All G e TurtleTree são as únicas empresas que obtiveram o status GRAS (Generally Recognized as Safe) para lactoferrina sem origem animal. (Imagem: TurtleTree)
A lactoferrina, uma proteína bioativa encontrada naturalmente no leite bovino e humano, é um dos ingredientes mais desejados no setor de nutrição humana e animal. Quase metade da lactoferrina produzida globalmente é usada na nutrição infantil, mas suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e anticancerígenas também a tornaram atraente no mercado de nutrição para adultos.
Contudo, a concentração de lactoferrina no leite bovino é baixa – são necessários cerca de 3 litros de leite para produzir 60mg de lactoferrina purificada. Além disso, o processo de obtenção envolve extração, purificação e secagem, etapas que demandam alta tecnologia e custos elevados.
Um histórico de 30 anos
A lactoferrina bovina começou a ser produzida em escala industrial nos anos 1980 pela empresa belga Oleofina. Em 1989, a alemã Milei GmbH também iniciou a produção, utilizando tecnologia desenvolvida pela japonesa Morinaga Milk. Em 2011, produziam-se 90 toneladas métricas de lactoferrina por ano globalmente, com um preço médio de US$ 300 por quilo, segundo pesquisa da Teagasc. Hoje, esse valor pode variar de centenas a milhares de dólares por quilo, dependendo da qualidade e pureza do produto.
A fermentação de precisão utiliza micro-organismos geneticamente programados, como células de levedura, para produzir proteínas sem a necessidade de animais. Em dezembro, a australiana All G tornou-se a segunda empresa a alcançar o status GRAS autoafirmado para lactoferrina sem origem animal nos EUA, seguindo os passos da TurtleTree, de Singapura.
Além de All G e TurtleTree, outras empresas atuando nesse espaço incluem Helaina e Triplebar Bio Inc., dos EUA; De Novo Foodlabs, da África do Sul; e Daisy Lab, da Nova Zelândia.
Lactoferrina de fermentação de precisão é equivalente à bovina?
Segundo Jared Raynes, diretor científico da All G, sua lactoferrina é projetada para imitar a estrutura molecular e as propriedades funcionais da lactoferrina bovina. Isso permite alinhamento com a aceitação do consumidor e os caminhos regulatórios estabelecidos, oferecendo um ingrediente versátil para alimentos funcionais, nutracêuticos e aplicações tópicas.
Raynes destacou que a pureza da lactoferrina derivada de fermentação de precisão é superior a 98%, atendendo ou superando os padrões da indústria em comparação à lactoferrina bovina. Graças ao processo de produção menos complexo, os custos também são reduzidos. “Esperamos lançar nossa lactoferrina fermentada com custos de produção abaixo dos da lactoferrina derivada do leite. Conforme aumentarmos a escala e melhorarmos a eficiência, prevemos custos significativamente mais baixos do que o processo convencional”, afirmou.
Desafios para comercialização
Apesar das vantagens, há desafios significativos para a adoção em larga escala. O mercado para lactoferrina de fermentação de precisão ainda é incipiente e enfrenta a concorrência da lactoferrina de origem animal, amplamente estabelecida e não limitada por regulações.
A All G acredita que seu produto oferece benefícios exclusivos, como adequação para vegetarianos e veganos, baixo impacto ambiental, ausência de outras proteínas lácteas alergênicas e altos níveis de pureza. Contudo, será necessário educar o mercado e diferenciar o produto em um espaço competitivo.
Se mais empresas alcançarem o status GRAS autoafirmado, a lactoferrina pode se tornar mais amplamente disponível, sendo incorporada em produtos como bebidas funcionais, pós de proteína e leites vegetais.
O futuro da fermentação de precisão
Raynes é otimista quanto ao futuro da indústria. Ele prevê que 2025 será um ano de grande crescimento para a fermentação de precisão, com ingredientes premium alcançando aplicações mainstream, impulsionados pela demanda por transparência, qualidade e sustentabilidade.
As bebidas funcionais estão entre as categorias mais prováveis de se beneficiar da lactoferrina sem origem animal. No primeiro trimestre de 2025, a Strive Nutrition deve lançar nos EUA uma bebida funcional e um pó proteico prontos para o consumo, ambos contendo lactoferrina animal-free da TurtleTree.
Outras empresas de foodtech também estão buscando aprovações regulatórias para ingredientes lácteos sem origem animal, como Those Vegan Cowboys e Fermify, ambas focadas em caseína. A tecnologia tem potencial para transformar a produção e o consumo de alimentos globalmente.
*Traduzido e adaptado para eDairyNews 🇧🇷