O tema biosseguridade foi um dos focos do 2º Fórum Nacional do Leite, ocorrido ontem e hoje (17/4) na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
No evento, realizado pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), foram apresentadas estratégias para diminuir a utilização de antibióticos no tratamento do gado leiteiro como forma de combate à resistência a antimicrobianos enquanto ameaça à saúde humana.
O pesquisador Alessandro de Sá, da Embrapa, falou no evento sobre o conceito de Saúde Única (One Health), proposto de forma conjunta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
O especialista reforçou, durante o painel Biosseguridade, a importância de se considerar saúde humana, animal e ambiental em um mesmo contexto, de forma indissociada, buscando agir nas fases de origem, transmissão e recepção de patógenos provindos de animais e do meio ambiente.
Segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), as interações entre humanos e animais — que ocorrem em diversos ambientes e de diferentes maneiras — podem ser responsáveis pela transmissão de agentes infecciosos, levando à ocorrência de zoonoses. Dados da OIE mostram que cerca de 60% das doenças que afetam seres humanos e 70% das que são emergentes e reemergentes envolvem, em seus ciclos, a participação de animais.
Alessandro de Sá enfatizou a Saúde Única como uma das prioridades da Embrapa e citou, entre os fatores de preocupação, a possibilidade de que a resistência a antimicrobianos (inefetividade do uso de antibióticos para combate a infecções bacterianas) seja, até 2050, a maior causa de mortes no mundo, superando doenças como o câncer.
Com isso, o pesquisador citou o Programa em Saúde Única no âmbito do Sistema Embrapa de gestão, o qual explicou ser dividido em cinco eixos de atuação para a aplicar a Saúde Única à agropecuária brasileira. São eles: tratar o Brasil enquanto sua divisão em biomas; avaliar os riscos de cada bioma; gerenciar esses riscos; criar uma base de dados com modelos; e compartilhar esses dados.
Segundo o pesquisador, os objetivos da iniciativa envolvem a formação e consolidação de uma rede e a necessidade de uma comunicação objetiva que facilite a interlocução entre produtores.
Impacto nas propriedades rurais
Ainda durante o painel, foi apresentada a diferença entre biosseguridade externa — prevenção à introdução de doenças na propriedade — e interna — controle da disseminação de doenças na propriedade —, buscando uma melhoria da saúde, do bem-estar animal e dos índices reprodutivos.
Além disso, foi apresentado pela Embrapa um planejamento da biosseguridade em seis etapas para as propriedades rurais, envolvendo a identificação dos indicadores zootécnicos e sanitários da propriedade; análise de risco e construção de um plano de ação; estabelecimento de zonas de biosseguridade na propriedade; sinalização e controle de acesso ao local; barreiras físicas para separação das áreas; manejo de dejetos animais, diagnóstico e tratamento.
Para evidenciar a importância dessas práticas e exemplificar a forma de atuação, o médico veterinário Sergio Soriano, diretor da Fazenda Colorado, apresentou estratégias utilizadas na propriedade e seus impactos para a produção.
Ele relatou que a fazenda, que é portadora do selo CBS, cessou o uso de antibióticos no tratamento de doenças como a mastite bovina — inflamação da glândula mamária que prejudica a qualidade do leite —, o que resultou em uma diminuição quase total da incidência da doença na propriedade.
Ainda durante o painel, representantes da empresa Boehringer Ingelheim apresentaram uma nova certificação relacionada às preocupações com Saúde Única para produtores leiteiros.
O selo CBS — Certificado de Biosseguridade em Fazendas Leiteiras — poderá ser atribuído a propriedades que comprovem a utilização de medidas que garantam segurança sanitária relacionada ao tráfego de pessoas na propriedade, à manutenção e manuseio do gado e à manutenção de instalações, entre outros fatores. Segundo os palestrantes, a certificação trará impactos positivos à receita do produtor.