Desde o início do mês, cerca de 40% do setor leiteiro está com as atividades paralisadas em protesto pelo baixo preço de venda do litro. De acordo com as federações do setor, crise do leite pode gerar grande impacto na economia de Rondônia.
Na quinta-feira (23), a Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO) aceitou o pedido de criar a mesa de negociações da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (Fetagro) e Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Rondônia (Faperon), e aprovou projetos que asseguram valor de referência para o leite. A medida foi tomada a fim de resolver a crise do leite no estado.
Desde o início do mês, cerca de 40% do setor leiteiro estão com as atividades paralisadas em protesto pelo baixo preço de venda por litro. Diante disso, foi realizada uma sessão extraordinária na quinta-feira (23). Durante a sessão, foram aprovados projetos de lei encaminhados pelo Executivo que estabelecem garantias para o produtor de leite, como o valor de referência em R$ 1,35 por litro.
De acordo com a ALE-RO, nas últimas sessões, diversos deputados se pronunciaram sobre os baixos valores pagos pelos laticínios e pediram ao Executivo o estabelecimento de normas para assegurar uma política de preço. Entre as alterações feitas pelos parlamentares, o valor da multa em caso do descumprimento da lei deve ser convertido em investimentos no fundo do Proleite.
Tendo em vista a situação financeira das indústrias do ramo e dos produtores de leite, bem como o risco à economia dos municípios produtores, as federações do setor pediram a criação da mesa de negociação com representantes de todas empresas que atuam no setor de lácteos, representantes das organizações de produtores e do Governo do Estado. Pedido que foi aceito pela ALE-RO.
O objetivo da discussão, conforme as federações, é definir ações capazes de garantir o preço a ser pago aos produtores nos meses de crise.
“Estamos enfrentando uma forte paralisação na cadeia do leite. Um momento difícil. Mas, a partir de segunda-feira (26) vamos iniciar as rodadas de negociação de busca de entendimento e preços finais aos produtores de leite. Com presença de 4 representantes de laticínios, governo, ALE e Faperon/Fetagro”, explicou Hélio Dias, representante da Faperon.
Preços de referência
Diante da paralisação do setor leiteiro desde o início do mês, a Seagri propôs a criação dos “preços de referência”, valores divulgados mensalmente, que não são preços mínimos e nem valores que a indústria será obrigada a pagar, na prática, de acordo com a secretaria, serviria apenas como ponto de referência que a indústria poderá usar para estabelecer preço igual, maior ou menor. Aprovado na quinta (23) em R$ 1,35 por litro.
Conforme a Seagri, as variações no preço do produto entregue às indústrias de laticínios durante o mês de abril de 2021 são as seguintes:
- Fevereiro: R$ 1,2524;
- Março: R$ 1,2560.
Segundo a resolução do Conselho Paritário de Produtores e Indústrias de Leite (Conseleite), os valores de referência são para a matéria-prima do leite, posto no tanque de resfriamento. De acordo com o conselho, o frete de percurso não é descontado do produtor rural e inclui o valor do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), contribuição previdenciária obrigatória, de 1,5% que será descontado do produtor rural.
Além disso, o Conseleite informou outros parâmetros que são considerados pelo mercado para estabelecer o valor final do leite a ser pago ao produtor: fidelidade do produtor ao laticínio, distância da propriedade até o laticínio, qualidade da estrada de acesso a propriedade rural, temperatura do leite na entrega, capacidade dos tanques de resfriamento de leite da propriedade, tipos de ordenha, adicionais de mercado devido a oferta e procura pelo leite na região, sazonalidade da produção, condições sanitárias do rebanho e outros benefícios concedidos pelas indústrias.
O impasse
A crise no preço do leite em Rondônia sucedeu da queda brusca no preço pago aos produtores, que caiu cerca de R$0,60 por litro no último mês, sendo vendido por apenas R$1,20 em média aos produtores. Conforme a Fetagro e a Faperon, com esse baixo valor, até mesmo os custos de produção não conseguem ser mantidos.
Em consequência disso, no dia 6 de abril, produtores rurais pararam um caminhão em União Bandeirantes (RO), distrito de Porto Velho, que transportava leite até laticínios, em mobilização. Através do protesto, os produtores pediam o reajuste no valor médio do litro do leite. Na mobilização, cerca de 40% da classe parou de entregar o produto às indústrias, aderindo a paralisação e cerca de 10 mil litros de leite foram descartados na pista.
Pecuaristas protestam contra o baixo preço pago pelo leite em Rondônia — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Como resposta, no dia 15, a Seagri propôs criar um “preço de referência” para o leite de Rondônia, como tentativa de solucionar a crise do leite que se estabeleceu no estado. Conforme a proposta, os produtores não seriam obrigados a pagarem o valor referência, e ele serviria apenas de parâmetro para discussões sobre pagamento.
Ainda em protesto, no dia 19 de abril, três laticínios de Rondônia, sendo um em Urupá, outro de Mirante da Serra e o terceiro em Jaru, pararam de buscar leite junto às indústrias do ramo. Sem ter solucionado o problema, os produtores rurais continuavam a pedir reajuste no valor do litro do leite, que seguia custando a média de R$ 1,20 por litro, mas que eles recorriam por no mínimo R$ 1,60.
Então, na última terça-feira (20), a Seagri divulgou os novos preços de referência do produto. Mas como não atingia o valor mínimo pedido pelos laticínios, de acordo com o presidente da Comissão dos Produtores de Leite de Rondônia, Rui Barbosa de Souza, a paralisação iria continuar.
“A paralisação vai continuar. Nós temos nossa pauta e os laticínios não estão nem dialogando. Esse valor de referência, como se diz, é apenas valor de referência”, explicou Rui Barbosa.
Conforme as federações do setor, em um dia, são gerados a média de 1,6 milhões de litros de leite, o que envolve cerca de 28 mil produtores, o que mostra o grande impacto econômico que pode acontecer em Rondônia devido a paralisação.
Em busca de solucionar a crise, um ofício conjunto, entre Fetagro e Faperon, foi assinado pedindo a criação de uma mesa de discussão com o governador, para debater o assunto. Pedido que foi aceito pela ALE-RO na última quinta-feira (23).