Finlândia cria a 'proteína solar', comestível e feita a partir do ar e da eletricidade: aquecimento global na mira.
Fundada por Vainikka e Juha Pekka Pitkanen em 2017, a Solar Foods abriu sua “primeira fábrica do mundo de cultivo de alimentos a partir do ar” em abril.
Fundada por Vainikka e Juha Pekka Pitkanen em 2017, a Solar Foods abriu sua “primeira fábrica do mundo de cultivo de alimentos a partir do ar” em abril.

Em uma fábrica finlandesa, “agricultores do futuro”, debruçados sobre seus computadores, produziram uma proteína comestível apenas alimentando um micróbio com ar e eletricidade.

A agricultura celular, que consiste na produção de alimentos ou nutrientes a partir de culturas celulares, é cada vez mais considerada uma alternativa ecológica à pecuária.

Pote com a nova proteína em pó, chamada 'Solein', é exibido na sede da empresa Solar Foods, em Vantaa, Finlândia
Pote com a nova proteína em pó, chamada ‘Solein’, é exibido na sede da empresa Solar Foods, em Vantaa, Finlândia — Foto: Alessandro RAMPAZZO / AFP

Carne, ovos ou leite produzidos em laboratório despertaram o interesse de cientistas, que embarcam no cultivo de células animais. Mas, para seus detratores, o processo é considerado “antinatural”, consome energia e é caro.

O grupo Solar Foods vai mais longe e, em sua fábrica recentemente inaugurada perto de Helsinque, os cientistas implementaram uma nova tecnologia para cultivar proteínas a partir de células utilizando ar e eletricidade.

Um micróbio é alimentado com dióxido de carbono, hidrogênio e minerais em um processo que utiliza eletricidade de fontes renováveis. Assim, a Solar Foods conseguiu criar um pó rico em proteínas que pode ser usado como substituto do ovo ou do leite.

Fundada por Vainikka e Juha Pekka Pitkanen em 2017, a Solar Foods abriu sua “primeira fábrica do mundo de cultivo de alimentos a partir do ar” em abril.

— Muitas das proteínas animais de hoje podem ser produzidas pela agricultura celular e podemos liberar terras agrícolas e assim repor reserva de carbono — diz Vainikka, referindo-se ao processo pelo qual as florestas e os solos absorvem e armazenam carbono.

Um quilo dessa nova proteína, chamada “Solein”, emite 130 vezes menos gases do efeito-estufa do que a mesma quantidade de proteína da carne bovina na União Europeia (UE), de acordo com um estudo realizado por especialistas em alimentos sustentáveis ​​da Universidade de Helsinque, citado pela Solar Foods.

No laboratório da fábrica e no centro de controle, uma dúzia de pessoas controla a produção em suas telas.

— Eles são os nossos futuros agricultores — comenta o dirigente.

Um campo em fase de expansão

Considerando que o consumo de carne deve continuar a aumentar nos próximos anos, a transformação da produção e do consumo de alimentos está no centro da luta contra o aquecimento global e a perda de biodiversidade, afirma Emilia Nordlund, chefe de investigação alimentar do organismo público finlandês VTT.

 

Alimentos preparados com a 'proteína solar' são exibidos na Solar Foods, em 2 de maio de 2024, na Finlândia — Foto: Alessandro RAMPAZZO / AFP
Alimentos preparados com a ‘proteína solar’ são exibidos na Solar Foods, em 2 de maio de 2024, na Finlândia — Foto: Alessandro RAMPAZZO / AFP.

— A produção industrial de alimentos, especialmente a pecuária, é uma das principais causas das emissões de gases de efeito estufa e da perda de biodiversidade — acrescenta.

As novas tecnologias de produção alimentar podem contribuir para reduzir as emissões da agricultura intensiva e “diversificar a produção alimentar”, garante.

As tecnologias de fermentação utilizadas para produzir nutrientes existem há décadas, mas seu desenvolvimento se acelerou com o surgimento de novos projetos de pesquisa no mundo.

— O campo está em fase de expansão, com a construção das primeiras plantas de demonstração, como a fábrica da Solar Foods na Finlândia — explica o especialista: — Estamos numa fase crucial. Veremos quais novas empresas sobreviverão.

No curto prazo, o principal objetivo da pequena fábrica finlandesa, que emprega cerca de 40 pessoas, é “demonstrar que a tecnologia é viável” de forma a atrair os investimentos necessários enquanto se aguarda a aprovação regulamentar europeia.

A proteína foi autorizada para venda em Singapura, onde alguns restaurantes a incorporam em sorvetes, mas ainda não foi classificada como produto alimentar na UE ou nos Estados Unidos.

Para ter um impacto real, o objetivo é “construir uma fábrica 100 vezes maior que esta”, resume Emilia Nordlund.

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