Iniciativa no Vale do Paraíba leva informações e tecnologia para melhorar as características do item em pequenas propriedades

Iniciativa no Vale do Paraíba leva informações e tecnologia para melhorar as características do item em pequenas propriedades

Ter, 20/10/2020 – 15h33 | Do Portal do Governo

DownloadDivulgação/Secretaria de Agricultura e Abastecimento

bovinocultura leiteira

Atrás de morros da Serra da Bocaina, onde muitas vezes só se chega de carro com tração nas quatro rodas, concentram-se cerca de 300 produtores, que, em pequenas áreas, produzem o leite que segue para os laticínios e, posteriormente, para a mesa da população da região, encravada no Vale do Paraíba, que concentra a maior bacia leiteira do estado de São Paulo.

Nesse contexto, o município de Cunha, que tem pouco mais de 20 mil habitantes e está distante cerca de 220 km da capital paulista, destaca-se como o principal produtor de leite na região de Guaratinguetá.

Para melhorar a qualidade da produção, a Casa da Agricultura local – com apoio da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) – Regional Guaratinguetá – em parceria com o Laticínio Campos Novos, idealizou um projeto para alcançar o maior número possível de produtores, com informações técnicas relevantes, em linguagem acessível.

“Quando falamos de leite, estamos enfocando um alimento importante para a saúde e qualidade de vida da população como um todo. Mas também estamos falando de renda e emprego para centenas de famílias que tem a bovinocultura leiteira como principal atividade, desenvolvida predominantemente em pequenas propriedades”, explica César Frizo, engenheiro agrônomo responsável pela Casa da Agricultura local, um dos idealizadores do projeto.

Material didático

O projeto consiste na elaboração de material didático, dividido em fascículos, distribuídos quinzenalmente para os produtores da Serra da Bocaina. “Durante acompanhamentos técnicos em algumas propriedades e Dias de Campo realizados, identificamos que uma grande parcela dos produtores dessa região tem pouco acesso a informações consistentes sobre as medidas sanitárias que levam à prevenção e ao tratamento de doenças e, consequentemente, à melhoria da qualidade do leite produzido. Sendo assim, junto com os técnicos do Laticínio, elaboramos uma estratégia para levar mais conhecimento a eles”, explica César, informando que o projeto faz parte de um conjunto de ações de extensão rural desenvolvidas na região, voltadas à bovinocultura de leite.

A ideia, então, de acordo com o agrônomo, se materializou na elaboração de um material com informações que abrangerão desde o que é uma bactéria até a identificação e o tratamento de doenças como a mastite, uma das principais causas de redução da produção e contaminação do leite, que baixa a qualidade e diminui a rentabilidade dos produtores.

“Como extensionistas, elaboramos o conteúdo e a área de comunicação da Secretaria de Agricultura fez o layout desses informes, os quais estão sendo impressos e distribuídos pelo Laticínio Campos Novos, por meio de seus caminhões que coletam o leite nas propriedades. Essa é a forma que encontramos de alcançar esses produtores, levando informação e orientação técnica a esse público que possui pouco ou nenhum sinal de internet e, muitas vezes, nem telefonia”, avalia César, acrescentando que os produtores que estão recebendo o material, por residirem em bairros de difícil acesso, sobretudo na Serra, dificilmente participam de eventos como Dias de Campo, palestras e seminários, entre outros.

Para Tiago Moreira Nunes, médico-veterinário do Laticínio, a parceria com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento representa um ponto importante para que a empresa receba matéria-prima de melhor qualidade, o que garante a segurança dos alimentos produzidos.

“Há alguns anos observamos que o trabalho da Secretaria tem impactado positivamente a pecuária leiteira na nossa região, com as ações desenvolvidas junto aos pequenos produtores. E a Casa da Agricultura é uma grande parceira, desde antes da pandemia, quando realizamos juntos diversos eventos sobre qualidade do leite, as Normativas 76 e 77 e a necessidade de adequação dos produtores”, pontua.

“Com a pandemia e a suspensão de atividades presenciais, essa ideia do engenheiro agrônomo César de continuar a transmitir conhecimento por meio desses fascículos foi excelente e está fortalecendo ainda mais a educação sanitária, pois abordam aspectos relevantes sobre o manejo, principalmente na pequena propriedade leiteira, com orientações práticas e linguagem simples e clara, chaves do sucesso desse material”, diz.

“Por isso, os proprietários do Laticínio, Roque e Eduardo Sampaio, se comprometeram em auxiliar na comunicação e divulgação do material – que tem sido entregue aos produtores quando levamos o pagamento de cada um e enviado para o WhatsApp daqueles que têm acesso –, porque eles têm a certeza de que esse conhecimento contribuirá ainda mais para melhorar a qualidade do leite que recebemos e a vida daqueles que o produzem”, acrescenta.

Distribuição

“Sempre que temos condições procuramos a Casa da Agricultura, que nos apoia com informações e acompanhamento para melhorar nossas instalações e também o manejo com o gado e a produção de leite. As orientações técnicas que recebemos foram um dos principais motivos que nos fizeram conseguir melhorar a qualidade do leite, entregar no laticínio e receber um valor melhor pelo litro, o que tem possibilitado uma qualidade de vida melhor para minha família e a dos vizinhos também. Então estamos felizes pelo César (agrônomo responsável pela Casa da Agricultura) e o pessoal do laticínio nos trazerem mais informações dessa forma, pois aqui o acesso é difícil e quase não temos sinal de internet e telefone”.

Com essa fala, Ananias de Campos, que produz 80 litros de leite diários no sítio Santa Cruz, mostra a satisfação após receber os dois primeiros fascículos da série Qualidade do Leite. Para ele, que é a terceira geração da família na pecuária leiteira, “sem conhecimento, profissionalismo e tecnologia será impossível para os pequenos produtores se manterem no mercado”.

Segundo o engenheiro agrônomo César, não existe um número definido de fascículos. “Esse é um assunto amplo, com muitos temas a serem abordados. Mas, para elaboração, também estamos levando em consideração a demanda dos produtores e os questionamentos que já começaram a ser feitos. E, apesar da necessidade de distanciamento social, imposta pela pandemia, temos empreendido esforços e integrado cada vez mais as ações com os técnicos do Laticínio, para continuar o acompanhamento desses produtores, esclarecendo suas dúvidas, incentivando a tecnologia, o conhecimento e gestão da propriedade e da comercialização, como ferramentas de geração de renda, emprego e qualidade de vida, o que fomenta a permanência no campo, para essas centenas de famílias”, salienta.

Até o momento, já foram produzidos quatro informes:

– O que é bactéria?
– Você sabe o que é Contagem de Bactérias Totais (CBT)?
– O que fazer para que as bactérias não prejudiquem a qualidade do leite e sua renda?
– Por que as vespas e abelhas picam o peito das vacas?

Gestão

Para o produtor Renato Campos Magalhães, há cerca de um ano e meio, a esperança de melhorar a renda da família, que já está na quarta geração trabalhando com a bovinocultura leiteira, estava expressa apenas no nome de sua pequena propriedade: Sítio Boa Esperança. Com seis vacas, uma produção de 20 litros por dia e um alto teor de bactérias no leite, não obtinha renda suficiente para manter a propriedade nem sua família.

“Várias vezes pensei em desistir, mas o que eu ia fazer? Eu nasci e cresci na roça, vendo e trabalhando com meus avós e meus pais. E eu adoro ser produtor rural e não queria ir para a cidade fazer número entre os desempregados”, desabafa.

Mas o que parecia ser um “beco sem saída” se tornou uma porta de sucesso aberta com gestão e assistência técnica. “Tudo mudou, quando há um ano e meio comecei a ter mais conhecimento e enxergar as coisas que estavam erradas aqui no sítio. O técnico da Casa da Agricultura me passou muitas informações e fez um levantamento junto comigo de todos os problemas que tinha no manejo e indicou o que deveria e poderia ser mudado, mesmo sem investimento de recursos; que, na realidade, eu não tinha”, revela.

Hoje, após um ano e meio de trabalho e acompanhamento direto da extensão rural da Secretaria de Agricultura, o sítio Boa Esperança poderia agregar mais um nome na placa de entrada: Boa Nova.

“Pela falta de capital do produtor, no primeiro ano fizemos um projeto para reduzir os desperdícios e melhorar o manejo na propriedade, incluindo a correção do solo, que conseguimos implementar com a doação de calcário feita por uma empresa da região. Com ferramentas de gestão, adoção de tecnologias simples e diretrizes de educação sanitária, atualmente, o produtor tem apenas três animais, porém com boa genética, e uma produção diária de 60 litros de leite. E o mais importante: ostenta o título [comprovado por laudos de CBT] de ter um leite de excelente qualidade, considerado o mais limpo do município de Cunha, tendo uma redução de 800 para 1, na contagem de bactérias totais, número melhor até do que grandes fazendas tecnificadas”, celebra o agrônomo César.

Com essa chancela recebida do Laticínio Campos Novos, onde comercializa a sua produção, o produtor tem obtido um valor superior por litro de leite e conseguido, não apenas o sustento da família, mas projetar melhorias para ampliar a produção.

“Depois dessa assistência que a Secretaria de Agricultura tem dado para a gente, eu consegui dar um grande passo na minha caminhada como produtor. Todo o conhecimento que o agrônomo da Casa da Agricultura nos passou, mudou o jeito que eu pensava e o jeito tradicional que eu trabalhava. Descobri que tinha que plantar uma área de cana para complementar a alimentação do gado, principalmente no período de seca, adotei práticas conservacionistas que melhoraram o solo e, hoje, posso dizer que estou feliz e não pretendo mais deixar a atividade nem vender o sítio. Agora, só penso em dar continuidade ao amor que a nossa família tem pela terra e à produção de alimentos”, conclui.

Companhia do interior de São Paulo deve faturar mais de R$ 1 bilhão e descarta boatos de venda; mirando um eventual IPO, o plano é crescer com M&As, com dois negócios já no gatilho.

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