Quando nós, consultores, chegamos em uma propriedade leiteira, é comum o produtor nos receber com a solicitação de necessidade de aumento de produção.
Sim, essa visão é um ponto comum em quase 100% das propriedades e, muitas vezes, o consultor precisa trazer o produtor para a real necessidade do seu negócio. Pois aumentar a produção de leite a qualquer custo é, até certo ponto, fácil, só que isso pode se transformar em um “tiro no pé”.
Essa busca desenfreada por litros de leite produzido ou, como eu chamo por “tanque cheio” pode levar muita propriedade a ruína, principalmente pelo fato de que ao buscar sempre a produção, estamos visando a receita e esse, é um “indicador de ego”, que normalmente mascara a realidade da propriedade.
Porque chamo de indicador de ego? Não é incomum, em tempos de redes sociais, vermos fotos de produtores com os resfriadores cheios de leite mas, com as contas um pouco “atravessadas”.
O erro fatal: a “síndrome do pó mágico”
Se pensarmos pelo lado da nutrição, por exemplo, vemos muitos erros com o pensamento mágico de produzir mais.
O mais observado é a “síndrome do pó mágico”, que é a inversão natural da pirâmide alimentar, onde vemos produtores que elevam seus custos de produção com aditivos e suplementos, sem antes fazer a base, que seria utilizar de forma mais eficiente, a base nutricional que toda a propriedade tem.
Temos hoje no mercado uma grande quantidade de aditivos ou suplementos que, em muitos casos, são de altíssima qualidade e realmente desempenham aquilo que promete. Entretanto, como a propriedade não trabalha com um plano alimentar correto e equilibrado, a eficiência desses compostos se perdem e, o que antes poderia ser um potencializador dentro da propriedade, passa a ser mais um custo embutido e muitas vezes, escondido.
O erro falado: a força da expressão “cortar custos”
Comento muito com produtores sobre a força da palavra, a força da expressão e, cortar custos é uma expressão muito batida nos sistemas leiteiros e que direcionam a erros que podem determinar a piora econômica da propriedade.
Por isso, adoto usar a expressão priorizar custos pois assim conseguimos entender se aquele determinado custo que estamos falando é realmente um custo ou se ele se apresenta como custo agora mas funciona como um investimento, lembrando que gosto de utilizar duas classificações para investimentos:
Investimento de desenvolvimento: aquele valor que estou utilizando para que ocorra o desenvolvimento de alguns pontos importantes da propriedade. Por exemplo, se invisto num vagão misturador, vou aumentar a velocidade de produção da dieta, melhorar a qualidade da dieta e, por consequência, vou aumentar a produção de leite;
Investimento de manutenção: aquele valor que estou utilizando para manter os processos funcionais. Por exemplo, quando invisto em um núcleo mineral de qualidade, estou fazendo com que tudo ocorra de forma normal no sistema de produção.
É importante essa diferenciação pois normalmente é no segundo caso que o produtor resolve “cortar os custos” pois normalmente nessa situação ele não percebe diferença e realmente não sente necessidade de manter esse produto naquele momento que ele necessita cortar algum “custo”.
Imagine essa situação: Por “necessidade” de cortar custos, o produtor muda o núcleo mineral por um mais barato e ainda usa algo comum que é diluir o núcleo com sal comum. De imediato ele percebe que não baixou a produção de leite e, portanto, ele acredita que esse núcleo mineral não seja tão importante.
O produtor não percebe que as vacas que estão parindo, não estão derrubando a placenta com até 12 horas, mas no outro dia com 24 no máximo 36 horas elas se limparam. Esse tempo a mais já é suficiente para determinarmos que houve uma retenção de placenta, que aumenta a chance de problemas uterinos que, farão que a vaca demore mais para emprenhar e que vai gerar, entre outras coisas, uma diluição da produção na fase final de lactação, aumento de CCS, baixa de produção de rebanho, manutenção dos custos com alimentação e, portanto, aumento dos custo.
Por isso, sempre digo: O que você negar para a vaca leiteira hoje, ela vai te cobrar amanhã.
Como otimizar um custo?
Para otimizar ou ordenar esse custo e ver se ele realmente vai ter interferência no todo do sistema produtivo, tem alguns pontos bem importantes que devemos considerar, entre os quais citamos:
O valor em questão é um investimento de desenvolvimento, de progresso ou de manutenção?
Se for um investimento, eu realmente necessito desse custo nesse momento?
Qual o tempo de retorno desse investimento?
Quanto eu posso descapitalizar a propriedade para fazer esse investimento?
Se eu cortar esse custo, quanto, como, onde e de que forma vai impactar no sistema de produção?
Assim sendo, quando o produtor foca em litros de leite produzido (exclusivamente), muitas vezes ele pode armar uma arapuca econômica dentro da propriedade que fica bastante difícil de resolver.
A visão do produtor não deve perder o foco no leite mas deve ter uma atenção redobrada para o faturamento relacionado ao lucro pois, no final das contas é isso que vai importar pois é com esse lucro que poderemos fazer investimentos de crescimento, é com dinheiro que poderemos gerar qualidade de vida, pontos fundamentais para a manutenção e crescimento da atividade. Quando focamos no leite, focamos no dinheiro que entra.
Quando focamos no todo, visamos o dinheiro que entra, dinheiro que sai e dinheiro que deixa de entrar na propriedade.