O setor lácteo entra em 2026 em um movimento claro de retomada de protagonismo, ancorado em duas demandas centrais do consumidor contemporâneo: saúde e praticidade.
Após um período marcado por desinformação e narrativas que colocaram os lácteos como vilões nutricionais, o mercado assiste a uma revalorização desses produtos como aliados cotidianos da alimentação equilibrada e funcional.
Essa virada de percepção não é episódica. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV) indicam que, em 2024, o segmento de leite UHT registrou crescimento de 3,9% em relação ao ano anterior. O avanço confirma uma tendência que vinha se desenhando gradualmente e que ganhou tração com a mudança de comportamento do consumidor urbano, cada vez mais atento à conveniência sem abrir mão do valor nutricional.
A leitura do consumo global reforça esse cenário. Segundo o relatório Top Global Consumer Trends 2025, da Euromonitor, 52% dos consumidores acreditam que estarão mais saudáveis nos próximos cinco anos. Esse horizonte de médio prazo influencia diretamente as decisões de compra e amplia a busca por alimentos que contribuam para bem-estar, funcionalidade e rotina prática. Nesse contexto, o leite e seus derivados voltam ao centro da mesa, apoiados por atributos como proteínas de alta qualidade, cálcio e vitaminas essenciais.
Do lado da oferta, o setor lácteo brasileiro respondeu com aumento de produção. De acordo com o Anuário Leite 2025, da Embrapa Gado de Leite, o Brasil produziu 25,375 bilhões de litros em 2024, um crescimento de 2,38% em relação a 2023. O dado revela uma cadeia produtiva em reorganização, com foco em escala, eficiência e atendimento à demanda interna, ainda dominante no consumo nacional.
No entanto, a entrada em 2026 não ocorre sem alertas relevantes. Um dos principais desafios apontados por analistas do setor é o avanço das importações. Nos últimos anos, os volumes importados cresceram de forma expressiva, alcançando recordes em 2024, impulsionados por preços internacionais competitivos. Essa pressão externa afeta diretamente a rentabilidade do produtor nacional e interfere nas decisões de investimento ao longo de toda a cadeia.
Especialistas do mercado destacam que competitividade não se resume a preço. Eficiência produtiva, padronização de qualidade, inovação em portfólio e capacidade de leitura do consumidor tornaram-se elementos centrais da disputa. O crescimento industrial isolado, sem ganhos estruturais, deixa de ser suficiente para sustentar margens e posicionamento no médio prazo.
Nesse contexto, a sustentabilidade deixa de ser diferencial e passa a ser requisito. Produzir mais com menos recursos, reduzir perdas e otimizar processos tornou-se imperativo estratégico. A modernização das plantas industriais, por meio de automação, digitalização e eficiência energética, surge como um dos principais vetores de competitividade para o setor lácteo nos próximos anos.
A indústria, por sua vez, começa a tratar a inovação como política transversal, e não como privilégio de grandes players. Soluções tecnológicas mais acessíveis e escaláveis permitem que empresas de diferentes portes avancem em produtividade, qualidade e redução de impacto ambiental. Essa democratização da inovação é apontada como fator-chave para manter a diversidade e a resiliência da cadeia láctea brasileira.
Ao projetar 2026, o consenso entre executivos e analistas é claro: a demanda tende a crescer, impulsionada por consumidores que associam lácteos a saúde, funcionalidade e conveniência. No entanto, esse futuro não será automático. Ele dependerá de investimentos contínuos, modernização industrial, estratégias claras de sustentabilidade e, sobretudo, da capacidade do setor lácteo de antecipar tendências e transformar pressões competitivas em oportunidades de diferenciação.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Food Connection






