O crescimento nas importações de lácteos no primeiro quadrimestre tem assustado os produtores do Rio Grande do Sul.
Este ano, as compras brasileiras de leite, creme de leite e laticínios (exceto manteiga e queijo) da Argentina e Uruguai em relação ao mesmo período do ano passado saltaram em 286,4% em valor, chegando a US$ 263,2 milhões, e 230,6% em volume, atingindo 69,9 mil toneladas, conforme dados da plataforma Comex Stat, do governo federal.
Em sentido contrário, as exportações do país caíram 37,2% em receita, chegando a US$ 25,4 milhões, e 30,7% em volume.
O Rio Grande do Sul é o terceiro Estado que mais importou, aplicando US$ 34,1 milhões, com variação de 230,7% sobre o período de janeiro a abril de 2022. Os dados deste ano ampliam as preocupações dos produtores.
“Estamos com medo, porque há uma inundação de leite de fora do país e temos que ter alguma medida protetiva”, destacou o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang.
O secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat), Darlan Palharini, diz que o preço da matéria-prima pago aos produtores do Estado é acima do valor de mercado do Mercosul e que Argentina e Uruguai têm políticas públicas de apoio ao segmento.
Segundo o dirigente, o governo argentino aprovou subsídios aos produtores no final do ano passado e o Uruguai concedeu linhas de crédito com prazo de até 13 anos para produtores e indústria. “Nossa preocupação é não termos uma política de Estado para fazer frente a isso, pois derrubar o custo de produção não se consegue de imediato”, declarou.
Conforme Palharini, as vantagens de Uruguai e Argentina são de escala e não se limitam aos incentivos que permitem baixar os custos de produção. “Argentina e Uruguai produzem em média de 1 milhão de litros/ano, enquanto no RS a média mais alta chega a pouco mais de 100 mil”, disse.
Outro fator destacado por Palharini no atual cenário é o mercado mundial desaquecido, principalmente pela China, que é o grande comprador. “A única alternativa realmente seria o governo equiparar o benefício que a Argentina está concedendo, em torno de R$ 340 milhões, e estender as linhas de crédito para fazer frente a isso, já que colocar um sistema de cotas é mais difícil pela questão do Mercosul.”
A importação crescente de lácteos foi debatido na semana passada pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). O coordenador da Câmara, Eugênio Zanetti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS) alertava para a competição desigual entre brasileiros e produtores uruguaios e argentinos. “O impacto na cadeia produtiva é muito ruim, vai sobrar leite no mercado interno e o preço certamente irá despencar”, avaliou Zanetti.
O segmento leiteiro enfrenta uma tendência de redução de produtores desde 2015, conforme relatório da Emater/RS-Ascar de 2021. Naquele período, mais de 44 mil agricultores abandonaram a atividade leiteira em razão da perda de competitividade, sem perspectivas de retorno, e houve redução do rebanho leiteiro no Estado.
Setor está sem preço de referência desde janeiro
No encerramento da 17ª Fenasul e 44ª Expoleite, o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, lembrou que o setor produtivo vem enfrentando dificuldades para pagar pelo serviço de cálculo do preço de referência do loeite, feito pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e cobrou a liberação de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do Rio Grande do Sul (Fundoleite). Os valores de referência não são divulgados desde janeiro, quando ocorreu a última reunião do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Rio Grande do Sul (Conseleite/RS).
“Não temos tido as reuniões de Conseleite para dar o preço de referência, porque o elo produtor ficou com uma dívida para fazer este cálculo”, ponderou Tang, destacando que o setor não tem acesso aos valores do fundo. “Se o Fundoleite não pode ajudar nesta questão tão básica, para que termos um fundo?”, questionou. “Nós vamos pagar essa dívida, mas queremos que essa questão seja desburocratizada”, cobrou.
Por meio de nota, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) informou que “o governo está trabalhando para que a liberação desses recursos seja o mais rápido possível, assunto que vem sendo discutido há algum tempo sabendo da importância do setor produtivo.”
Conforme a Seapi, são cerca de R$ 20 milhões no Fundoleite. “O processo de liberação dos recursos do Fundoleite tem evoluído, mas há observâncias administrativas e jurídicas que precisam ser superadas. Igualmente questões desse tipo precisam ser observadas para a contratação da projeção do Valor de Referência do Leite, que está tramitando para a realização de procedimento licitatório junto à Celic.”
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