A produção de leite no país carece de políticas públicas de longo prazo, que aumentem a previsibilidade do negócio, avalia Caio Rivetti, vice-presidente da Comissão do Leite da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg). Por incrível que pareça, a atual crise pode ter dado o empurrão que faltava para o segmento.
Segundo Rivetti, a forte queda dos preços no campo obrigou produtores rurais e representantes da indústria a sentarem para discutir o problema e traçar caminhos para interromper ciclos ruins cada vez mais frequentes.
“A volatilidade é intrínseca à atividade. Mas esta ocorreu em meio a um monte de coisas e problemas externos [ao setor]”, afirma Rivetti, que mantém 60 vacas em lactação, produzindo diariamente 900 litros, no município de Guaranésia. Ele fala com propriedade: desistiu da atividade em 2009 porque a conta não fechava, mas retornou em 2013.
Rivetti afirma que o setor ainda é desorganizado e desunido.
“O produtor vê a indústria como inimigo, mas quando ele bate na indústria, ela bate de volta. Não é bom para ninguém. A crise fez todo mundo sentar para encontrar uma solução conjunta”, diz.
Um dos pontos que precisa mudar é a previsibilidade dos preços ao produtor. “Ainda tem fazenda que só vai saber o preço do leite 60 dias depois de entregar. Existe na legislação a obrigação de os laticínios falarem o preço antes do início do mês. Mas, no Brasil, tem leis que pegam e outras que não”, afirma.
Rivetti fornece leite exclusivamente à Danone Brasil, que mantém os produtores informados sobre os preços com antecedência, além de fazer contratos de médio e longo prazo.
“Ano passado, quando o preço estava subindo, o produtor não queria fazer contrato. Agora, reclama que a indústria não quer. Eu [se eu fosse a indústria] também não iria querer”, afirma o produtor de leite.
Redução de produtores
O pecuarista Maurício Coelho, de Passos (MG), concorda que a relação do produtor com a indústria precisa avançar. “Boas empresas, dos dois lados, precisam ter visão de parceria de longo prazo. O setor ainda é desunido, e tem muito oportunismo. Produtor que não cria relacionamento e não entende que está ruim para todo mundo”, afirma.
Coelho diz que a crise deve enxugar o número de produtores no país, tirando do jogo principalmente aqueles que deixaram de investir por não acreditar na atividade. “Eles têm sistemas de produção desatualizados e não conseguem mais acompanhar”, afirma.
Segundo o produtor, vão sobrar apenas os produtores mais eficientes — e eficiência não é determinada, necessariamente, pelo tamanho da fazenda, afirma. Coelho tem 2 mil vacas em lactação, produzindo 50 mil litros por dia. A produção média, de 25 litros, supera em muito a média nacional, de 6 litros.
Diante da debandada de produtores, Coelho projeta uma queda na captação de leite, que pode provocar uma reação nos preços ao longo de toda a cadeia no próximo ano. “Crise não dura para sempre, e as consequências desta vão vir muito rápido”, afirma.
*O jornalista viajou a convite da Danone Brasil
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