A pecuária nacional está prestes a viver uma de suas transformações mais significativas. A estratégia beef-on-dairy, que consiste no cruzamento entre vacas leiteiras e touros de corte, está deixando de ser uma aposta de visionários para se tornar um modelo sólido de produção híbrida, altamente rentável e sustentável.
Em franca expansão no Brasil, essa prática já é padrão nos Estados Unidos, onde representa 20% da carne produzida no país.
Mais que uma tendência, o sistema se apresenta como uma resposta inteligente para melhorar a rentabilidade das fazendas leiteiras, otimizar recursos genéticos e produtivos, e atender à crescente demanda por carne de qualidade superior.
O Beef-on-Dairy tem o potencial de revolucionar a pecuária brasileira, integrando de forma eficaz a produção de carne e leite, promovendo sustentabilidade e agregando valor aos rebanhos leiteiros.
O princípio do sistema é simples e estratégico: vacas leiteiras, como Jersey, Holandesa ou Girolando, são inseminadas com sêmen de raças de corte, como Angus, Simental ou Brangus.
O resultado são bezerros híbridos com maior ganho de peso, melhor rendimento de carcaça e carne de qualidade premium, com destaque para o marmoreio — gordura intramuscular que garante maciez e sabor.
Segundo o agrônomo e consultor Guilherme Silveira, o sucesso da prática está no ciclo mais curto e no melhor desempenho dos animais.
“Toda vez que aumento meu ganho médio diário (GMD), aumento meu giro. E toda vez que aumento o giro, aumento a margem que deixo na fazenda. Diminui tempo, diminui custo fixo”, explica.
Nos Estados Unidos, a lógica econômica é ainda mais direta: bezerros com apenas dois dias de vida são comercializados entre US$ 900 e US$ 1.000, superando com folga o valor de animais de genética leiteira pura.
Carne que surpreende e conquista o mercado premium
No Brasil, especialistas já comprovam que a carne beef-on-dairy não fica atrás dos melhores cortes de raças tradicionais. Um exemplo emblemático é o cruzamento Jersey x Angus. Segundo o zootecnista Roberto Barcellos, da BBQ Secrets, o marmoreio dessa carne rivaliza com cortes prime dos EUA, com destaque para a suculência e textura macia.
“Talvez esteja aí o futuro da carne de alta qualidade do Brasil”, afirma Barcellos.
Cooperativas como Cooperaliança, Capal e Castrolanda já estão integrando o modelo em seus rebanhos, e diversas marcas de genética bovina vêm incentivando os produtores com programas de cruzamento direcionado.
Sustentabilidade com gestão eficiente
A integração entre leite e corte também carrega um forte apelo ambiental. O sistema reduz o descarte de bezerros machos com baixo valor zootécnico, otimiza a estrutura já existente nas fazendas leiteiras e diminui a pressão por expansão de áreas de pastagem, o que o torna uma estratégia ecologicamente eficiente e alinhada com as exigências atuais do mercado consumidor e exportador.
Além disso, destaca-se a eficiência alimentar e o rápido ganho de peso, o que torna a produção mais econômica e com menor impacto ambiental.
Mas, segundo Silveira, para que o modelo atinja seu verdadeiro potencial, é preciso abandonar o improviso e investir em gestão profissional:
“Temos genética e tecnologia. Mas o diferencial do produtor americano é o processo. Eles têm dados na mão. Quem quiser ter resultado precisa de rotina, processo e mensuração. O tempo do feeling acabou”.
Beef-on-dairy: O Brasil está pronto?
Embora ainda em fase de expansão, os avanços no Brasil são consistentes. Propriedades que testaram o beef-on-dairy com vacas Girolando, Jersey ou Holandês já apresentam resultados superiores em desempenho zootécnico e valor de mercado dos animais.
A médica veterinária Verônika Slota, superintendente técnica da raça Jersey, destaca que a carne é mais facilmente associada à genética do que o leite, o que abre novas oportunidades de branding para a cadeia da carne premium.
“Essa nova abordagem convida o produtor a olhar com mais atenção para o que ele já tem na fazenda”, resume.
Um caminho sem volta
Mais do que uma inovação técnica, o beef-on-dairy representa uma mudança de mentalidade na pecuária brasileira. Ele une rentabilidade, eficiência, sustentabilidade e qualidade de produto final.
Não se trata apenas de uma nova técnica, mas de uma nova forma de fazer pecuária — mais integrada, mais profissional e mais lucrativa.
“É um caminho sem volta. Quem entender isso primeiro vai sair na frente”, finaliza Silveira.
Conteúdo especial do Compre Rural, produzido pelo Diretor de Conteúdo Thiago Pereira