Apesar da ameaça de “inundação” do leite em pó da União Europeia no Brasil após o fim da taxa antidumping, no dia 6 de fevereiro, o setor leiteiro se mantém otimista

Apesar da ameaça de “inundação” do leite em pó da União Europeia no Brasil após o fim da taxa antidumping, no dia 6 de fevereiro, o setor leiteiro se mantém otimista de que o governo tomará alguma providência para impedir a entrada em grandes quantidades do produto do bloco. “Nós apoiamos ativamente a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e sua ida para o ministério”, disse ao >Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges. “Acreditamos que o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe vão cumprir com o prometido (de impedir a entrada de leite da UE)”, diz. “Para nós, qualquer medida que compense o fim da tarifa antidumping será bem aceita.”

O passo mais recente neste sentido foi dado na sexta-feira (22), quando o Ministério das Relações Exteriores (MRE) notificou a Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a possibilidade de aumentar a tarifa de importação de leite em pó europeu em 14,8%. Assim, além da alíquota aplicada hoje referente à Tarifa Externa Comum (TEC), que é de 28%, haveria os 14,8% adicionais. A iniciativa está prevista nas regras da OMC e funcionaria como resposta à salvaguarda imposta pelo bloco europeu ao aço brasileiro. “A partir de agora, inicia-se um período de negociação”, disse em nota na sexta-feira (22) a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Rodrigo Alvim, também chancelou a boa vontade do governo federal em tentar compensar o fim da taxa antidumping. “Tal medida (a ação do MRE na OMC) demonstra que o governo está buscando a solução para contornar o fim da cobrança das tarifas”. Ainda segundo Alvim, caso se confirme a aplicação da nova taxa, o setor lácteo nacional manterá o otimismo “quanto à mitigação dos riscos de avanços nas importações de leite em pó originárias da União Europeia”.

O principal receio, conta Alvim, é que o bloco exporte para cá leite produzido sob fortes subsídios, prejudicando o setor produtivo nacional pela perda de competitividade. “Nós vamos concorrer não com o produtor de leite, mas com o Tesouro da União Europeia”, advertiu.

Outra liderança da cadeia produtiva, Alexandre Guerra, presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), também se diz “convicto” de que o governo resolverá a questão: “Alguma solução eles vão ter de dar”, afirmou ao Brodcast Agro. Ele teme a entrada do leite em pó europeu no Brasil por se tratar de “concorrência desleal”. “Antes a importação de leite da UE era nula porque havia a taxa antidumping, mais o imposto de importação para impedir”, continua. “Se o queijo já entra aqui com 28% de taxa, por que o leite não pode entrar?”, indaga Guerra, acrescentando que a retirada da taxa antidumping deixou todo o setor em alerta. “Fazemos nosso trabalho para melhorar a competitividade e temos uma surpresa como essa”, lamenta.

Guerra comenta que, mesmo com a medida do Ministério das Relações Exteriores na OMC encaminhada, nesta terça (26) ele e mais uma comitiva do Rio Grande do Sul devem ter uma reunião com a ministra da Agricultura. “Vamos colocar em pauta esse assunto (do leite da UE) novamente”, assinala.

Borges, da Abraleite, lembra que o Ministério da Agricultura informou que está fiscalizando diariamente a entrada de leite da UE no País após o fim da taxa antidumping. “A ministra nos garantiu que não deixará entrar leite nem da Europa, nem da Nova Zelândia (cuja taxa antidumping, de 3,9% também foi extinta)”, disse Borges, acrescentando, porém, que o que o setor almeja é uma “decisão definitiva”. “Queira ou não, enquanto não se cria uma barreira, há o risco real de acontecer uma grande importação de leite europeu. Quando o governo for tomar alguma providência, o estrago no mercado interno já terá sido feito”, avisou o representante dos produtores de leite.

Inicialmente, desde o ano passado, o setor aguardava a renovação da taxa antidumping pelo governo federal. A taxa, de 14,8% sobre o leite europeu e de 3,9% sobre o produto da Nova Zelândia, vinha sendo renovada desde 2001, a cada cinco anos. Entretanto, no dia 6 de fevereiro o Ministério da Economia não viu razões técnicas para manter a barreira, sob a alegação de que as importações de leite em pó da Europa eram quase nulas.

A derrubada da taxa provocou reação do setor agropecuário, liderado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Tanto que, no dia 12 de fevereiro, o presidente da FPA, deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), anunciou que o governo publicaria até o dia 14 de fevereiro, no Diário Oficial da União (DOU), decreto aumentando a taxa de importação de 28% para 42% sobre o leite europeu. O decreto não foi publicado e até o momento o setor leiteiro brasileiro continua na expectativa de alguma medida mais efetiva.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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