Uma startup israelense desenvolveu a proteína do leite usando bioengenharia para criar uma ampla variedade de produtos lácteos, com cogumelos e sem vacas. Segundo a empresa, seus produtos são mais saudáveis, mais ecológicos e mais baratos de criar.
A caseína representa cerca de 80% da proteína do leite bovino e o soro de leite, cerca de 20%.
A caseína representa cerca de 80% da proteína do leite bovino e o soro de leite, cerca de 20%.

A ImaginDairy, com sede em Haifa, usa códigos de DNA para proteínas do leite para recriar seu DNA, disse o CEO e cofundador da empresa, Eyal Afergan. Os dados estão inclusive disponíveis no site do Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia do governo dos EUA.

Existem duas proteínas principais no leite, soro de leite e caseína, explica Afergan. Estas proteínas estão presentes em todos os alimentos à base de leite. A caseína representa cerca de 80% da proteína do leite bovino e o soro de leite, cerca de 20%.

Usando um processo chamado fermentação de precisão, a ImaginDairy recriou essas proteínas em laboratório para gerar todo tipo de laticínio. E segundo a empresa, o sabor é idêntico ao original.

Este processo modifica os microrganismos para criar certas proteínas e outros compostos, inserindo genes no seu DNA existente. Afergan afirma que o processo está em uso na indústria alimentícia há mais de quatro décadas.

“Não estamos usando algo único”, diz ele. O que é único, porém, é a forma como é aplicado.

O DNA modificado é inserido em um “local específico” dentro do DNA do fungo, diz Afergan, o que faz com que o cogumelo produza a proteína do leite.

“Basicamente, sequestramos os elementos reguladores e as instalações de produção dos fungos e o fungo começa a produzir nossa proteína alvo”, diz ele.

Os cogumelos são fáceis e econômicos de cultivar, dobrando de tamanho a cada 24 horas e, assim que ficam visíveis no solo, podem ser colhidos em apenas quatro dias.

Depois que o cogumelo colhido produz a proteína do leite necessária, explica Afergan, a ImaginDairy adiciona gorduras vegetais, carboidratos e outros ingredientes para criar produtos lácteos específicos, como leite, queijo ou até mesmo sorvete.

As gorduras vegetais são comumente encontradas em alimentos como linhaça, coco, sementes de cânhamo, abacate, azeitonas, nozes e sementes de gergelim.

Afergan, com formação em Engenharia Bioquímica, diz que o processo proprietário da empresa foi desenvolvido nos últimos 20 anos pelo Prof. Tamir Tuller, cofundador e CSO da ImaginDairy, que dirige o laboratório de Sistemas Computacionais e Biologia Sintética da Universidade de Tel Aviv.

De acordo com Afergan, o método de produção ImaginDairy é superior aos laticínios de origem animal em vários aspectos.

O processo ImaginDairy é muito mais limpo e muito menos dispendioso do ponto de vista ecológico do que utilizar a pecuária para obter leite. A produção leiteira, salienta ele, tem um enorme impacto ambiental nos recursos do planeta. “Nosso processo é muito, muito mais ecológico”, diz Afergan.

Como o processo de produção é baseado em laboratório, explica ele, a empresa utiliza pelo menos 90% menos água do que a indústria tradicional de laticínios. Também produz 97% menos emissões de carbono e requer apenas 1% da terra necessária à indústria leiteira tradicional.

Tão importante quanto, diz ImaginDairy, é que seu processo produz zero metano, um gás de efeito estufa que é uma das maiores causas do aquecimento global e produzido em grandes quantidades pelo sistema digestivo de uma vaca.

Os laticínios desenvolvidos em laboratório também são benéficos para a saúde do consumidor, afirma Afergan. “Mantemos todos os benefícios nutricionais superiores do leite, mas removemos a lactose”, diz ele sobre o açúcar encontrado naturalmente no leite.

Ele ressalta que cerca de 65% da população mundial não consegue absorver adequadamente a lactose, estatística apoiada pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA.

A demanda por produtos lácteos está aumentando à medida que a população mundial cresce e mais pessoas têm laticínios em sua dieta.

O processo ImaginDairy também não contém colesterol, hormônios ou antibióticos em seus produtos, diz ele, e como nenhum animal esteve fisicamente envolvido na criação da proteína, é até adequado para veganos.

A empresa não é a única no mundo que utiliza fermentação de precisão para criar proteínas do leite, mas Afergan diz que a forma como trabalham leva a volumes excepcionalmente elevados de produtos lácteos.

O mercado da pecuária leiteira tem um enorme valor. Em 2022, foi avaliado em cerca de US$ 893 bilhões de dólares e deverá atingir 1,2 trilhões de dólares nos próximos cinco anos. “ImaginDairy quer mudar a equação”, diz ele.

O financiamento para o projeto veio inicialmente da Autoridade de Inovação de Israel, do Kitchen Hub, um projeto de tecnologia alimentar da gigante alimentícia israelense Strauss e de vários capitalistas de risco. A ImaginDairy recebeu recentemente investimento do Grupo Danone, uma das maiores empresas de laticínios e produtoras de leites alternativos do mundo.

Embora os seus produtos lácteos não estejam no mercado, a empresa já desenvolveu uma gama de produtos, incluindo iogurte, leite, sorvetes e queijo, em escala comercial.

Os produtos receberam a classificação Geralmente Reconhecido como Seguro (GRAS) da Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA, o que significa que podem ser vendidos em lojas americanas. Os Estados Unidos são o primeiro local alvo da empresa, com o mercado israelense a seguir na lista.

 

 

 

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