De sua pequena propriedade rural, em Cantagalo, na região Centro-Sul, os queijeiros Solange Liller e Ordilei Dufech Sousa não desgrudavam do celular, no início da noite de 1º de junho.
Eles tinham inscrito quatro de seus produtos no Prêmio Queijos do Paraná, cuja cerimônia de premiação se realizava naquele instante, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Por um grupo de WhatsApp, o presidente da Associação dos Produtores de Queijo e Derivados de Leite da Região Centro do Paraná (Aproleq), Roberto Carlos de Oliveira, repassava as informações em tempo real. Logo chegou à boa-nova: três dos queijos inscritos pelo casal tinham sido premiados com medalha de ouro.
Era a coroação de uma aposta da família, que resultou em mais renda e qualidade de vida. Tudo graças aos queijos.
“Quando falaram que a gente ganhou, eu nem acreditava. Era o sinal de que o nosso trabalho está dando resultado”, conta Solange, de 48 anos. “A gente sabe que nosso queijo é bom, mas a gente esperava, no máximo, um bronze. Nós ainda estamos começando”, acrescenta, com modéstia.
Apesar dos bons resultados, a trajetória da família no setor queijeiro é relativamente recente. Solange e Dufech não estão ligados ao campo desde sempre. Por anos, ela trabalhou como empregada doméstica e ele, como caminhoneiro. A vida difícil na cidade, no entanto, os fez vislumbrar as oportunidades do setor agropecuário. Com as economias, compraram uma pequena propriedade de sete hectares. Há oito anos, decidiram investir na pecuária leiteira. Com o tempo, o plantel chegou a 40 vacas. Por incrível que pareça, os queijos surgiram por acaso.
“Eu fui aprendendo a fazer queijos com a minha sogra, aproveitando o leite que sobrava. Mas produzia só para a família, para amigos. Aí, fui pesquisando, fazendo experiências, tentando melhorar. E as pessoas começaram a gostar do nosso queijo, a falar bem”, diz Solange Liller, produtora de queijos.
Animados, com apoio técnico do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Solange e Dufech decidiram elevar as apostas nos queijos. Reduziram o plantel para 16 vacas e financiaram a instalação da queijaria – a Tia Nena Produtos Coloniais, inaugurada em 2019. O casal também buscou especialização: em 2021, Solange e o marido cursaram o Programa Empreendedor Rural (PER), do Sistema FAEP/SENAR-PR, ao longo do qual desenvolveram um projeto para otimizar a produção de queijos, que consome cerca de 1 mil litros de leite por semana.
Ao longo do PER, Solange e Dufech puderam estruturar um projeto minucioso, que, posteriormente, tiraram do papel. “Eles têm várias atividades na propriedade e pouca mão de obra. Para participar, tinham que abrir mão de um dia por semana para se dedicar de corpo e alma ao programa. Isso mostra comprometimento, dedicação e o empenho deles”, observa o instrutor do curso, Luiz Augusto Burei.
“O PER contribuiu para que olhassem a propriedade como uma empresa, gerindo melhor seus capitais e potencializando os resultados”, explica Luiz Augusto Burei, instrutor do PER.
SUCESSO
Com a melhor estruturação do negócio, os queijos autorais criados por Solange logo começaram a fazer sucesso na região. Ainda assim, a produtora titubeou na hora de se inscrever no Prêmio Queijos do Paraná, iniciativa idealizada pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, Sebrae-PR, IDR-Paraná e Sindileite-PR. “A gente nunca tinha participado de concurso. Somos produtores pequenos. O pessoal do IDR-Paraná que acabou convencendo a gente a participar”, relata Solange.
E que bom que os queijeiros foram convencidos, porque, como vimos, o desempenho dos produtos inscritos foi excepcional na avaliação dos jurados. Três derivados da Tia Nena foram condecorados com medalha de ouro: o queijo colonial defumado, o queijo colonial temperado e o queijo colonial ao vinho. E mais: dois deles – o colonial ao vinho e o temperado – também ganharam a medalha super ouro. Cada um dos produtos têm um toque especial, desenvolvido por Solange.
“A gente vê muito queijo temperado com orégano. Mas eu quis inovar e coloquei chimichurri. Fica com um sabor puxando para o apimentado, muito gostoso. É um dos que mais vendem”, explica a produtora. “O colonial ao vinho não foi fácil. Fizemos várias tentativas e só acertamos a receita quando passamos a usar vinho colonial de um produtor da região. O legal é que a gente também valoriza o trabalho dele”, acrescenta.
O negócio é tocado exclusivamente pela família. Além de Solange e do marido, o filho mais velho, Diego Samuel, de 18 anos, também se divide entre as atividades. Com as medalhas conquistadas no Prêmio Queijos do Paraná, a demanda já aumentou, a ponto de ter fila de pedidos.
“O pessoal está valorizando mais. Isso incentiva a gente a fazer produtos ainda melhores e aumentar a nossa qualidade”, afirma. “Estamos com muitos pedidos. Eu estou me vendo louca, de tanta gente atrás dos nossos queijos. Tem fila, porque demora para produzir. Os diferenciados, por exemplo, demoram 20 dias para dar o tempo de ficar no ponto. Dá trabalho, mas tudo isso é resultado de que estamos no caminho certo”, conclui. “Quando tiver a próxima [edição do Prêmio Queijos do Paraná], vou ser a primeira a me inscrever”, diz.
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