Depois de lotarem o auditório da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), em Goiânia, no último dia 22, para debater a crise no setor e definir sua pauta de reivindicações, os produtores brasileiros de leite trabalham agora para intensificar a busca de apoio nos seus municípios e estados. Foi o que anunciaram, dias atrás, nos grupos do Facebook e do WhatsApp, por meio dos quais o movimento se organizou e vem ganhando força em todo país desde o segundo semestre de 2018.
“Estamos intensificando os contatos com vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, sindicatos e associações rurais e federações da agricultura e pecuária para que conheçam e apoiem nossa pauta de reivindicações”, confirmou ao AGROemDIA o produtor gaúcho Joel Dalcin, do Movimento Construindo Leite Brasil – um dos grupos que reúne, no Facebook, pecuaristas da cadeia leiteira de todo o país.
Para Dalcin, isso é fundamental para que as prefeituras, câmaras de vereadores, assembleias legislativas, governos estaduais e entidades do agro também se empenhem na busca de uma solução para crise estrutural do setor, agravada com a recente queda dos preços do leite ao produtor, que varia de R$ 0,15 a R$ 0,30.
Pauta de reivindicações do setor leiteiro nacional
* Pagamento dia 5 do mês subsequente à entrega do produto;
* Margem compatível do produto dentro da cadeia produtiva, de acordo com a importância de cada elo e particularmente para aquele que fornece a matéria-prima, o produtor de leite;
* Defesa comercial: garantir ao produtor as mesmas condições de competitividade de outros países, carga tributária, taxa de juros, legislação trabalhista e legislação ambiental;
* Solução para comprometer o nível de endividamento do produtor de leite brasileiro, securitização;
* Concessão de incentivos fiscais apenas para o leite produzido no Brasil;
* Marketing para incentivar o consumo de leite em todo o país, valorizando-o como alimento saudável;
* Programas governamentais federais, estaduais e municipais de suplementação voltados apenas ao leite produzido no Brasil.
Relação mais equilibrada
Na avaliação de Dalcin, é preciso estabelecer uma relação mais equilibrada e harmoniosa dentro da cadeia leiteira, por meio de autorregulação, a fim de que produtores, laticínios e supermercados tenham margens compatíveis com o seu grau de importância. Ou seja, assinala o produtor gaúcho, é necessário que todos os elos tenham ganhos no setor.
Além do desequilíbrio dentro da cadeia, os produtores apontam outros fatores como responsáveis pelas adversidades que enfrentam nos últimos anos. Os principais, apontam, são os altos custos de produção, a elevada carga tributária, a falta de previsibilidade de preço e do pagamento do produto aos produtores – às vezes, eles esperam até 60 dias para receber – e concorrência internacional, especialmente dos países do Mercosul, da Nova Zelândia e União Europeia.
Santa Catarina
Em Santa Catarina, os produtores já começaram a pedir o apoio de governantes e parlamentares. Dias atrás, o pecuarista de Jaison Sartori, de São José do Cedro, no oeste do estado, entregou a pauta de reivindicações do setor leiteiro para a vice-governadora, Daniela Reinehr, para o prefeito do município, Plínio de Castro, e para a deputado federal Carolina de Toni.
Sartori espera que essas autoridades ajudem o movimento a conseguir levar os pedidos da cadeia produtiva à ministra Tereza Cristina (Agricultura) e ao presidente Jair Bolsonaro.
O movimento considera essencial ter audiência com a ministra e com o presidente Bolsonaro para que possa expor não só a crise, mas também apresentar alternativas para resolvê-la sob a perspectiva da base produtora.
A expectativa do produtor catarinense é que a sua atitude também incentive os pecuaristas de leite de outros municípios e estados a buscar o apoio dos governantes e parlamentares para que reforçar o movimento.
Economia local
Em entrevista ao AGROemDIA neste domingo (28), Sartori disse que a crise do setor não prejudica apenas os produtores. “Aqui em São José do Cedro, 47% da renda provêm da atividade leiteira. Somos cerca de 1.280 produtores, e o município é o terceiro ou quarto maior da cadeia produtiva de leite no estado.”
“Com a queda do preço pago ao produtor – no meu caso foi de R$ 0,30 por litro em junho e a estimativa é que seja entre R$ 0,10 e R$ 0,15 em julho –, toda a economia do município está sendo afetada”, afirmou Jaison, que tem 96 vacas em lactação e uma produção diária de 2.600 litros.
“Temos que tentar chegar num consenso com os laticínios. Eles precisam ver que a realidade do produtor de leite é bem diferente do que imaginam. Nós brigamos é por centavos, não por reais. A lucratividade deles sempre é grande, tenha o preço do leite subido ou baixado.”
Jaison considera esse cenário insustentável. “O produtor sempre está à mercê dessa situação. Aí é complicado. Não dá para fazer planejamento anual nem mensal porque nunca temos certeza sobre o preço que vamos receber pelo litro de leite. Ou seja, a gente produz leite por 30 dias, entrega por 30 dias e vai receber 15 dias depois e ainda fica na mão da indústria, sem saber quando vai ganhar. E o nosso custo é fixo, é diário. Os laticínios precisam entender isso e abrir mão um pouquinho do lucro.”
Goiás
Em Goiás, o movimento já conta com o apoio do governador Ronaldo Caiado, do presidente da Feag, o deputado federal Zé Mário Schreiner e de um grupo de deputados estaduais – entre eles, Amauri Ribeiro, que também é produtor.
Ao final da reunião do último dia 22, da qual participou, o governador Caiado anunciou que não vai mais conceder benefícios fiscais para indústrias lácteas instaladas em Goiás que importem leite em pó.