ESPMEXENGBRAIND
17 jul 2025
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Empresa da Dinamarca cria plataforma para produzir a proteína alfa-lactoalbumina sem origem animal. Inovação pode impactar a indústria brasileira.
Proteina. A alfa-lactoalbumina é rica em aminoácidos essenciais, está associada ao desenvolvimento cognitivo e tem alto valor nutricional, especialmente em fórmulas infantis.
A alfa-lactoalbumina é rica em aminoácidos essenciais, está associada ao desenvolvimento cognitivo e tem alto valor nutricional, especialmente em fórmulas infantis.

Uma das proteínas mais valiosas do leite bovino pode estar prestes a mudar de origem — e de modelo de produção.

A empresa dinamarquesa 21st.Bio lançou uma plataforma de fermentação de precisão para produzir alfa-lactoalbumina sem uso de vacas, com potencial para transformar cadeias de fornecimento em todo o mundo.

A tecnologia, baseada em cepas microbianas de alto rendimento licenciadas da gigante Novonesis, permite que empresas do setor alimentício passem a fabricar, em escala industrial, essa proteína funcional de forma limpa, acessível e sem impacto direto sobre os rebanhos.

A alfa-lactoalbumina é rica em aminoácidos essenciais, está associada ao desenvolvimento cognitivo e tem alto valor nutricional, especialmente em fórmulas infantis.

Fermentação com propósito

Segundo o CEO da 21st.Bio, Thomas Schmidt, o objetivo não é substituir completamente a cadeia leiteira convencional, mas oferecer uma alternativa complementar e sustentável, diante do aumento global da demanda por proteínas.

“Estamos nos aproximando de um cenário de escassez proteica. A fermentação de precisão pode aliviar essa pressão e distribuir melhor a produção, com menores impactos ambientais”, afirma Schmidt. A empresa aposta em atingir, no mínimo, paridade de custo com proteínas lácteas tradicionais, algo que pode redefinir a competitividade em diversos mercados.

Hoje, a alfa-lactoalbumina representa apenas 3 a 5% das proteínas do leite bovino, o que exige até 1.000 litros de leite para se obter 1 kg da proteína purificada. Isso a torna uma das proteínas de origem animal mais caras do mercado.

Com a nova tecnologia, a 21st.Bio insere a sequência genética da proteína em microrganismos, que passam a produzi-la durante a fermentação. Após o cultivo, o líquido é filtrado, separando as células e obtendo a proteína em alta pureza e livre de origem animal.

Por que o Brasil deve prestar atenção

O impacto dessa inovação na indústria láctea brasileira pode ser significativo — e em várias frentes:

  • Empresas de nutrição infantil, suplementos e alimentos funcionais podem se interessar em adotar ou importar essa proteína, com potencial de elevar o padrão dos produtos premium.
  • A possível redução da demanda por soro bovino (fonte atual da alfa-lactoalbumina) pode afetar a rentabilidade de segmentos que hoje valorizam esse subproduto.
  • A inovação oferece uma alternativa alinhada às exigências de sustentabilidade e rastreabilidade, algo cada vez mais relevante em mercados globais e entre consumidores brasileiros atentos ao impacto ambiental.
  • Biotechs nacionais, startups foodtech ou universidades com foco em bioeconomia podem encontrar aqui uma janela para desenvolver ou adaptar tecnologias semelhantes.

 

Modelo de negócio por licenciamento

Fundada em 2020, a 21st.Bio trabalha com um modelo B2B, oferecendo licenciamento de cepas microbianas, suporte técnico completo, desenvolvimento de processos industriais e assessoria regulatória. A empresa já possui laboratórios na Dinamarca e na Califórnia.

O processo para aprovação GRAS (Generally Recognized As Safe) da versão recombinante da alfa-lactoalbumina será iniciado ainda em 2025, seguido por submissão à EFSA (Autoridade Europeia de Segurança Alimentar).

A empresa já lançou, em 2024, a BLG Essential+, uma versão da beta-lactoglobulina também produzida por fermentação — e que deve chegar ao mercado em breve.

A 21st.Bio é financiada pela Novo Holdings, braço de investimento do mesmo grupo que controla a farmacêutica Novo Nordisk, e que já aportou €86 milhões na startup. A parceria com a Novonesis é considerada estratégica e exclusiva para essas proteínas recombinantes.

O futuro do leite (com ou sem vacas)

Startups como Imagindairy (Israel) e PFx Biotech (Portugal) também disputam o espaço da fermentação de precisão aplicada a proteínas lácteas. Mas a 21st.Bio acredita que sua abordagem integrada e foco na escalabilidade industrial a colocam na dianteira dessa transformação.

Para o Brasil, maior produtor de leite da América do Sul, a questão não é se essa revolução chegará — mas como e quando a cadeia local vai se adaptar. Seja por integração, parceria, concorrência ou reinvenção.

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