O preço do leite ao produtor registrou a quinta alta consecutiva em maio, chegando a R$ 1,5175/litro na “Média Brasil” líquida, aumento de 2 centavos (ou de 1,7%) frente a abril, segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Apesar da elevação das cotações do produto, pecuaristas do grupo Construindo Leite Brasil alertam que os custos de produção voltaram a subir nos últimos dias, o que aponta um cenário pouco animador.
Em nota, o Cepea informa que a média de maio foi 15,6% superior à do mesmo mês de 2018, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de abril/19). Desde o início do ano, os preços do leite ao produtor já subiram 20,4%.
“É importante observar que, ao longo de 2019, os valores do leite no campo têm atingido os maiores patamares da série do Cepea para os respectivos meses”, ressalta a nota. “O preço médio de janeiro a maio de 2019 supera em 25,3% o do mesmo período do ano passado, em termos reais.”
Ainda de acordo com o Cepea, a expressiva valorização do leite ao produtor está atrelada à oferta limitada no campo e à maior competição entre indústrias para garantir a compra de matéria-prima. O Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) caiu 0,7% de março para abril e já acumula recuo de 9,8% desde o início do ano.
Para o pecuarista, conforme a nota, o momento é de aumento das margens. Segundo pesquisas do Cepea, o aumento do Custo Operacional Efetivo (COE), que considera os desembolsos correntes das propriedades leiteiras, foi de apenas 0,57% no acumulado da “média Brasil” de janeiro a abril, muito abaixo da alta verificada na receita.
Matéria-prima
No entanto, os laticínios enfrentam dificuldades em repassar a alta da matéria-prima para o consumidor. As médias de preços do leite UHT e do queijo muçarela de janeiro a maio deste ano estão, respectivamente, 7,5% e 9,8% superiores às do mesmo período de 2018, em termos reais.
Desde o início do ano, a cotação média da muçarela negociada entre indústrias e atacado do estado de São Paulo teve alta acumulada de apenas 3%, mas atingiu patamares muito acima dos verificados em anos anteriores. Já o leite UHT se valorizou em 20,8% no acumulado de 2019, mas os patamares de preços continuam próximos dos negociados em 2018.
No atual contexto de estagnação econômica e de consumo fragilizado, observa-se concorrência acirrada entre os laticínios para a venda de derivados, além de elevada pressão dos canais de distribuição para reduções nos preços dos lácteos. Com margens espremidas, as indústrias devem pressionar o segmento produtivo nos próximos meses.
Diante desse cenário, é importante que o pecuarista se mantenha informado e aproveite o momento de melhor receita para se planejar com cautela. Também é essencial que a relação entre produtor e indústria se fortaleça para evitar que as especulações e ruídos de informação prejudiquem as atividades no longo prazo.
Construindo Leite Brasil
O produtor gaúcho Joel Dalcin, do grupo Construindo Leite Brasil, diz a que a pesquisa do Cepea identificou a alta do preço do produto, mas não captou o aumento expressivo dos custos de produção, pelo menos no Rio Grande do Sul, dos últimos seis dias.
“Foi bom [na primeira quinzena de maio], porque houve este aumento e os custos estavam estabilizados até uns seis dias atrás, mas agora disparou, com o forte aumento da cotação internacional da soja [o farelo é usado na ração]. Na nossa região [Rio Grande do Sul], a alta foi de praticamente de um real por dia. A saca de 60 kg saiu de R$ 61,00 e hoje está em R$ 71,00, R$ 72,00.’’
Isso, projeta Joel Dalcin, vai se refletir bastante nos custos, porque deve ter aumento nos preços da ração, do farelo de soja e outras fontes proteicas. “O cenário já mudou nesta segunda quinzena de maio. Comprei o quilo de farelo de soja a R$ 1,28 nos últimos dias de abril. Na sexta da semana passada, já paguei R$ 1,38. E hoje meu fornecedor disse que o quilo está em torno de R$ 1,48 a 1,50 o quilo.’’
De acordo com ele, a elevação dos custos de produção deve ser mais sentida por quem cria gado de leite em confinamento, que não usa nada proteína de pastagens. “Quem utiliza quatro, cinco quilos de farelo por animal por dia, terá um aumento de custo de produção de R$ 1,50, R$ 2 por animal por dia. Isso já não compensa o aumento do preço do leite ao produtor.”
Joel Dalcin assinala ainda que a perspectiva para as próximas semanas não é otimista. “Já se fala no mercado em estabilidade do preço do leite ao produtor, ou até mesmo uma baixa, no mês de junho. Falam em aumento da captação de leite, mas isso é difícil de ocorrer nos três estados do Sul porque está chovendo bastante.’’
Além disso, ressalta o produtor do grupo Construindo Leite Brasil, há previsão de forte aumento do preço do milho, também usado na ração do gado leiteiro, por causa dos Estados Unidos, que influenciam as cotações no Brasil.
“Então, o preço do leite precisa se estabilizar pelo menos nas atuais cotações, que são consideravelmente boas para trabalhar. Agora, caso se confirme a tendência de elevação dos custos de produção e de redução de preços ao produtor, em um ou dois meses vai ter nova crise no setor, o que não é bom para o pecuarista.’’