A produção de leite na Serra, uma das principais regiões do Estado nesta atividade, é afetada pela estiagem. A estimativa do Escritório Regional da Emater/Ascar em Caxias do Sul é de que a redução na produção esteja em torno de 10% em média nos municípios da região.
O veterinário João da Luz, da Regional da Emater em Caxias, diz que o prejuízo é maior para quem usa o pasto como fonte de alimentação do gado, porque a pastagem não se desenvolveu devido à falta de chuva. Mas, segundo ele, a maior parte dos produtores da região faz a silagem com o uso do milho, o que reduz as perdas nesse momento. Porém, ele alerta que já há uma preocupação em relação aos próximos meses:
— Os produtores fazem planejamento para o ano todo. Esse ano, estão consumindo a silagem e mais do que deveria porque não tem pasto. Isso vai fazer com que no final do ano vá faltar silagem de milho. Na hora de repor a silagem, vai ter problema.
Por exemplo, agora já há propriedades rurais usando a silagem que seria destinada à alimentação no inverno. Com isso, faltará condições de manter o gado em outro momento.
Em Nova Bassano, município que é o principal produtor de leite da Serra, a preocupação é grande. O vice-prefeito João Paulo Maroso diz que os custos para a produção da bebida têm aumentado, o preço pago ao produtor está baixando e, agora, o cenário é agravado pela estiagem. Ele relata que como a produção de milho própria foi afetada em cerca de 90%, os leiteiros terão de comprar o grão de outras regiões e com preço elevado, aumentando ainda mais os custos. Além da dificuldade em garantir a alimentação, também os recursos hídricos estão escassos, com redução de água nos poços, açudes e pequenos córregos.
— Haverá perda na reprodução (do gado), porque não sendo de qualidade a alimentação, vai ter reflexo na reprodução e na produção de leite — explica.
É bom lembrar ainda que este é o terceiro ano de estiagem. Portanto, a alimentação do gado já estava prejudicada em sua quantidade e qualidade há pelo menos desde 2020.
Preocupação com o futuro
Para a cadeia produtiva de laticínios, as condições climáticas e de custos em elevação se somam ainda ao consumo abalado pela perda de renda da população. Com isso, a conta não está fechando para produtores e para a indústria. É o que diz o diretor Administrativo e Financeiro da Santa Clara, Alexandre Guerra. A estimativa é de redução de 10% a 15% na entrega de leite à cooperativa em relação ao ano passado, mas a estrutura montada continua a mesma. Com isso, afirma Guerra, o custo para o processamento do leite aumenta.
— Hoje, a indústria e o produtor estão pagando uma conta que não conseguem mais sustentar. Se faz necessário chegar ao consumidor. Tudo depende da lei da oferta e da procura. Por isso, a importância do consumo interno e do poder de compra dos nossos consumidores, que também tem que melhorar — comenta.
Na Piá, a redução na entrega de leite também está em torno de 10% na comparação com o mesmo período do ano passado. O presidente da cooperativa, Jeferson Smanioto, manifesta uma preocupação com a desistência da atividade leiteira:
— Começou bastante tumultuada a situação da estiagem, em 2022, considerando que a situação se agrava no momento da produção de volumoso (alimentação do gado). Por exemplo, milho para a silagem e outras culturas de pastagem. Tudo isso se agrava em função da deficiência hídrica. Considerando isso, que tem produtores que por consequência da estiagem desistindo da atividade.
Redução de 60% na produção
Em Criúva, no interior de Caxias do Sul, a família de Fátima Venz Araújo viu a produção de leite cair a menos da metade do esperado para esta época. Ela conta que a estimativa é de que as vacas poderiam produzir 100 litros de leite, nesta época, mas estão fornecendo apenas 40 litros.
— Não tem mais pasto, não tem mais silagem. A produção de milho deu muito pouco o ano passado por causa da cigarrinha (insetos que atacam lavouras) e da estiagem que deu também o ano passado.
De acordo com Fátima, a silagem pronta foi suficiente até outubro. Depois disso, não pode mais ser reposta. Para continuar a alimentar o gado, a família conseguiu a doação de bagaço de maçã em São Marcos. Na sexta-feira (14), com o auxílio da Secretaria Municipal da Agricultura, conseguiu transportar esse produto para garantir a alimentação das 25 vacas da em propriedade.