Entre as dez cadeias produtivas da agropecuária cearense, a do setor leiteiro lidera a geração de renda, com Valor Bruto de Produção de R$ 2,32 bilhões, segundo o IBGE/Reagro/PPM de 2022.
O setor produz leite nos 365 dias do ano, independentemente da chuva ou da falta dela.
São 73 mil famílias que tiram da produção leiteira o seu sustento. Mais de 80% os produtores são do universo do Programa de Agricultura Familiar e sua maioria localiza-se nos municípios mais secos do Ceará, movimentando a economia urbana e rural, de que são exemplos Quixeramobim, Senador Pompeu, Morada Nova, Milhã e Mombaça.
A produção cearense de leite bovino tem crescido em torno de 10% ao ano. Mesmo no último ciclo de prolongada estiagem (podem chamar-me de seca, por favor), o setor leiteiro foi o único a apresentar incremento – cresceu 3,5%, segundo a mesma fonte.
Os 26 lacticínios com registro sanitário oficial no Ceará depositam, mensalmente, na conta dos produtores cearenses de leite algo em torno de R$ 70 milhões.
Ao mesmo tempo, queijarias informais que funcionam nos sertões do estado pagam aos seus fornecedores de leite cerca de R$ 40 milhões, também mensalmente.
O agrônomo e consultor empresarial em agropecuária, Zuza de Oliveira, revela que é esse dinheiro, periódica e religiosamente depositado na conta de quem produz leite e seus derivados, que muito contribui para a movimentação financeira das feiras livres e do comércio varejista das cidades do interior cearense.
Pois bem: essa importante atividade do setor primário da economia do Ceará está precisando, com urgência, de uma melhor e mais eficiente logística de transporte.
Nas estações de chuva ou nos períodos de seca, o leite é o único produto da agropecuária que precisa de ser recolhido na fazenda do produtor a cada dois dias, pelo seu baixo custo de conservação, antes de ser industrializado, mesmo acondicionado em tanques de resfriamento nas fazendas.
Um estudo elaborado pelo Instituto Luiz Girão sobre o assunto, a que esta coluna teve acesso, diz que, “para uma boa logística de transporte de leite, o fator limitante é a qualidade das estradas vicinais que margeiam as fazendas de produção do Ceará, nas quais estão instaladas, hoje, cerca de 1.200 tanques de resfriamento.
Quando chove, essas estradas vicinais tornam-se intransitáveis, dificultando e onerando a coleta, resultando na queda da qualidade e até na perda de venda do leite às indústrias, com prejuízo para os produtores e para os industriais”.
O estudo conclui que, diante desses fatos, é necessário que o Governo do Estado estude a implantação de um programa de restauração e manutenção dessas estradas vicinais, como forma de apoiar o desenvolvimento da cadeia leiteira, principalmente dos produtores que são os mais afetados – vários deles tiveram de jogar no lixo o leite que produziram, porque os caminhões que o deveriam transportar atolaram.
Sugere o Instituto Luiz Girão que esse programa se concentre em 14 municípios do Sertão Central e do Centro-Sul do Ceará, os quais produzem 88,1 milhões litros de leite (captados em 2022 pela Betânia Lácteos). São – adianta o estudo – 1.445 quilômetros de caminhos rodoviários vicinais que, anualmente, entre janeiro e junho, precisam de manutenção.
A proposta do Instituto Luiz Girão é no sentido de que se construa uma parceria do Governo do Estado – por meio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e o DER, com o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), da Associação dos Prefeitos (Aprece).
Os recursos financeiros para a implementação do programa poderão vir dos orçamentos do Estado e dos municípios, além de emendas parlamentares da bancada cearense na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Um Grupo de Trabalho, liderado pelo DER com a participação dos parceiros do programa, detalharia a execução do projeto e seus custos.