Reconhecimento vai impulsionar a geração de emprego e renda e o desenvolvimento de seis municípios; Produção da iguaria faz parte da história da região desde o Ciclo do Ouro.
Gil Leonardi / Imprensa MG

O governador Romeu Zema anunciou, nesta terça-feira (19/4), em Caeté, o reconhecimento de mais uma região produtora de Queijo Minas Artesanal (QMA), conforme portaria publicada nesta terça pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).

A região “Entre Serras da Piedade ao Caraça” contempla os municípios de Catas Altas, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Rio Piracicaba, Bom Jesus do Amparo e Caeté. A localização, entre as serras da Piedade e do Caraça, acabou dando origem ao nome da região recém reconhecida.

A região “Entre Serras da Piedade ao Caraça” passa a ser a 10ª região de Minas Gerais reconhecida oficialmente como produtora de Queijo Minas Artesanal. Mais nove regiões já são reconhecidas como produtoras do tradicional queijo mineiro: Araxá, Campos das Vertentes, Canastra, Cerrado, Diamantina, Serra do Salitre, Serro, Triângulo Mineiro e Serras da Ibitipoca.

Diferencial

Zema destacou que o reconhecimento é extremamente importante para Minas, uma vez que assegura que o produto é de qualidade, além de melhor

remuneração para quem produz.

“O produtor rural terá condição de desenvolver sua produção, contratar mais pessoas e gerar mais empregos. O Governo do Estado, diferentemente do que aconteceu passado, agora dá condições para que o queijo seja produzido com segurança sanitária e colocado nas gôndolas dos supermercados com muito mais valor”, afirmou.

De acordo com o governador, os queijos produzidos em Minas estão entre os melhores do mundo. “Já tivemos produtores que foram à França e voltaram com medalha de ouro, prata e bronze”, lembrou.

A caracterização da região como produtora de Queijo Minas Artesanal foi concedida pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), por meio de portaria do IMA, entidade vinculada ao órgão, e teve como base um estudo técnico produzido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), também vinculada à Seapa.

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Gil Leonardi / Imprensa MG

 

Novos mercados

Para o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Thales Almeida Fernandes, o reconhecimento da região como produtora de Queijo Minas Artesanal é muito importante para que os produtores possam sair da informalidade e tenham acesso a novos mercados.

“Com a caracterização e conseguindo a habilitação sanitária, o produtor poderá comercializar seu queijo em todo o território nacional com o Selo Arte. Minas Gerais é o estado que possui o maior número de queijarias com este selo, que habilita a comercialização em todo o país. É muito importante ver estas políticas públicas saírem do papel e chegarem diretamente ao produtor, por meio das nossas vinculadas Emater-MG, Epamig e o IMA”, ressaltou.

Mudança de rota

O reconhecimento da região era o que o produtor rural Delmar Nunes de Macedo mais esperava. A iniciativa fez com que Delmar iniciasse o processo de legalização da sua queijaria junto ao Instituto Mineiro de Agropecuária.

Natural de Lassance, no Norte de Minas, há três anos a vida do produtor deu uma reviravolta. Trocou Lassance por Caeté e o gado de corte deu lugar ao leiteiro, voltado para a produção de queijo.

Após tomar a decisão de produzir a iguaria, Delmar, juntamente com o seu pai, Francisco Soares de Macedo, realizou inúmeras pesquisas para definir qual o melhor lugar para adquirir uma propriedade rural.

Caeté foi a cidade de escolhida por características como altitude, umidade e o clima. Durante o processo de maturação, o queijo é submetido a inúmeras reações bioquímicas, causadas pela presença de enzimas naturais do leite ou produzidas por micro-organismos, sendo ideal que estes sejam originados de “pingo” de boa qualidade, para o desenvolvimento de sabores e texturas agradáveis.

Essas reações ocorrem em velocidades diferentes, sendo influenciadas por temperatura e umidade. A propriedade de 45 hectares conta com 15 vacas em período de lactação, que rendem uma produção diária de 15 queijos.

Com apenas três anos de produção, a Queijaria Emboabas já foi premiada duas vezes na região, com primeiro e segundo lugar. Os queijos são vendidos em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília e já chegaram no Canadá, Estados Unidos e Chile.

Com a caracterização da região, Delmar tem planos de aumentar a produção. O produtor já expandiu a área de pasto e colocará em prática o sistema de pastejo rotacionado, com a plantação de milho e o capim BRS Kurumi. Esse capim possui alto teor nutritivo e elevada produção de forragem, o que permite ao produtor intensificar a produção de leite.

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O produtor rural Delmar Nunes de Macedo (Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG)

História secular

O produtor Pedro Henrique e sua família têm uma história secular com a produção de queijo, no município de Rio Piracicaba. Há pouco mais de cinco anos, ele resgatou a tradição de fazer queijo maturado na tábua e, a partir daí, surgiu o interesse de legalizar a produção.

O processo de legalização se iniciou em 2019 e, no final do ano passado, conseguiu o Selo Arte, que habilita a comercialização do queijo artesanal em todo o país. Em sua avaliação, o reconhecimento traz oportunidades para os produtores.

“A partir de hoje, nosso produto passa a ter mais valorização no mercado.  As cidades que estão situadas em uma região reconhecida como produtora de Queijo Minas Artesanal ganham visibilidade”, afirmou.

Tradição regional

Conforme pesquisa realizada pela Emater-MG, a história da produção de queijos na região “Entre Serras da Piedade ao Caraça” está atrelada à mineração, desde a época do Ciclo do Ouro.

“Com o surgimento das pequenas vilas e povoados, surgiu a necessidade de prover alimentos para as pessoas que vinham trabalhar no local. A produção de queijo passou a ser adotada como forma de conservação do leite, uma vez que a pecuária também se iniciou com as expedições em busca de ouro e território”, explica a coordenadora do estudo e engenheira de alimentos da Emater-MG, Fernanda Faria Quadros.

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Gil Leonardi / Imprensa MG

Benefícios da caracterização

A caracterização das regiões produtoras de queijos artesanais é um processo de resgate da história e da cultura de um determinado território. Além disso, serve como um estímulo para os produtores investirem na atividade, na medida em que podem colocar em seus rótulos o nome da região em que é produzido.

A região situada entre as serras da Piedade e do Caraça é reconhecida como um dos mais importantes patrimônios naturais, históricos e religiosos de Minas Gerais com forte vocação turística. A caracterização da região como produtora de uma iguaria tão enraizada na história mineira pode impulsionar ainda mais a geração de emprego e renda para os produtores e desenvolvimento para os municípios.

Queijos artesanais em MG

Levantamento da Emater-MG indica que, no estado, há 7.063 estabelecimentos destinados à produção dos diversos tipos de queijos artesanais.

Neste grupo, o destaque é o Queijo Minas Artesanal. São 3.103 agroindústrias em Minas Gerais. A produção estimada é de 21,8 mil toneladas por ano, o que representa 65,2% da produção dos queijos artesanais das agroindústrias familiares.

Nas entrevistas com os produtores atuais e os antigos que não mais produzem, mas são guardiões da história local, foram identificadas, desde os primórdios da atividade, as principais características que definem o Queijo Minas Artesanal: utilização de leite cru, o pingo (fermento natural) e o processo de maturação, também conhecido na região como “queijo de tábua” ou queijo amarelo.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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