Está virando tradição na capital paulista. Há 9 anos, sempre no final do mês de outubro, milhares de mulheres que atuam no agronegócio se reúnem no Transamerica Expo Center, para o chamado CNMA – Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio.
Entre selfies e abraços, as produtoras rurais de diferentes regiões do Brasil se reencontram. E aproveitam para interagir com as empresas do setor, tanto as fornecedoras de insumos, quanto aquelas que compram o que produzem no campo.
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É o caso da multinacional Nestlé, que participou pela terceira vez do evento. A head de agricultura regenerativa na companhia no Brasil mediou um painel que tratou do papel das mulheres na gestão sustentável, reunindo produtoras parcerias no fornecimento de cacau, café e leite.
Após o debate, Barbara Sollero conversou com o AgFeed sobre um dos projetos que mais entusiasma a companhia, chamado de “Força da Moça do Campo”, que tem foco na capacitação das mulheres do campo, principalmente oferecendo ferramentas de gestão.
Ao longo de 2023, por exemplo, 85 mulheres dos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, participaram do projeto.
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Segundo a Nestlé, dados levantados em conjunto com a consultoria Labor Rural mostram que está havendo uma evolução das mulheres ao longo do processo.
No início do projeto, 64% das mulheres delegavam as atividades operacionais na atividade leiteira, mas também executavam. Este número subiu para 70%.
A pesquisa também indicou que antes de participar dos treinamentos 51% das mulheres diziam ter uma expressiva participação na tomada de decisão final na propriedade. Ao final, o número subiu para 87%.
“Foi uma trilha de conhecimento, que era bem profunda, começava com uma jornada online, depois tinha mentoria, depois culminou no Empretec Rural, que o SEBRAE fechou uma turma específica para essas mulheres que trabalhavam em empreendedorismo, então foi uma jornada de 6 meses de conhecimento, por isso medimos esse antes e depois”, explicou Bárbara Sollero.
O levantamento revelou ainda que apenas 30% das mulheres tinham planejamento financeiro para o ano. Depois de participar do projeto, o número subiu pra 45%.
A executiva da Nestlé diz que o percentual ainda baixo se deve ao fato de a cadeia como um todo ainda utilizar pouco as ferramentas de gestão, por isso o esforço para ajudar os produtores nesta evolução.
“O Força da Moça é uma iniciativa que está dentro da nossa estratégia de agricultura regenerativa, de acelerar a transição. Porque a gente sabe que a mulher vai acelerar, né? Então ter mais mulheres na gestão, ela tem esse olhar muito mais da inovação, da avidez para o conhecimento”, diz.
Em 2024, o Força Moça do Campo envolveu 200 mulheres, ao longo de 12 eventos, em seis regiões. “Elas foram presencialmente para a gente falar de gestão financeira, que foi uma demanda delas também, além da sustentabilidade”.
A Nestlé tem atualmente 1,2 mil fornecedores de leite. Quando começou o projeto, identificou que apenas 9% das propriedades eram lideradas por mulheres. Em 2022 perceberam que subiu para 15%. Agora pretendem fazer uma nova pesquisa e identificar se a participação seguiu aumentando.
“Desde o começo, os insights foram bem interessantes, a gente percebia que as mulheres não se sentiam convidadas para participar dos eventos de campo que a Nestlé promovia, que elas nunca tinham recebido uma iniciativa voltada para elas. Aí começamos a endereçar os convites para elas e chamar algumas para abrir os eventos, contar suas histórias, para inspirar as outras”, contou Bárbara Sollero, sobre o início do projeto, em 2019.
Para os negócios da Nestlé, a expectativa é de que iniciativas como essa não apenas contribuam para que a empresa atinja metas ESG, mas também ajudem a garantir o fornecimento de matéria-prima futura.
A head de agricultura diz que as ações trazem sobretudo “resiliência” para o produtor de leite.
O foco na mulher tem ajudado ainda no aspecto da sucessão familiar. Sollero cita exemplos de filhas de produtores que antes eram desencorajadas a permanecer na atividade pelos próprios pais, mas que, ao ver como era possível aprender mais e profissionalizar o negócio, acabar assumindo o comando e voltando a investir.
“Quando pensamos no que se chama de insurance supply, que é garantir o nosso abastecimento futuro, é importante essa jornada da resiliência, em que a mulher está naturalmente integrada. Isso conecta com a garantia de ter a matéria-prima lá na frente”, afirmou.
Neste sentido, a Nestlé também convidou 11 produtoras rurais para estarem presentes no evento de São Paulo, com despesas pagas.
“As mulheres que participam disso dificilmente tomam a decisão, no momento de mercado, de sair. Elas sabem que no longo prazo, no ano, existe um benefício”, acrescentou.