“A Instrução Normativa 51, no final década de 90, e as recentes instruções 76 e 77, criaram padrões de qualidade deste leite em relação à contagem de células somáticas e bacterianas”, conta Alfredo Correia.
Isso foi possível porque o produto é refrigerado ainda na propriedade rural.
“Este leite tem muito mais qualidade em características físico-químicas, por isso se conserva por mais tempo. Melhorou a qualidade da produção”, afirma o diretor do Sindileite.
Enquanto o leite de saquinho pasteurizado é submetido a uma temperatura entre 70 e 72 graus, o que inativa a maioria das bactérias, o ultra pasteurizado (UHT ou longa vida), é submetido a 139 graus.
As sete camadas da embalagem cartonada, também chamada de longa vida, o protegem dos impactos do meio ambiente, ampliando a conservação para até 150 dias. Já o leite pasteurizado de saquinho, conservado em temperatura de até 7 graus, pode durar até dez dias.
“Talvez as indústrias não invistam mais neste leite de saquinho pela logística de distribuição. O caminhão que leva o leite pasteurizado tem de ser refrigerado, o que eleva o custo. A embalagem saquinho é mais barata, mas o custo de distribuição dela é mais caro”, adverte Correia.
Prós e contras
Para o produtor de leite José Renato Chiari, que produz 17 mil litros diários na região de Morrinhos, dois pontos importantes que podem incentivar o maior consumo do leite de saquinho precisam ser considerados. O primeiro é o maior custo das embalagens estilo caixinha ou das garrafas plásticas, o que poderia baixar os preços para o consumidor. Outro ponto é o maior apelo ecológico, pois os saquinhos têm mais facilidade de reciclagem.
Por outro lado, ele lembra que o leite UHT tem sido uma boa alternativa para o Brasil, um país continental, onde nem sempre o consumidor está perto das áreas produtoras e que tem problemas de logística.
À favor do leite de saquinho pesa o fato de as pessoas estarem mais preocupadas com a pureza dos produtos e o leite pasteurizado pode ter um padrão superior de sabor. “Os americanos usam muito o leite de galão e é um produto de alta qualidade pelo cuidado no manejo”, ressalta Chiari. Mas a logística é um ponto delicado no Brasil, pois é preciso ter uma boa estrutura de transporte refrigerado e de refrigeração no comércio.
“Temos um produto de qualidade, mas já ouvimos dizer que algumas padarias desligam a energia à noite para economizar. É preciso logística e refrigeração eficientes”, alerta. Chiari diz que o leite pasteurizado também tem um público específico, que exige um produto diferenciado: “Pelo tamanho do Brasil, UHT ainda é o principal”.
Vinicius Correia, presidente da Comissão de Pecuária Leiteira da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), lembra que alguns laticínios já optaram por envasar até o leite UHT em saquinho. A grande vantagem é o menor custo, pois cada caixinha custa cerca de R$ 0,80 e a tampinha sai por R$ 0,20.
“Considerando um leite vendido por R$ 5, 20% do preço é embalagem”, destaca. Para ele, tudo que pode baixar custo e aumentar a margem da indústria, contribui para melhorar os ganhos do produtor, que hoje recebe entre R$ 2 a 2,60 pelo litro.
Sistemas de captação e pasteurização mais eficientes, com o resfriamento na propriedade, também pesam a favor do saquinho, mas é preciso considerar o custo com refrigeração. “Praticamente não pegamos mais no leite. Ele sai da ordenha e cai num tanque de resfriamento, sem contato humano, o que reduziu muito a proliferação de bactérias”, ressalta.
Outro ponto favorável foi a chegada dos mercados de grandes redes aos bairros, o que facilitou a compra diária do leite refrigerado, antes restrita apenas às padarias. “O produto também ganhou uma pegada ambiental e pode ser nicho de mercado. O leite de caixinha não vai acabar, mas a adesão ao saquinho deve aumentar”, prevê.
Para o presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Sirlei do Couto, uma ampliação do consumo de leite refrigerado exigiria mais gastos com refrigeração e espaços adequados. Além disso, o leite de saquinho é mais difícil de trabalhar porque a embalagem pode furar.
Mas o preço deve ser um incentivo para o aumento da procura. “Observamos que, de janeiro pra cá, o preço do leite de caixinha teve aumento de 5% a 10%, dependendo da marca, e o de saquinho continua estável,”, informa.