O mercado de leite vive um período de forte pressão no Paraná, mas histórias como a da família Pinheiro da Cruz mostram que, mesmo em um cenário adverso, a produção familiar ainda encontra caminhos para crescer.
Dados narrados por técnicos do setor reforçam que o estado permanece como um pilar decisivo da pecuária leiteira nacional: em 2024, segundo levantamentos oficiais, os 399 municípios paranaenses produziram 4,6 bilhões de litros, um avanço de 1,7% sobre o ano anterior. Ainda assim, 2025 começou desafiando a resiliência dos produtores.
O impacto mais sentido no campo veio da queda no preço pago ao produtor. Informações divulgadas pelo Conseleite mostram um recuo contínuo: de R$ 2,41 por litro em julho para R$ 2,12 em outubro. Esse valor está longe de cobrir o custo médio estimado de R$ 2,62 por litro, segundo o próprio Conselho. Fontes ouvidas pelo setor relatam que as indústrias nacionais intensificaram a importação de queijo e leite em pó, sobretudo de países do Mercosul, para reidratar e abastecer o mercado interno, deslocando o leite fresco do produtor brasileiro. Somado à baixa capacidade de compra das famílias, o movimento pressiona ainda mais quem vive da atividade.
Mas, apesar das adversidades, o produtor paranaense costuma reagir. E poucas trajetórias ilustram tão bem essa força quanto a de Alan Pinheiro da Cruz, morador de Lupionópolis, no Norte do Paraná, e vencedor do Prêmio Orgulho da Terra 2025 na categoria Bovinocultura de Leite. Sua caminhada no setor começou em 2016, com apenas uma novilha e cerca de 15 litros diários — resultado de um arrendamento que terminou de forma frustrante. Sem desistir, Alan comprou um terreno de nove hectares e seguiu produzindo com a única vaca que lhe restou.
Nos anos seguintes, a família enfrentou um temporal que destruiu parte da casa e a mangueira dos animais. Em vez de interromper a produção, Alan reconstruiu tudo enquanto ampliava o rebanho. Hoje, a Estância Nossa Senhora Aparecida soma 33 cabeças, uma ordenha de cerca de 300 litros ao dia e uma moderna casa de ordenha, concluída neste ano. A propriedade também recebeu melhorias estruturais, como área sombreada para conforto térmico e uma nova residência em fase final de obra.
As conquistas são fruto de um trabalho familiar intenso. O casal e os três filhos atuam em conjunto, cada um contribuindo para o crescimento da atividade. O filho mais velho, de 22 anos, especializou-se em inseminação artificial e lidera o programa de reprodução e melhoramento genético. O jovem de 17 anos, premiado como aluno destaque na cidade, participa das rotinas ao lado da mãe. Já o caçula, de 10 anos, acompanha tudo com curiosidade — um sinal de que a cultura do leite já marca a próxima geração.
A família mira novos passos. Entre os projetos, estão a implantação da ordenha canalizada, que substituirá o manejo manual, e a construção de um barracão para melhor manejo dos animais. Segundo técnicos regionais, Alan faz uso consistente de práticas sustentáveis, como a cobertura de solo entre as safras do milho para silagem e o plantio direto, garantindo alimentação ao rebanho e reduzindo custos. Esse conjunto de estratégias transformou a propriedade em referência: a Estância é frequentemente palco de reuniões técnicas e dias de campo promovidos pelo IDR-Paraná.
Em entrevista, Alan destaca que seu maior objetivo é manter a família unida no campo e garantir que todos possam viver do leite. Ele reconhece os desafios impostos pelo mercado, mas reforça a importância da atividade para a renda das pequenas propriedades. Para ele, o Prêmio Orgulho da Terra representa mais que uma homenagem: funciona como um impulso emocional e profissional para seguir investindo.
Criado em 2021 pelo Grupo Ric, por meio do Ric Rural Hub, o prêmio tem apoio do IDR-Paraná e do Sistema Ocepar. A edição de 2025 reuniu 51 produtores em 17 categorias, avaliados por representantes de FAEP, FETAEP, ADAPAR e SEAB. A cerimônia acontecerá em 11 de novembro, em Curitiba.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Ric.com.br






