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12 dez 2024
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Estudo sobre alimentos ultraprocessados incentiva o alarmismo e ignora dados e contexto nacional.
Os “ultraprocessados” nasceram de uma hipótese abstrata e confusa, que classifica da mesma forma quase 6.000 alimentos completamente diferentes entre si.
Os “ultraprocessados” nasceram de uma hipótese abstrata e confusa, que classifica da mesma forma quase 6.000 alimentos completamente diferentes entre si.

Um dos contos mais conhecidos do mundo, “As Aventuras de Pinóquio”, do autor italiano Carlo Collodi, foi publicado pela 1ª vez em 1881. A história do boneco de madeira criado pelo carpinteiro Geppetto, cujo sonho era ter um filho, é cheia de lições.

Uma das principais é que, ao mentir para encobrir erros, o nariz de Pinóquio cresce descontroladamente. Ao observar os debates sobre os alimentos chamados de ultraprocessados, é inevitável traçar um paralelo com essa história, mas sem um final feliz.

Os “ultraprocessados” nasceram de uma hipótese abstrata e confusa, que classifica da mesma forma quase 6.000 alimentos completamente diferentes entre si.

Mas a hipótese, como o boneco do Geppetto, ganhou vida. E a narrativa segue apoiada em estudos de qualidade questionável, que demonstram, no máximo, correlação, e não causalidade. Conceitos completamente diferentes.

 

ABIA A verdade que não contam sobre os alimentos ‘ultraprocessados’

 

Dentre eles, um teve grande destaque por atribuir, ao consumo desses alimentos, 57.000 mortes por todas as causas, incluindo homicídios e acidentes. Fica difícil entender como os alimentos poderiam estar relacionados a tais fatalidades.

E essa é só uma das falhas da pesquisa, que utilizou dados de risco relativos de outros países, e não do Brasil. Desconsiderou, portanto, as especificidades culturais e comportamentais da nossa população, como padrões alimentares e acesso à saúde.

O estudo não consegue identificar qual alimento seria “o problema”. Daí, joga todos os alimentos chamados de ultraprocessados no mesmo cesto, e assim fica mais fácil criticar, sem ter a obrigação de provar.

A ausência de diferenciação entre causas específicas de mortalidade também dificulta o entendimento do impacto direto desses alimentos em condições de saúde.

Os próprios autores reconhecem que são necessários estudos prospectivos e experimentais no Brasil para fornecer relações causais mais robustas. A extrapolação dos achados para toda a população brasileira é inadequada, dado o uso de dados observacionais e as limitações do modelo.

 

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Esse estudo foi requentado na semana passada e fomos inundados por manchetes alarmantes sobre alimentos matarem milhares de pessoas no Brasil: 6 por hora.

As informações, que têm como fonte um relatório encomendado por uma ONG a um pesquisador da área, foram erroneamente apresentadas à imprensa como um estudo de uma importante instituição de pesquisa do Brasil, a Fiocruz.

O tal relatório diz que alimentos ultraprocessados são responsáveis por 1 em cada 10 mortes. Ora, se antes acusavam esses alimentos de causarem a morte de 57.000 pessoas por ano no Brasil, seriam então 570 mil o número total de mortes em 2019.

Porém, morreram 1,3 milhão de pessoas naquele ano, segundo o IBGE. Matemática simples, mas a conta não fecha.

Parece que não é importante a conta fechar. Tampouco parece importante que pão, iogurte, requeijão, biscoito e linguiças sejam completamente diferentes entre si.

Também não parece importante que os ingredientes utilizados no processamento de alimentos sejam amplamente estudados e autorizados há décadas por FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, na sigla em inglês), OMS (Organização Mundial de Saúde) e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Parece muito menos importante que os achados dos estudos sejam falhos ou inconsistentes. Que não se utilize dados da população brasileira.

O que mata não é o alimento, mas a falta dele. É preciso esclarecer que essa narrativa tem como objetivo sobretaxar os alimentos e fazer com que a população pague mais caro. Mas nada disso importa, porque o nariz do Pinóquio tem que continuar crescendo para manter a história viva.

 

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