Da mesma forma que a Telecom anunciou esta semana a busca de fundos para financiar seu plano de expansão, a Arcor, maior produtora de doces da América Latina, também está contraindo dívidas no mercado de capitais para alavancar o plano de negócios que pretende implementar nos próximos anos.
O grupo sediado em Córdoba, de propriedade da família Pagani, é a principal empresa de alimentos da Argentina; o maior exportador de doces da Argentina, Chile e Peru e a empresa mais importante da região em termos de capacidade de produção, vendas e desenvolvimento de marcas.
Possui 49 plantas industriais em todo o mundo; mais de 20.000 funcionários; é a maior produtora mundial de balas duras e é também uma das mais importantes empresas de soluções de embalagem no Cone Sul, com plantas industriais na Argentina, Chile e Peru.
Repetição de problemas
No mesmo ano e quando Luis Pagani ainda era seu presidente, já que mais tarde se aposentou, a Arcor saiu em busca de fundos nos mercados para reforçar seus negócios no país e no exterior.
Naquela época, seu conselho de administração aprovou o lançamento de novas Obrigações Negociáveis (ON) a serem emitidas no futuro, no âmbito do programa global já autorizado, por um valor nominal de até US$ 1.200 milhões. A decisão foi tomada em 25 de abril do ano passado, durante uma reunião dos principais executivos da Arcor, que definiram o plano de buscar recursos nos mercados de capitais por meio desse tipo de títulos.
A decisão foi tomada com base na situação dos mercados de capitais, tanto locais quanto internacionais, o que tornou conveniente para a holding considerar a emissão de títulos com o objetivo de lançar várias Notas de Classe 19, Classe 20 e Classe 21 que poderiam ser instrumentadas em um ou mais suplementos de preço, com um valor nominal total a ser colocado que poderia chegar a até US$ 4.000 milhões, que poderia ser aumentado até US$ 22.000 milhões.
Naquela ocasião, foi explicado que os recursos seriam usados para comprar ativos no país, financiar seu programa de investimentos ou pagar parte de sua dívida, e serão denominados e pagos em pesos ou dólares, conforme determinado pelo conselho de administração. A data de vencimento desses títulos foi fixada em 12 meses a partir da data de emissão, ou seja, 25 de abril, com o acúmulo de juros sobre o principal pendente a uma taxa fixa e/ou variável.
De volta ao ringue
A última vez que a holding da família Pagani recorreu aos mercados de capitais foi em 19 de junho de 2017, quando recebeu fundos de US$ 150 milhões, a uma taxa de juros de 6% ao ano e um prazo de seis anos. Agora, ela está fazendo isso novamente, depois que a reunião do conselho realizada na última terça-feira, 4 de junho, definiu os principais detalhes, termos e condições das Notas Classe 23 que a holding está prestes a colocar.
De acordo com o que foi estabelecido na reunião presidida por Alfredo Pagani, o valor nominal total a ser colocado pode chegar a US$ 20.000 milhões, embora tenha a possibilidade de ser estendido até o valor disponível do programa ou o valor determinado pelos subdelegados nomeados para realizar o processo. As Notas poderão ser emitidas pelo valor nominal ou com desconto ou prêmio sobre seu valor nominal; serão diretas e incondicionais; terão uma data de vencimento de 12 meses a partir da data de emissão; acumularão juros sobre seu principal pendente a uma taxa fixa e/ou variável.
Além disso, os juros serão pagos trimestralmente, desde a data de emissão até a data de vencimento; a amortização será feita em um único pagamento na data de vencimento e a utilização dos recursos líquidos obtidos com a colocação será destinada a uma ou mais das finalidades estabelecidas no artigo 36 da Lei nº 23.576 e suas alterações. Ou seja, para investimentos em ativos físicos e bens de capital no país; aquisição de fundo de comércio local; integração de capital de giro ou refinanciamento de passivos.
Também para a integração de aportes de capital em empresas controladas ou coligadas; aquisição de ações e/ou financiamento da linha comercial de negócios, entre outras opções. Após uma breve troca de opiniões, o Conselho de Administração decidiu por unanimidade aprovar a proposta de Alfredo Pagani, que baseou seu pedido na situação atual dos mercados de capitais para considerar a emissão desses títulos, como seu irmão Luis já havia feito no ano passado.
As Notas serão colocadas no âmbito do programa global da Arcor para até u$s1.200 milhões, que foi autorizado pela Comissão Nacional de Valores Mobiliários (CNV) por meio da Resolução nº 16.439 de 25 de outubro de 2010, Resolução nº 17.849 de 30 de outubro de 2015, Resolução nº DI-2020-52-APN-GE#CNV de 5 de novembro de 2020 e Resolução nº DI-2022-31-APN-GE#CNV de 13 de junho de 2022.
Cenário complexo
O dinheiro arrecadado pela Arcor com essa colocação milionária de Notas no mercado de capitais se soma a um empréstimo obtido durante o primeiro trimestre deste ano por u$s40 milhões negociado com uma das principais instituições financeiras de crédito internacionais, como a Coöperative Rabobank U.A., uma instituição holandesa que opera como cooperativa e é especializada em serviços para a agricultura. Foi criada em 1972 para fornecer serviços financeiros, redes e informações sobre questões alimentares a produtores, consumidores e órgãos governamentais em nível internacional. Os fundos lhe permitem sobreviver a uma situação financeira difícil devido à queda nas vendas, à alta inflação e às restrições impostas pelo governo Kirchner.
Esses fatos são demonstrados por seu último balanço trimestral, no qual, embora tenha registrado um lucro líquido significativo de US$ 133.303 milhões em comparação com US$ 42.164 milhões no mesmo período do ano passado, seu lucro operacional caiu quase US$ 10 bilhões, de US$ 19.492 milhões nos primeiros três meses de 2023 para US$ 9.224 milhões agora. A empresa deve competir com sua estratégia de crescimento em um contexto econômico em que seus executivos devem considerar que haverá uma recuperação lenta, mas sustentada, do consumo, um reajuste significativo dos preços sob condições de livre mercado e uma inflação que deve começar a diminuir.
Desde o ano passado, a empresa é dirigida por Alfredo Pagani, já que seu irmão Luis decidiu se aposentar do negócio.
Os fundos que a Arcor recebeu desse banco também se destinam a financiar “capital de giro”, uma maneira simples de explicar que ela buscará expandir suas operações; adquirir novos equipamentos; lançar outras linhas de produção ou até mesmo analisar possibilidades de crescimento por meio de compras ou joint ventures com outros grupos multinacionais no exterior.
Gigante dos doces
Atualmente, e junto com suas subsidiárias, associadas e joint ventures, a Arcor constitui um grupo multinacional que produz uma ampla gama de alimentos de consumo de massa (doces, chocolates, biscoitos, alimentos, etc.) e produtos industriais (papel virgem e reciclado, papelão ondulado, impressão de filmes flexíveis, xarope de milho, ingredientes industriais e adoçantes de origem vegetal, etc.).
Está presente na Argentina, no Brasil, no Chile, no México, no Peru, em Angola e em vários outros países e atua nos setores de agronegócios e embalagens, além de ser a acionista majoritária da empresa de laticínios Mastellone.
É considerada a principal empresa de alimentos da Argentina, a maior produtora mundial de doces e a principal exportadora de doces da Argentina, Chile e Peru, constituindo-se em uma das principais empresas de biscoitos, alfajores e cereais de toda a região, juntamente com a Bagley Latinoamérica S.A. (empresa formada com o Grupo Danone, da qual a Arcor possui 51% do capital e da administração em sua totalidade).
É também o grupo argentino com o maior número de mercados abertos no mundo, produzindo três milhões de quilos de produtos por dia. Possui escritórios comerciais em quatro continentes, mais de 45 fábricas na América Latina e uma planta industrial em Angola, na África, empregando mais de 20.000 pessoas e exportando para mais de 100 países nos cinco continentes.
Mas, além de sua “estrutura robusta” e do fato de ser um dos maiores produtores de confeitos e alimentos do mundo, a Arcor ainda tem viva a lembrança das fortes quedas em seus resultados operacionais e lucros líquidos como consequência de medidas externas a seus planos de negócios aplicadas pelos sucessivos governos kirchneristas.