Lorildo Stock, pesquisador da Embrapa.
A desvalorização do preço do leite foi decisiva também para o aumento das importações brasileiras do produto da Argentina e do Uruguai, onde as cotações estavam 30% e 27% inferiores às praticadas no Brasil, respectivamente. Nos países vizinhos, o custo de produção é 20% menor, o que torna a pecuária leiteira mais competitiva. A crise cambial pressiona ainda mais para baixo o preço dos lácteos argentinos no mercado externo.