A Nestlé quer tornar o Brasil um exemplo na questão da sustentabilidade.
Brasil
Foto: Divulgação Nestlé
A gigante global de alimentos quer zerar as emissões de gases de efeito estufa em 2025 e o Brasil é visto como essencial para contribuir nesse processo, segundo Laurent Freixe, executivo da Nestlé para América Latina.

A empresa anunciou recentemente que pretende investir mais de R$ 6 bilhões no País até o fim de 2025.

Em entrevista exclusiva ao Broadcast durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai, Freixe afirmou que o Brasil dispõe de uma série de fatores para isso. Um deles é o fato de os produtores rurais serem grandes – maiores que em outros países da América Latina e da África -, o que ajuda a dar escala para as inovações, ganhos de produtividade com tecnologia e eficiência energética. “O Brasil é muito ativo em projetos net zero”, disse Freixe.

O executivo francês afirma que os produtores que avançaram na direção de uma agricultura mais sustentável conseguiram reduzir, em média, 8% os custos operacionais e aumentar em 4% a lucratividade. O Brasil é o maior fornecedor de café para a Nestlé e também fornece cacau, soja e leite. No País, tem uma rede com 400 produtores de cacau e 1.500, de café. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Por que a Nestlé decidiu participar da CO28?

O tema da sustentabilidade é globalmente bastante critico para a Nestlé. Temos o compromisso de nos tornarmos carbono neutro em 2025, que é praticamente ‘amanhã’. Por conta disso, fazemos parte do World Business Council for Sustainable Development [WBCSD] e presentes na COP. A presidência da COP28 fez uma declaração sobre agricultura sustentável e sistemas alimentares resilientes, que são muito importantes para a meta global de ser net zero. E nós apoiamos essa declaração.

Das cadeias produtivas – cacau, café, leite -, qual é a mais desafiadora para a redução das emissões?

A cadeia do leite. Aqui está o maior impacto. Globalmente, na Nestlé, mais de 70% das emissões vêm da atividade agropecuária. E o leite, individualmente, responde por 50%.

O Brasil pode se transformar em uma referência na Nestlé nesse esforço de zerar as emissões nas diferentes cadeiras produtivas?

Nosso objetivo é gerar impacto positivo em todos os países em que operamos. Mas é verdade que o Brasil é o terceiro maior mercado da Nestlé no mundo. Logicamente, está entre os maiores emissores de gases de efeito estufa [entre os países em que a empresa atua]. Então se queremos uma mudança é preciso haver mudanças nos Estados Unidos, na China, no Brasil, na Europa. Então, o Brasil está no topo da agenda. E a equipe brasileira está muito engajada com o setor agropecuário e os parceiros para conquistar nossos objetivos e construir sistemas alimentares resilientes. Em muitas áreas, o Brasil está muito avançado, é muito inovador.

O País tem vantagens comparativas?

Uma vantagem é que as fazendas são maiores. Então é mais fácil evoluir nas parcerias porque conseguimos escalar. É por isso que o Brasil é tão importante. Um dado interessante é que as fazendas que adotaram práticas regenerativas conseguiram reduzir os custos operacionais em 8% e aumentaram a lucratividade em 4%. Por quê? Porque eles usam menos pesticidas, menos fertilizantes, o solo fica mais resiliente. Isso é uma confirmação de que a agricultura regenerativa é boa para o planeta mas também é boa para os produtores. O ponto-chave é fazer a transição. É um processo de mudança.

A Nestlé tem um departamento técnico para apoiar essa transição?

Sim. Globalmente temos 4.500 agrônomos trabalhando com os produtores. Parte disso, está no Brasil. O País é muito relevante por alguns motivos. Tem o ecossistema mais precioso do mundo, que é a Amazônia. É um grande produtor agrícola. É um grande mercado consumidor também. Para a Nestlé, é o terceiro maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.

Então é um grande fornecedor de ingredientes, mas também um grande consumidor.

Sim. E um grande polo manufatureiro e exportador para a Nestlé. Exportamos café, cacau, laticínios. E também é um país importante quando falamos de capital humano. O Brasil oferece um bom ecossistema para os negócios: capital humano, recursos naturais, escala, bons parceiros. Os produtores são grandes ao contrário do que vemos em países da África e no resto da América Latina. Ou seja, há condições muito favoráveis para essa transformação. Por isso, o Brasil é prioritário para a questão da sustentabilidade. Uma das áreas em que o País é destaque é a digitalização do processo de produção, o que resulta em maior transparência do início ao fim. Isso ajuda a melhorar a produtividade, reduz os resíduos, promove a circularidade [ao longo de todo o ciclo de produção]. Algumas das nossas melhores fábricas estão no Brasil. Queremos continuar investindo nisso para criar sistemas alimentares sustentáveis e resilientes. Queremos que o Brasil seja exemplar, seja um “farol” nesse processo.

Como a Nestlé tem trabalhado para reduzir o plástico das embalagens?

O plástico é um problema se não é reutilizado ou reciclado. Nosso primeiro esforço é reduzir o tamanho da embalagem ao mínimo necessário. Estamos fazendo isso em todas as linhas de produtos. E estamos trabalhando para ter todas as nossas embalagens recicláveis ou reutilizáveis. Temos vários tipos de intervenção, desde a educação do consumidor e o apoio ao trabalho de catadores para que nenhuma embalagem vá parar no meio ambiente, em aterros.

Sobre embalagens, a empresa firmou alguma meta?

Sim. Queremos 100% das nossas embalagens reutilizáveis ou recicláveis em 2025. Estamos no caminho disso [segundo a assessoria, o porcentual no Brasil é de 98%].

Ao mencionar ‘reutilizável’, o senhor fala em logística reversa, como no caso das cápsulas da Nespresso que o consumidor pode devolver na loja?

Não exatamente. É o modelo antigo, em que a empresa coleta o recipiente, reintegra no sistema de produção, utilizando para envasar novamente o produto e retornando para o mercado. Essa é uma parte da solução para a questão das embalagens. Não somos muito grandes nisso. Ainda não existe no Brasil. Chamamos de iniciativa Loop.

Onde existe essa iniciativa?

Nos Estados Unidos e na França, de forma mais relevante. É um processo custoso e também complicado porque exige mudança de hábito do consumidor. Na França, o cliente compra o produto e a emgalagem [uma lata de metal padronizado para diferentes produtos, como cereal ou achocolatado], pela qual ele paga um valor. Ao consumir tudo, ele devolve a embalagem, que é higienizada e reutilizada.

 

 

 

 

 

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Consumidores brasileiros têm se surpreendido com a alteração do nome do queijo nas embalagens. Essa mudança foi definida em um acordo entre União Europeia e Mercosul.

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