O preço do leite pago ao produtor em junho pode ser um pouco superior a 5% sobre o de maio, que foi de R$ 2,0364/litro (“Média Brasil”). É o que indicam pesquisas que estão sendo realizadas pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, de acordo com o Boletim do Leite de Junho, divulgado nesta quinta-feira (17).
“No entanto, a valorização do leite no campo não significa rentabilidade para o produtor, tampouco demanda aquecida dos lácteos: o cenário que se desenha é de bastante dificuldade para o setor, com margens espremidas tanto no segmento produtivo quanto industrial”, alerta a Equipe Leite do Cepea.
Os gastos do pecuarista para produzir leite também aumentaram no mês passado. “Os Custos Operacionais Efetivos (COE) da pecuária leiteira subiram 2,71% em maio na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP), acumulando avanço expressivo de 10,94% em 2021.”
De acordo com o Cepea, novamente, o insumo que mais pesou no bolso do produtor foi o concentrado, que se valorizou 4,36% em maio e 11,94% no ano, também na “média Brasil”. Esse cenário é resultado dos elevados preços da soja e do milho.
Leia, abaixo, as análises de Natália Grigol e Caio Augusto Monteiro, da Equipe Leite do Cepea, sobre o mercado de leite e os custos de produção do setor:
Baixa oferta e custos em alta elevam as cotações ao produtor
Natália Grigol/Cepea
“A oferta de leite segue limitada no campo, devido à seca em importantes bacias leiteiras e ao aumento expressivo dos custos de produção. Em consequência do menor volume disponível, indústrias seguiram competindo pela compra de matéria-prima em maio – o que deve elevar, pelo terceiro mês consecutivo, o valor no campo a ser recebido pelo produtor em junho. Pesquisas em andamento, realizadas pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, indicam que a elevação no preço do leite pago em junho pode ser de pouco mais de 5% sobre a de maio, que foi de R$ 2,0364/litro (“Média Brasil”).
A média de janeiro a maio de 2021 está 33,4% acima da registrada no mesmo período do ano passado, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de maio/21). No entanto, a valorização do leite no campo não significa rentabilidade para o produtor, tampouco demanda aquecida dos lácteos: o cenário que se desenha é de bastante dificuldade para o setor, com margens espremidas tanto no segmento produtivo quanto industrial.
Sazonalmente, durante o outono e inverno, o menor volume de chuvas prejudica a qualidade das pastagens. Entretanto, neste ano, a seca tem sido mais intensa, atingindo com gravidade importantes bacias leiteiras do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país e prejudicando a alimentação volumosa do rebanho. Sobretudo neste período do ano, a alimentação concentrada é importante para evitar quedas substanciais nos volumes de produção de leite. Contudo, a expressiva elevação dos preços do concentrado tem dificultado os investimentos na atividade. Pesquisas do Cepea mostram perda substancial na margem do produtor nos últimos meses, em decorrência do aumento dos custos de produção.
As indústrias, por sua vez, estiveram competindo ainda mais pela compra de matéria-prima, para tentar manter suas posições no mercado lácteo.
Em maio, as negociações de leite spot estiveram aquecidas, e o preço médio em Minas Gerais saltou de R$ 2,19/litro, na primeira quinzena do mês, para R$ 2,56/litro na segunda quinzena (alta de 16,5%). Vale lembrar que, na segunda metade de abril, o preço médio era de R$ 2,04/litro.
Com a valorização da matéria-prima e com os estoques de lácteos enxutos, os preços dos derivados também se elevaram em maio. No entanto, as negociações seguiram limitadas, já que as cotações dos lácteos já estão em patamares altos e a demanda, fragilizada, por conta do menor poder de compra de grande parcela da população brasileira.
De abril de 2020 para abril de 2021, houve aumento de 38% no peso que o valor da matéria-prima representou no preço final do longa vida, de 22% no caso da muçarela e de 12% para o leite em pó. Isso significa que a indústria, apesar de impor aumentos importantes nos valores finais dos lácteos, não têm conseguido fazer o repasse completo dos custos elevados no campo, de modo que suas margens também estão sendo pressionadas.”
Custos sobem 11% em 2021 e pressionam ainda mais as margens da atividade
Caio Augusto Monteiro/Cepea
“Os Custos Operacionais Efetivos (COE) da pecuária leiteira subiram 2,71% em maio na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP), acumulando avanço expressivo de 10,94% em 2021.
Dentre os estados pesquisados, Minas Gerais foi o que registrou o maior aumento no COE em maio, de 3,8%, seguido pelo Paraná (2,15%) e São Paulo (1,73%).
Apesar dos recentes aumentos nos preços do leite, o contínuo avanço nos custos de produção neste ano exige muita atenção de produtores. Ressalta-se que muitos já estão com as margens apertadas, e os pecuaristas que não controlarem os números de sua atividade estão ainda mais vulneráveis.
Novamente, o insumo que mais pesou no bolso do produtor foi o concentrado, que se valorizou 4,36% em maio e 11,94% no ano, também na “média Brasil”. Esse cenário é resultado dos elevados preços da soja e do milho. Em maio, o Indicador da soja ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá (PR) teve média de R$ 176,39/saca de 60 kg, ligeira queda de 0,4% sobre a de abril/21.
Já o Indicador do milho ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP) teve média de R$ 100,72/saca, com alta de 3,67%em relaçãoà de abril/21.
Diante disso,o poder de compra do produto leiteiro frente ao milho caiu pelo quinto mês consecutivo. Em maio, foram necessários 49,46 litros de leite para a aquisição de uma saca de 60 kg (base Campinas -SP), contra 48,97 litros no mês anterior.
A suplementação mineral foi o segundo grupo que mais influenciou o aumento nos custos das dietas em maio. Os estados que apresentaram as maiores elevações nos gastos com este insumo no mês foram Minas Gerais (4,93%), Santa Catarina (3,67%) e Bahia (3,41%). No acumulado de 2021, os suplementos minerais se valorizaram 9,95% na “média Brasil”. Adubos e corretivos também se mantêm em alta ao longo de 2021, com elevação de 24% de janeiro a maio para a “média Brasil”.”