A produção de leite pode ser influenciada por um fator inesperado: a música. Essa foi a conclusão de um experimento conduzido em 2001 por psicólogos da Universidade de Leicester, no Reino Unido, que decidiram testar se o ambiente sonoro de uma grande fazenda leiteira teria impacto direto no desempenho das vacas durante a ordenha.
Segundo os pesquisadores, quando músicas lentas e suaves foram tocadas no galpão, a produção de leite aumentou cerca de 3% em comparação aos períodos em que músicas rápidas ou agitadas eram utilizadas. A diferença pode parecer pequena à primeira vista, mas, em sistemas de produção intensiva, variações desse tipo representam ganhos relevantes ao longo do ano.
Os cientistas atribuíram o resultado ao efeito calmante da música lenta sobre os animais. Em um ambiente naturalmente estressante, como o da ordenha mecanizada, sons suaves ajudariam a reduzir a ansiedade das vacas, permitindo que o processo fisiológico da liberação do leite ocorra de forma mais eficiente.
Entre as canções que se destacaram no experimento estavam “Perfect Day”, de Lou Reed, “Bridge Over Troubled Water”, de Simon and Garfunkel, “What a Difference a Day Makes”, na voz de Aretha Franklin, e “Everybody Hurts”, do R.E.M. Curiosamente, não foi apenas a música popular que agradou: uma leitura teatral de “The Merry Wives of Windsor”, de William Shakespeare, também apresentou bons resultados no aumento da produção de leite, segundo relatos posteriores.
Na prática, a seleção musical parecia ter menos relação com gosto e mais com ritmo e intensidade sonora. Canções lentas, com batidas suaves e volume moderado, criavam um ambiente mais previsível e menos agressivo para os animais. Já músicas rápidas ou com variações bruscas não mostraram qualquer efeito positivo.
Apesar da curiosidade despertada pelo estudo, nem todos os especialistas se mostram convencidos. Técnicos do Departamento de Agricultura e Agroalimentação do Canadá adotaram uma postura mais cautelosa. Segundo eles, o experimento original não foi replicado desde 2001, o que limita conclusões definitivas sobre o impacto direto da música na produção de leite.
A avaliação canadense sugere que o efeito observado pode não estar ligado às músicas em si, mas à capacidade do som ambiente de mascarar ruídos desagradáveis. Em muitas salas de ordenha, o barulho constante das máquinas, motores e sistemas de sucção gera desconforto para os animais. A música, nesse caso, funcionaria como um “filtro sonoro”, reduzindo estímulos negativos e criando uma rotina mais tranquila.
Essa interpretação reforça uma visão mais ampla sobre bem-estar animal, tema cada vez mais presente na cadeia leiteira global. Menos estresse, seja por manejo adequado, conforto térmico ou controle de ruídos, tende a favorecer a produção de leite e a saúde dos animais no médio e longo prazo.
Ainda que o experimento não tenha sido amplamente reproduzido, ele ganhou espaço no imaginário popular e segue sendo citado como exemplo de soluções criativas no campo. Afinal, a ideia de vacas produzindo mais leite ao som de Lou Reed ou R.E.M. é, no mínimo, cativante.
Em tom de brincadeira, a própria cultura pop passou a sugerir novas playlists para o curral. Já que o R.E.M. funcionou, por que não incluir “Man on the Moon”? Ou explorar bandas como The Moody Blues, adaptadas ao universo rural, ao lado de clássicos como “Moon River”, transformado em “Moooon River” por entusiastas do tema.
Mais do que provar uma relação direta entre música e produção de leite, o estudo de Leicester deixou uma mensagem clara: o ambiente importa. Pequenos ajustes na rotina e na ambiência da fazenda podem gerar impactos mensuráveis no desempenho produtivo.
Para produtores, técnicos e consumidores, a história também cumpre outro papel. Ela aproxima o público urbano da realidade do campo de forma leve, divertida e acessível, mostrando que ciência, bem-estar animal e produção de alimentos podem caminhar juntos — às vezes, ao som de uma boa música.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Oddee






