Um esquema envolvendo a possível prática dos crimes de apropriação indébita, estelionato e lavagem de dinheiro em prejuízo da Cosulati, tradicional cooperativa gaúcha de laticínios, começou a ser desarticulado, nesta sexta-feira (2), pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco – Núcleo Região Sul). O principal suspeito de comandar a fraude, calculada em mais de R$ 60 milhões, é o ex-diretor-presidente da Cosulatti, o produtor rural Arno Kopereck.
Durante a operação sobre os possíveis crimes contra a cooperativa de laticínios, com sede em Pelotas e milhares de associados espalhados por 45 municípios da Região Sul do RS, o Gaeco cumpriu cinco mandados de busca e apreensão em quatro endereços residenciais em Pelotas e um comercial em Capão do Leão.
Além disso, três dos quatro suspeitos de envolvimento no caso tiveram bloqueados imóveis que somam R$ 60,7 milhões, valor estimado do prejuízo causado. Os bloqueios foram pedidos à Justiça pelo Ministério Público do RS, que contou com o apoio da Brigada Militar durante a operação.
Criada na década de 1970, a Cosulati tem instalações industriais nos municípios de Capão do Leão, Morro Redondo e Canguçu. Hoje, a cooperativa tem uma estrutura reduzida e um pequeno quadro de funcionários.
Segundo o coordenador do Gaeco – Núcleo Região Sul, Rogério Meirelles Caldas, e o coordenador dos Gaecos, João Afonso Silva Beltrame, que conduzem a operação, a investigação teve início há três anos a partir de representações protocoladas no MPRS. Os promotores receberam farta documentação, que apontam possível apropriação de valores da cooperativa por Kopereck.
Endividamento
O ex-diretor-presidente ficou à frente da cooperativa até o início do processo de liquidação extrajudicial. Uma comissão criada para apurar as causas do desequilíbrio financeiro da empresa constou ter havido, ao longo dos 26 anos de sua gestão, progressivo quadro de endividamento que não era exposto aos milhares de cooperados. A situação levou a cooperativa à beira da ruína, com a suspensão das atividades de leite e de manteiga.
“Diversas análises técnicas elaboradas pelo Núcleo de Inteligência do Ministério Público (Nimp) confirmaram grande parte do afirmado nas representações. No mesmo sentido, o relato do auditor externo contratado pela cooperativa demonstra a utilização desta pelo ex-diretor-presidente para alavancar seus negócios pessoais. Tudo indica que efetivamente a cooperativa foi saqueada ano após ano, o que a levou ao quadro de autoliquidação, com um passivo praticamente impagável”, diz Caldas.
A investigação aponta que o ex-diretor deixou a cooperativa com prejuízo superior a R$ 60 milhões. No período, além de acumular dívidas, destinou valores da empresa para pagamentos de despesas particulares e de seus familiares, depósitos em sua conta bancária pessoal ou repassados a empreendimentos da família. Em um dos negócios que ele fazia entre a cooperativa e esses estabelecimentos do qual ele e seus parentes eram sócios foi constatado que, em 2015, a cooperativa pagou por 1.710 vacas da raça holandesa, mas só recebeu 816 animais.
“Nada era exposto aos milhares de cooperados, que não faziam ideia da real dimensão do prejuízo. É provável que tenha havido manipulação dos dados contábeis apresentados, inclusive com a conivência da auditoria externa então contratada. Tudo isso reforça a necessidade de tornar indisponíveis bens dos investigados, de modo a, precipuamente, ressarcir os prejuízos suportados pela cooperativa e os respectivos cooperados”, complementa Beltrame.