Em março, o produtor de leite de Minas Gerais recebeu, em média, R$ 2,2 pelo litro do produto captado em fevereiro. Conforme os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apesar do aumento de 4,42% frente ao mês anterior, a cotação ficou 25% abaixo do preço praticado em igual período do ano passado, quando o litro registrava média de R$ 2,75.
O cenário visto em Minas Gerais se repete em nível nacional. Conforme o Cepea, o preço do leite captado em fevereiro e pago em março foi de R$ 2,23 por litro. O preço supera em 3,8% o registrado no pagamento anterior. A elevação foi a quarta mensal consecutiva. Mas, assim como visto em Minas, mesmo com o aumento, a média nacional ainda ficou 21,6% abaixo da registrada em igual período de 2023.
Conforme a pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, a alta nos valores vem de uma captação de leite menor. A produção leiteira em Minas Gerais e no Brasil vem enfrentando desafios com o aumento das importações e preços aquém do necessários para garantir lucro. Assim, há um desestímulo por parte dos produtores, que estão reduzindo os investimentos e a captação.
“O movimento altista no campo, iniciado em novembro de 2023 ocorre em função da menor produção no campo e do acirramento da disputa entre laticínios e cooperativas por fornecedores. O Índice de Captação Leiteira (Icap-L) do Cepea caiu 3,35% de janeiro para fevereiro, acumulando baixa de 5,2% no primeiro bimestre deste ano. Por sua vez, a queda na oferta se explica pelo clima (seca e calor), mas, sobretudo, pelas margens espremidas dos pecuaristas nos últimos meses, que levaram à redução de investimentos dentro da porteira”.
Estimativa é de nova alta no preço do leite para pagamento em abril
Com a captação menor, a tendência para abril é de nova valorização do preço pago pelo leite. Conforme o Conselho Paritário entre Produtores de Leite e Indústrias de Laticínios (Conseleite-MG), o valor médio de referência do leite entregue em março e que será pago agora, em abril, é de R$ 2,3243. A cifra é maior que os R$ 2,2863 pagos em março.
Mesmo com a alta, o valor ficou abaixo do esperado pelo setor produtivo do leite. Conforme o presidente da Comissão Técnica da Pecuária de Leite do Sistema Faemg/Senar e integrante da diretoria do Conseleite-MG, Jônadan Ma, as importações ainda elevadas impactam de forma negativa na cotação.
“Uma preocupação maior que nos foi apresentada foi o alto nível de importações de leite em pó e de queijos também em março. Houve uma pequena redução em relação ao mês anterior, no caso de fevereiro, e em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, a importação foi na ordem de 185 milhões de litros”, disse Ma.
O representante da comissão de leite ressalta ainda que o aumento das importações ocorreu mesmo com a vigência do Decreto 11.732, que alterou as regras do benefício tributário para empresas que adquirem leite in natura. A medida pretendia ampliar a competitividade da produção nacional e desincentivar as importações de lácteos.
“Isso prova que existem outras áreas, outros segmentos importando leite em pó e queijo que não sejam meramente laticínios. Outras indústrias de alimentos, atacadistas, varejistas, importadores, e isso também está desbalanceando demais a nossa cadeia produtiva”.