Na avaliação do secretário, um tratado com o Mercosul pode ser importante não apenas para o intercâmbio comercial, mas como mecanismo de proteção e de incentivo aos investidores canadenses. Ele lembra que empresas como a Brookfield, na área de infraestrutura, e fundos de pensão locais, sócios em parques de energia eólica no Brasil e participantes do consórcio vitorioso na privatização da estatal paulista Cesp, tornaram-se grandes investidores no Brasil recentemente.
Segundo ele, tratados de livre-comércio funcionam também como um atestado de boas práticas contra dúvidas legais ou regulatórias. “Um acordo, com o apoio das nossas autoridades, oferece confiança e segurança aos investidores”, disse ao Valor.
Em entrevista na semana passada, quando teve reuniões com os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Osmar Terra (Cidadania), Alghabra fez questão de ressaltar que o Canadá não segue uma lógica mercantilista em suas tratativas com outros países ou blocos. “Muitos pensam em negociações comerciais como um jogo de soma zero. Para nós, acordos de livre-comércio não são assim. Eles aumentam o tamanho do bolo e criam oportunidades que, do contrário, simplesmente não existiriam na nossa economia e na dos nossos parceiros. O resultado será sempre maior que a soma de cada economia individualmente”, pontuou.
Em seu país, conforme Alghabra, um em cada seis empregos depende do comércio internacional. Ele gosta de lembrar que o Canadá é o único integrante do G-7 que tem tratados comerciais com todos os demais membros do grupo. Além do Nafta, em vigência desde 1994 e revisado no ano passado por iniciativa dos Estados Unidos, novos acordos foram alcançados com a União Europeia (CETA) e com o Japão (parte do CTPPP) nos últimos meses.
Da renegociação do Nafta, área de livre-comércio com Estados Unidos e México, uma das lições aprendidas pelo governo canadense no relacionamento com a Casa Branca de Donald Trump é a de “não negociar em público”.
Mercosul e Canadá negociam desde o primeiro trimestre de 2018 e já trocaram ofertas de acesso aos seus mercados – uma das etapas cruciais das discussões. A próxima rodada negociadora está marcada para março, em Ottawa.
Pelo sistema canadense, o primeiro-ministro Justin Trudeau designa congressistas de sua coalizão governista para apoiar o trabalho dos ministérios e no âmbito legislativo em 39 áreas diferentes. Alghabra, secretário parlamentar de comércio internacional, tem origem síria e nasceu na Arábia Saudita. Do Partido Liberal (centro-esquerda), ele foi eleito pelo distrito de Mississauga (na região de Ontario).
Diplomático, ele contemporiza sobre eventuais diferenças com o governo Bolsonaro e diz que campanhas eleitorais sempre são intensas e acentuam algumas posições. “Estamos ansiosos por uma relação franca e construtiva com o novo governo brasileiro. É assim que amigos se tratam.”