Em um cenário global ainda permeado por incertezas econômicas, os lácteos dão sinais tênues de recuperação nos mercados internacionais.
O mais recente leilão da Global Dairy Trade (GDT), o evento 384 realizado em 15 de julho, revelou uma alta média de 1,1% no índice geral de preços — uma notícia bem-vinda para um setor que vem enfrentando volatilidade e margens pressionadas.
No entanto, essa aparente melhora esconde movimentos contrastantes entre as categorias.
Enquanto produtos como a manteiga anidra (AMF) e o leite em pó desnatado (LPD) registraram aumentos, o cheddar — tradicionalmente visto como um termômetro da demanda — apresentou uma queda expressiva de 5,6%, sinalizando possíveis desafios na cadeia de valor.
Para o Brasil, que vem intensificando sua presença no mercado global e observa atentamente os movimentos neozelandeses como referência, entender essa dinâmica é crucial.
O país precisa equilibrar sua competitividade em produtos exportáveis com a pressão de custos internos, especialmente em momentos de alta nas commodities e câmbio instável.
Panorama dos preços: recuperação parcial
Segundo o relatório da NZX, os principais destaques do evento foram:
Leite em pó integral (LPI): alta de 1,1%, com preço médio de US\$ 4.380/tonelada
Leite em pó desnatado (LPD): alta de 2,5%, alcançando US\$ 2.785/tonelada
Manteiga anidra (AMF): avanço de 0,8%, chegando a US\$ 6.973/tonelada
Manteiga: manteve estabilidade, sem variação, a US\$ 7.492/tonelada
Cheddar: queda significativa de 5,6%, com média de US\$ 4.589/tonelada
Mussarela: leve retração de 0,7%, para US\$ 4.760/tonelada
Lactose: recuou 1,5%, cotada a US\$ 1.355/tonelada
O que explica o recuo do cheddar?
A queda acentuada no preço do cheddar pode estar associada à pressão da oferta em mercados-chave, desaceleração da demanda em regiões como Ásia e Oriente Médio, e mudanças no mix de consumo global.
O queijo, que vinha com desempenho firme nos últimos meses, agora reflete um ajuste diante de estoques elevados e margens apertadas para os processadores.
Esse movimento merece atenção especial de produtores brasileiros que apostam na valorização dos queijos como alternativa de diversificação. Se a tendência de queda persistir, pode haver reflexo nos preços internos e nas margens industriais, especialmente para quem mira o mercado externo.
Implicações para o Brasil
A leve alta nos preços de leite em pó traz um alívio pontual para exportadores brasileiros, especialmente num momento em que a Argentina enfrenta desafios na produção e o dólar favorece a competitividade local.
No entanto, a estagnação da manteiga e a queda do cheddar apontam para um cenário ainda instável.
Com o mercado internacional dividido entre recuperação parcial e retração setorial, o Brasil deve reforçar estratégias de agregação de valor, diferenciação de produtos e gestão de riscos.
A leitura atenta dos dados da GDT pode ser uma vantagem competitiva para empresas que desejam se posicionar com inteligência frente às mudanças globais.
O evento 384 da GDT reforça o caráter multifacetado do mercado lácteo atual: há sinais de retomada, mas também alertas importantes.
O Brasil, como player emergente e com potencial de crescimento nas exportações, precisa observar com lupa esses indicadores para tomar decisões assertivas.
