“Os políticos abandonaram os produtores de leite”, garante a direcção da Aprolep — Associação dos Produtores de Leite de Portugal, realçando que “sentimo-nos abandonados pelos principais dirigentes políticos quando sofremos a maior crise de que há memória.

A agricultura é esquecida por estar longe de Lisboa e ter pouco votos, mas é a agricultura que alimenta todos os que votam e são eleitos”.

Por isso, a Associação colocou hoje, 16 de Janeiro, simbolicamente uma manada de vacas, em cartão, na rotunda do Marquês de Pombal em Lisboa. Um protesto pelo “preço justo para o leite”, que pede responsabilidades aos políticos e ao governo resultante das eleições legislativas de 30 de Janeiro, da que espera “capaz de criar rapidamente um observatório dos custos de produção”.

“O primeiro-ministro, a ministra da Agricultura e a generalidade dos políticos ficam em silêncio quanto à produção de leite”, enquanto “a agricultura e o mundo rural desaparecem”

A Aprolep explica em nota de imprensa que os produtores sofreram “enormes prejuízos ao longo do ano que passou devido aos brutais aumentos dos custos de alimentação para as vacas, apenas minimizados por um aumento do preço do leite insuficiente para o custo de produção”.

Aumento de custos de 30%

E realça que entramos em 2022 com novos aumentos de custos com rações, energia, adubos e outros factores de produção. “Aumentos de custos na ordem dos 30%, com alguns produtos a dobrar o preço de custo, como é o caso dos fertilizantes. Iniciámos 2022 com um custo de produção acima de 40 cêntimos por litro e não sabemos onde isto vai parar”.

Acrescenta a mesma nota de imprensa que “o primeiro-ministro, a ministra da Agricultura e a generalidade dos políticos ficam em silêncio quanto à produção de leite” e enquanto “a agricultura e o mundo rural desaparecem”.

E garantindo que o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), apresentado a 30 de Dezembro de 2021, “ignora as dificuldades deste sector optando por medidas públicas que claramente prejudicam os produtores de leite, como é o caso da convergência a 100% que reduz as ajudas ao rendimento deste sector em mais de 50%, de um pagamento ligado ao milho silagem que é metade da ajuda ao milho grão, e eco-regimes com orçamento insuficiente para o desafio que nos é pedido por Bruxelas”.

“Sem esses apoios o preço do leite tem que aumentar. Em cada ano abandonam o sector leiteiro cerca de 200 produtores. A este ritmo a produção de leite em Portugal vai desaparecer em poucos anos”, frisa a Aprolep.

“É urgente” que os políticos “estudem os dossiers”

Para a direcção da Associação dos Produtores de Leite de Portugal, “é urgente que os políticos tenham uma palavra de solidariedade para os agricultores, que estudem os dossiers e venham ao terreno visitar vacarias e reunir com os agricultores”.

“É urgente que tenham uma palavra forte junto da indústria e distribuição para um aumento imediato do preço base a pagar ao produtor para acompanhar os custos de produção e o preço médio comunitário, que ultrapassou em Dezembro 41 cêntimos por litro de leite, mais de 7 cêntimos acima do preço médio em Portugal”, pode ler-se na mesma nota.

Para a Aprolep, “é essencial que o novo Governo seja capaz de criar rapidamente um observatório dos custos de produção e um mecanismo capaz de actualizar os contratos e indexar o preço do leite a esses custos e ao preço comunitário, sem que seja preciso os agricultores estarem constantemente a manifestar-se deixando o seu trabalho para colocar vacas ou tractores em Lisboa”.

E promete: “se os políticos não assumirem as suas responsabilidades, irá desaparecer a produção de leite em Portugal, ficarão apenas as vacas em cartão e virá também de fora o leite já embalado em cartão para os que o puderem pagar”.

Vacas no Marques Aprolep 4

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