Industriais e produtores celebraram acordo que prevê aumento de 10 centavos no preço por litro, a partir do próximo dia 16. Ação dos atravessadores tumultua a produção e causa ruídos no mercado.
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Faec tem sugerido aos industriais que mantenham relação mais estreita com os produtores. Ph: iStock
Reina a paz, outra vez, nas relações dos produtores cearenses de leite com as indústrias de beneficiamento, incluindo, destacadamente, a Betânia Lácteos, empresa líder do mercado de lácticínios do Nordeste brasileiro.

Terça-feira, 3, as duas partes chegaram a um acordo que prevê um aumento de R$ 0,10 (dez centavos) por litro, a ser pago pelos industriais a partir do próximo dia 16.

As reuniões que conduziram ao acordo foram acompanhadas pela Federação das Indústrias (Fiec), por meio do Sindicato da Indústria de Lacticínios, e pela Federação da Agricultura e Pecuária (Faec).

Para esta coluna, há duas questões que envolvem a produção e a industrialização do leite no Ceará.

A primeira questão diz respeito ao predomínio da Betânia, que praticamente não tem concorrência no mercado de oferta de lacticínios, que é seu de forma quase monopolista – há pequenas beneficiadoras como a Maranguape, a Jaguaribe, a Cambi, a Fazenda do Frota e a Tijuca Alimentos, mas sem o tamanho, a força e o prestígio da marca Betânia, que tem fábricas em Pernambuco, em Sergipe e na Bahia.

A empresa fundada pelo agropecuarista Luiz Girão não é culpada por esse monopólio – o Brasil é uma economia de livre mercado, de livre iniciativa, ou seja, qualquer um pode implantar aqui uma fábrica de leite e derivados, e as já existentes operam e estão no mercado.

Vale lembrar que, não faz muito tempo, a multinacional italiana Parmalat manteve uma unidade industrial na Região Metropolitana de Fortaleza, mas desistiu do negócio, que só lhe dava prejuízo e dor de cabeça.

Da mesma maneira, o produtor é livre também para fornecer seu produto a quem melhor pagar por ele.

A Faec vem tentando, até agora sem êxito, atrair para o Ceará mais uma grande empresa de beneficiamento de leite, com vistas a promover uma concorrência que, como consequência, beneficie os produtores, máxime os de pequeno porte, que são a maioria, remunerando melhor o produto que lhe é fornecido.

A segunda questão é a forte e hostil presença do atravessador nas áreas de produção, mais visivelmente nos pequenos sítios do interior do estado, com foco na região do Sertão Central.

Esta coluna já ouviu várias histórias sobre a ação dos atravessadores, que agem no mesmo estilo dos agiotas, submetendo os produtores aos seus caprichos e, principalmente, ao seu preço, que, em alguns casos, chega a ser a metade do que paga a indústria; melhor dizendo, do que paga a Betânia.

Mas como isso acontece? É que os atravessadores fazem coisas que a indústria não faz: antecipam pagamento, fornecem os tanques de resfriamento para o leite ordenhado e dão outras vantagens que fidelizam o produtor à sua férrea vontade.

Há uma diferença: os atravessadores juntam – em tanques comunitários de resfriamento – e transportam nos seus caminhões-tanque o leite dos diferentes produtores. Isso altera a qualidade do produto. O leite dos médios e grandes produtores é colhido em seus próprios tanques e daí transportado diretamente para a indústria, preservando sua qualidade.

A ação impune dos atravessadores – que também não têm culpa pelo que fazem, pois o mercado é livre para produzir e mais livre ainda para vender a quem quiser – tumultua as relações do produtor com a indústria, e esse tumulto causa graves ruídos, como o que se ouviu nos últimos dias.

Três industriais, de três empresas diferentes, disseram ontem à coluna que, neste momento, há uma superoferta de leite no mercado nordestino. Um deles informou que a Betânia tem, estocados, 30 milhões de litros de leite Longa Vida.

Em 2021, prevendo essa superoferta, a Betânia – que hoje se chama Alvoar Lácteos, fruto de sua fusão com outra gigante, a mineira Embaré – projetou e implantou em Morada Nova, onde está seu parque industrial cearense, a mais moderna fábrica de leite em pó do país, que contribuiu para a absorção do excesso de oferta da matéria-prima.

Como a produção leiteira segue crescendo, é difícil manter com margem – que já é reduzida, segundo os industriais – a aquisição do leite que sobra.

Ao mesmo tempo, a Faec tem sugerido aos industriais que mantenham relação mais estreita com os produtores, e neste sentido cita o exemplo da própria sócia da Betânia, a Embaré, cuja direção sustenta um bom entendimento com os produtores de leite de Minas Gerais.

Os entendimentos que, nos últimos dias, levaram a um acordo dos produtores com a Betânia devem servir de ensinamento às duas partes.

 

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