A captação de leite recuou no Brasil no ano passado, em grande parte por causa da estiagem no Sul do país, mas uma região do Agreste nordestino, que historicamente enfrenta problemas com a falta de chuvas, foi na direção oposta.
De todas as regiões do país, apenas o Nordeste ampliou a captação formal de leite em 2022
De todas as regiões do país, apenas o Nordeste ampliou a captação formal de leite em 2022
As fazendas leiteiras de Sergipe, Alagoas e Pernambuco – uma área identificada por pesquisadores como “Sealpe” – captaram perto de 750 milhões de litros em 2022, um volume quase 15% maior que o do ano anterior.

leite

 

O leite que essa parte do Agreste – faixa entre o Sertão e a Zona da Mata – entregou é quase a metade do volume de todo o Nordeste, onde a captação aumentou 4% no ano passado.

De todas as regiões do país, apenas o Nordeste ampliou a captação formal de leite em 2022, segundo um levantamento elaborado por Merinaldo Bezerra, consultor da Prestige Agronegócios, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Bezerra percorre a região como parte de seu trabalho para fazendas e laticínios. Com MBA em agro pela Esalq/USP, ele projeta que a produção de leite vai crescer 3% no Nordeste neste ano. No país, o avanço deverá ser mais modesto, em torno de 1,2%.

Sul e Sudeste, com 9 bilhões de litros anuais cada uma, ainda lideram a produção da matéria-prima no país. Mas, no ano passado, os volumes nessas regiões caíram 2,7% e 6,3%, respectivamente, pressionados pelo aumento de custos e pelo clima desfavorável.

O avanço da captação de leite no Agreste deve-se a uma série de fatores. Um dos mais citados é o desenvolvimento da produção da palma forrageira, um cacto que retém água e serve para alimentar o rebanho.

Geraldo Eugênio, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco e diretor da Embrapa Nacional entre 2005 e 2011, diz que o cultivo da palma, que começou em meados dos anos 1990, foi determinante para “segurar” os níveis da produção de leite no mais recente (e longo) ciclo de seca na região, entre 2012 e 2018.

Embora não resolva 100% da necessidade nutricional dos animais, a planta é “palatável” às vacas leiteiras, explica Eugênio. Ele acrescenta que, ainda que a região seja seca, ela recebe um volume de chuvas superior ao de outras área de clima semiárido mundo afora, como Espanha e Chile. “A água que chega ali não é pouca. São 700 litros por metro quadrado”, afirma o professor. “A questão é a eficiência no uso”.

Os custos mais baixos que os de outros polos de produção também são vantagens comparativas: a palma é mais barata que o milho, base da alimentação dos animais em outras partes do país, e o preço da terra também é inferior ao de outras regiões. No Sealpe, especificamente, há agricultores de todos os portes, mas a maior parte é de pequenas fazendas.

Outro elemento fundamental para o aumento da captação de leite no Nordeste foi a melhoria genética do rebanho, que reúne as raças holandesa e girolando, e a retenção de fêmeas. Os últimos três anos de chuvas ajudaram muito.

O clima, no entanto, é instável, o que fez com que laticínios que tentaram se instalar no Nordeste vivessem experiências ruins na busca por matéria-prima. Foi o caso da Parmalat no passado, lembrou o CEO da Alvoar Lácteos, Bruno Girão. A Alvoar, que é o quinto maior laticínio do país, nasceu da fusão entre a cearense Betânia, uma líder no Nordeste, e a mineira Embaré.

“As chuvas ajudaram no avanço recente, mas, historicamente, os aumentos de produção no Nordeste são voos de galinha: a produção cresce, cresce, e a seca dizima”, conta ele. “E, então, demora mais uns quatro ou cinco anos para ela voltar ao patamar anterior”.

Para Girão, a continuidade do aumento de produção em um ritmo mais estável daqui para a frente ainda é uma incógnita. “É a pergunta de um milhão de dólares”, diz. Mas, apesar dos desafios, a Betânia nunca ficou sem leite – e capta “99,9%” do volume de matéria-prima em solo nordestino.

 

Leia também: Leite, o alimento do mundo: Consumo, produção e comercialização? – eDairyNews-BR

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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