O caminho para aumentar o mercado – e o faturamento – em alimentos premium dentro do Brasil passa pelo exterior, segundo a estratégia da empresa gaúcha RAR, da família Randon.
Com o objetivo de aumentar seus patamares de produtividade e competitividade e alcançar a meta de faturar R$ 1 bilhão em uma década, a indústria alimentícia anunciou em novembro que realizou sua primeira exportação do queijo Gran Formaggio para os Estados Unidos.
O crescimento dessa venda poderá gradualmente ajudar a empresa a produzir mais com diluição de custos, o que tem o potencial de reduzir os preços cobrados dentro do Brasil para ampliar o alcance dos produtos no mercado doméstico.
Em princípio até agora foram enviados 700 kg do produto para Miami, na Flórida, o que marcou a entrada da marca no mercado norte-americano, mas a perspectiva é que esse volume cresça rapidamente, segundo o CEO da empresa, Angelo Sartor.
“Começamos de forma modesta, com 700 kg, mas nosso objetivo é chegar a 120 toneladas por ano para os EUA, o que representaria um acréscimo significativo em nosso volume atual de 900 toneladas”, disse Sartor em entrevista à Bloomberg Línea.
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“Se nós chegarmos a 120 toneladas exportadas para os EUA, estamos falando de mais de 10% de aumento do nosso volume atual. Além de a margem ser interessante, a exportação nos ajuda a reduzir custo fixo, a melhorar a margem no mercado interno e a ampliar nossa estrutura”, disse o CEO.
“Vamos produzir mais, ganhar mais eficiência e nos tornamos mais competitivos para o mercado interno”, resumiu.
Ambição de R$ 1 bilhão
Apesar de a produção de queijo ser um dos principais focos para impulsionar o crescimento e compensar desafios de custos, a RAR tem atuação em diferentes áreas agrícolas e alimentícias desde os anos 1970. O portfólio da empresa inclui frutas, grãos, produtos lácteos e mesmo vinho e azeite de oliva.
No ano passado, a empresa anunciou que pretendia dobrar seu faturamento para atingir a meta de R$ 1 bilhão por ano. Segundo Sartor, o trabalho segue com foco nessa ambição.
Esse movimento foi impulsionado especialmente pela produção de maçãs, produto com o qual a empresa começou sua atividade mais de cinco décadas atrás.
De acordo com Sartor, a RAR se beneficiou de um momento problemático da safra brasileira, que ficou abaixo da média.
“Normalmente o país produz entre 1,1 e 1,2 milhão de toneladas, mas neste ano a safra de maçãs foi um pouquinho acima de 800 mil toneladas nacionalmente, o que elevou o preço”, explicou.
“Nossa produção se beneficiou porque a nossa safra felizmente não teve a queda do resto do mercado. No mercado com menos oferta, nós tínhamos um volume muito parecido com o do ano anterior.”
A queda foi um reflexo do clima, segundo ele, com a produção no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina sendo afetada por excesso de chuva em uma parte do ano e por um período de seca em outra.
O cenário desafiador se traduziu em uma oportunidade para a RAR, que viu o preço da fruta nacional se valorizar no mercado, o que beneficiou a rentabilidade.
A empresa pretende expandir ainda mais suas plantações, com um objetivo de alcançar 1.400 hectares de área plantada para maçãs.
“Estamos otimistas com o crescimento no mercado de frutas e planejamos intensificar nossas operações para atender a uma demanda que, ao que tudo indica, continuará forte”, disse Sartor.
‘Invasão’ de lácteos importados
Enquanto a produção de frutas teve desempenho positivo, a de lácteos é uma das que enfrenta maior dificuldade no mercado, o que justifica o foco atual em exportações. “A oferta de de lácteos importados tem sido extremamente agressiva, principalmente os produtos da Argentina”, disse Sartor.
Segundo ele, o Brasil tem um desequilíbrio entre importação e exportação de produtos lácteos. Somente em queijos, o país importa quase 50.000 toneladas a mais do que exporta, disse.
“O parmesão da Argentina e do Uruguai tem entrado bem no país, e isso leva para o mercado um produto de qualidade a um custo muito mais baixo do que o nosso”, disse.
A cadeia de produção de laticínios no Brasil enfrenta barreiras significativas, e o alto custo de produção é uma realidade constante. Sartor apontou que a média de produção de leite por agricultor no país é baixa, o que eleva o custo logístico e torna a indústria de laticínios brasileira menos competitiva.
Esse cenário contrasta com o da Argentina, onde uma estrutura de produção mais eficiente permite que queijos e outros produtos lácteos sejam oferecidos a preços mais baixos no mercado brasileiro.
“Enquanto nós oferecemos um produto com maior tempo de maturação e qualidade superior, o parmesão argentino, por exemplo, entra no Brasil a preços até 57% mais baixos do que os nossos”, explicou.
Além da diferença de preços, a RAR continua desafiada a convencer o consumidor brasileiro do valor agregado dos queijos locais.
“Queijo ralado é um produto que no Brasil sempre teve a imagem deturpada. O consumidor compra uma massa de qualidade, mas está acostumado a escolher um produto que é oferecido na área de alimentos secos, que é o queijo desidratado”, disse.
Segundo ele, a empresa vende de 1,5 tonelada a 2 toneladas por mês do queijo fresco ralado, refrigerado, enquanto a comercialização do queijo seco supera 35 toneladas.
“É praticamente o mesmo produto, mas desidratado em 22% do volume, no saquinho, e é difícil convencer o consumidor de que o produto fresco é melhor, pois ele se acostumou com o seco”, disse.