“É necessário valorizar mais o queijo de São Jorge, sobretudo agora, com o aumento galopante dos custos de produção”, insistiu o dirigente associativo, durante uma audição na comissão de Economia da Assembleia Legislativa dos Açores, que está a analisar uma proposta conjunta das bancadas do PSD, CDS-PP e PPM, que define medidas de apoio aos produtores de leite da ilha.
No entender de João Sequeira, a proposta dos três partidos que apoiam o Governo dos Açores, liderado pelo social-democrata José Manuel Bolieiro, vem dar uma ajuda ao setor, que está a atravessar dificuldades, devido à falta de mão-de-obra e ao aumento dos custos de produção, para além das dificuldades decorrentes da crise sismovulcânica, que se verifica em São Jorge.
“Estamos de acordo com a medida aqui proposta. Vem trazer uma melhoria, mas entendemos que não é ainda suficiente”, ressalvou o presidente da Associação de Agricultores de São Jorge, para quem a solução passa por aumentar o preço do leite pago ao produtor, dos atuais 26 cêntimos por litro, para, no mínimo, 40 cêntimos por litro.
O dirigente associativo lamentou que as cooperativas agrícolas da ilha se limitem a produzir o típico queijo de São Jorge, com 10 kg de peso, sem avaliarem a possibilidade de produzirem queijos de tamanho inferior, eventualmente mais fáceis de vender, ou outro tipo de produtos, como manteiga, a exemplo do que se faz, por exemplo, nas vizinhas ilhas do Pico e do Faial.
Também Jorge Sousa, da Associação de Jovens Agricultores Jorgenses, disse concordar com a proposta conjunta do PSD, CDS-PP e PPM, lembrando que necessário todos ajudarem para que a produção de queijo de São Jorge seja mais lucrativa.
“Vemos esta iniciativa com bons olhos”, destacou, recordando que o preço do leite pago ao produtor em São Jorge “subiu um bocadinho”, embora a produção de queijo na ilha esteja a ficar “cada vez menos lucrativa”, devido ao aumento brutal dos custos de produção.
Além dos custos com os combustíveis e com as rações, Jorge Sousa lembrou que os produtos de higienização e saúde animal também aumentaram de preço, fazendo com que a atividade agrícola na ilha seja “cada vez menos atrativa”, sobretudo para os jovens.
“Já é difícil para os que estão na atividade, quanto mais para os de fora”, frisou o dirigente associativo, recordando que a ilha de São Jorge tem perdido produtores de leite nos últimos anos.
“A situação é má agora e daqui a dez anos vai estar pior”, anteviu.
António Aguiar, presidente da Uniqueijo – União de Cooperativa Agrícolas de Laticínios de São Jorge, também ouvido pela comissão de Economia, admitiu que não é possível, nesta fase, aumentar o preço do leite pago ao produtor, pelo menos nas atuais circunstâncias.
“Compreendo que os produtores queiram mais. Há cooperativas que podem pagar mais e há aquelas que não podem. Em São Jorge, é difícil pagar mais, porque custa mais produzir aqui do que em outra ilha”, justificou, em resposta às questões levantadas pelos deputados.
O dirigente defendeu ainda que a produção de laticínios em São Jorge tem de se diferenciar no mercado como “produto de qualidade” e não em quantidade e lembrou que a produção de leite na ilha diminuiu entre 2016 a 2021, em cerca de 1,5 milhões de litros/ano.
Quanto à eventual introdução de novos produtos no mercado, António Aguiar recordou que já foi feita uma experiência, no passado, com a produção de manteiga e de queijo fresco na ilha, produtos que não tiveram, porém, a saída esperada.