As últimas estatísticas publicadas pelo IBGE sobre a produção de leite no Brasil apresentam um quadro curioso. A grande maioria dos municípios do país tem alguma produção de leite.
Esse é um fato interessante, considerando que, em vários outros setores agrícolas brasileiros, como soja, café, laranja e cana-de-açúcar, para citar alguns, a concentração é clara, com poucos municípios apresentando produção nesses setores.
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Embora a produção de leite esteja dispersa por todo o território nacional, os dados sobre a produção de leite no Brasil em 2023 mostram que há um processo de concentração da produção de leite.
Podemos calcular a concentração da produção de leite em cada município do país como a razão entre a produção média de leite (litros/dia) e sua área (quilômetros quadrados do município).
Ao organizarmos os municípios brasileiros em ordem decrescente de densidade de produção, identificamos uma pequena fração do território nacional, com densidade igual ou superior a 78 litros/dia/km2 , que já representa metade do leite produzido em todo o país (Figura 1). ).
Figura 1 – Área de maior concentração de produção de leite no Brasil, 78 ou mais litros/dia/km2 , 2023.
Fonte: PPM adaptado pela Embrapa (2024).
Essa área de maior concentração da produção brasileira abrange importantes bacias leiteiras no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, bem como áreas importantes do estado de Goiás. Essa área é equivalente a apenas 291.000 quilômetros quadrados, ou seja, 3% da área territorial do país.
É interessante notar que a concentração espacial da produção brasileira está aumentando a cada ano. Entre 2013 e 2023, a contribuição da área com a maior concentração de produção para a quantidade total de leite produzido no país aumentou de 41% para 50%. Um aumento significativo de quase um ponto percentual por ano.
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A produção de leite no país só aumentou nessa área. Entre 2013 e 2023, a produção na área de menor concentração, ou 97% do território nacional, diminuiu de 55,2 para 48,0 milhões de litros/dia. Por outro lado, a área de maior concentração apresentou um aumento de 38,6 para 48,9 milhões de litros/dia em apenas dez anos, em contraste com a produção total brasileira, que pouco se alterou nesses dez anos.
Durante esse período, o número de vacas ordenhadas no país diminuiu de 23,0 para 15,7 milhões de cabeças. Na área com maior concentração de produção, esse número também caiu de 5,6 para 4,6 milhões, uma queda notável considerando o aumento de 27% na produção nessa região em dez anos.
Nessas regiões mais dinâmicas , há um aumento na produção e uma redução no número de animais, refletindo a crescente especialização na pecuária leiteira (Tabela 1).
Tabela 1 – Área, produção e produtividade da pecuária leiteira no Brasil, em áreas de menor e maior densidade de produção, 2013-2023.
Fonte: PPM adaptado pela Embrapa (2024).
A concentração espacial da produção também coincide com a concentração do processo de inovação tecnológica na produção leiteira.
A produtividade na região de maior concentração da produção evoluiu mais rapidamente do que a outra área e atingiu um valor significativamente maior do que a média nacional: 3.849 litros/vaca/dia em 2023, em comparação com 2.264 litros/vaca/dia no Brasil no mesmo ano. É o Brasil cuja produtividade já se aproxima da observada na Nova Zelândia, importante produtor e exportador de produtos lácteos no contexto global.
É visível o processo de concentração espacial nos processos de produção e inovação tecnológica na pecuária leiteira. Esse é um movimento importante e necessário para reduzir os custos de transporte e melhorar a oferta de bens e serviços necessários à maior competitividade da cadeia leiteira brasileira no mundo.
A pequena fração de 3% do território nacional, que já produz metade do leite brasileiro, mostra que existem polos dinâmicos de produção leiteira que devem ser mais conhecidos, estimulados e cujas experiências e trajetórias podem ajudar o agronegócio do leite a trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável e da competitividade.