A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados de Pernambuco vai realizar sua 10ª Reunião Ordinária, às 10h, na Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE)
Leite e Derivados
“O Estado concede benefício fiscal para que eles gerem emprego e renda aqui; e não faz isso pensando só na indústria, mas também nos produtores”
Na próxima quinta-feira (18), a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados de Pernambuco vai realizar sua 10ª Reunião Ordinária, às 10h, na Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE), em Garanhuns, no Agreste Meridional pernambucano.

Na pauta do encontro, vão entrar, entre outras questões, levantamento das demandas e definição das ações para este ano com vistas a melhorar a performance do setor.

A finalidade da reunão será discutir os principais pleitos dos produtores e levá-los às autoridades competentes, como o Governo do Estado, a Secretaria da Fazenda e a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro) em busca de soluções.

Umas das demandas mais urgentes diz respeito à compra de leite por indústrias locais de outros estados, como Alagoas e Paraíba. Segundo o presidente do Sindicato dos Produtores de Leite (Sinproleite), Saulo Guimarães Malta Júnior, indústrias que ficam na divisa com esses estados, em muitos casos, preferem comprar deles.

O dirigente sindical conta que a produção de Alagoas, embora menor que a de Pernambuco, é mais junta, ou seja, há poucos produtores grandes muito próximos uns dos outros. Já Pernambuco é um estado extenso e possui muitos produtores pequenos e distantes. “Você junta três ou quatro fazendas de lá e consegue 20 mil litros. É melhor para a indústria pegar com eles do que juntar 10 ou 12 de Pernambuco”, explicou ele.

Para Guimarães, não é justo, no entanto, essas empresas receberem incentivos fiscais para se instalarem no Estado, mas comprarem o leite de outros mercados. “O Estado concede benefício fiscal para que eles gerem emprego e renda aqui; e não faz isso pensando só na indústria, mas também nos produtores”, reclamou.

Saulo detalha como o tamanho do estado influencia no fechamento de negócios com as indústrias locais. “Como Pernambuco é um estado grande, muitas vezes fica mais fácil para as indústrias comprarem de estados que fazem divisa com a gente porque estão mais próximos deles”, acrescenta.

Segundo ele, quando o Governo de Pernambuco aumentou os impostos sobre o leite comprado de fora, as coisas melhoraram, mas quando esse decreto foi revogado os produtores foram prejudicados.

Estradas e logística

Outra questão que deverá entrar na pauta da reunião será o estado de conservação das estradas que, lembrou Guimarães, inviabilizam a logística por conta da situação precária em que se encontram. “Temos a Estrada do Leite, que pega do município de Venturosa a Águas Belas e outra que vai até Bom Conselho, por onde passa 50% do leite do estado. No inverno, não se passa, a pessoa transporta o leite na cabeça”, ironizou.

O vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Leite (Sindileite), Stênio de Andrade Galvão, fez uma comparação que mostra a importância da conservação das estradas para o transporte do produto. “Imagine, por exemplo, uma garrafa com leite pela metade e outras cheia. Agora, imagine-se transportando as duas por uma estrada ruim em que os produtos balançam. Como você acha que os dois leites vão chegar ao destino?”, indagou Stênio.

Ainda segundo o sindicalista, Pernambuco, ao contrário dos outros estados, incentiva as centrais de distribuição, o que prejudica o setor. “Quem fabrica um queijo aqui e exporta para Alagoas, por exemplo, tem que pagar uma pauta do preço do produto, do ICMS.

Digamos que o queijo aqui custe R$ 30 reais o quilo. Para vendê-lo em Alagoas, tenho que pagar o ICM de fronteira, o equivalente a 18% do preço pautado em R$ 56, que é o preço ao consumidor. As grandes redes de supermercados, que têm centrais de distribuição, são as mais beneficiadas aqui, porque Pernambuco não tem a mesma pauta, segundo ele.

As demandas não param por aí. Outro gargalo apresentado, principalmente pelos pequenos produtores, que é a grande maioria, diz respeito ao sistema de energia elétrica que são eles obrigados a usar porque não podem investir para melhorá-lo. Boa parte ainda utiliza o monofásico, o que obriga a usar transformador por conta das constantes quedas de energia que o sistema causa.

“Existe um programa do governo de Minas Gerais que a gente está estudando. Lá, o governo fez uma parceria com a subsidiária para concessão de incentivos a quem trocar a monofásica pela trifásica. Vamos mostrar a governadora Raquel Lyra para ver se ela adota o programa aqui”, pontuou Saulo Guimarães.

Pernambuco é o maior

Pernambuco é o maior produtor de leite do Nordeste, com 3,5 milhões de litros por dia, tendo, inclusive, ultrapassado a Bahia em 2021, até então o primeiro do ranking, segundo o vice-presidente do Sinproleite, Edson Félix. Já Stênio, do Sindileite, lembra que grande parte do mercado em Pernambuco ainda é artesanal, o que faz com que não se tenham números exatos. Não se tem também números oficiais sobre faturamento do setor.

“No caso do queijo coalho, por exemplo, muita gente fabrica o produto, leva ao mercado para vender e não se tem registro desse volume em quantidades ou valores. O dirigente sindical, no entanto, arrisca um número com base em uma estatística padrão nacional. “Sabe-se que a cada 50 litros de leite produzidos, gera-se um emprego direto”, explicou.

Um projeto de lei do deputado estadual Claudiano Martins Filho, aprovado no final do ano passado, surgiu como uma luz no fim do túnel para se não resolver pelo menos minimizar o problema um dos problemas dos produtores locais de leite, queijo e derivados. O entrave é que, mesmo sancionada pelo ex-governador Paulo Câmara, a lei precisa ser regulamentada pela Adagro, que ficou alguns meses sem dirigente com a mudança de governo.

O projeto altera a Lei n° 13.376, de 2007, dispõe sobre o processo de Produção Artesanal do Queijo Coalho e outros produtos derivados do leite, a fim de inserir dispositivos que ampliem a produção e comercialização desses produtos. Na prática, os produtores de leite poderão ter mais um anexo em seus estabelecimentos, onde poderão produzir outros tipos de queijos, como o queijo mussarela, ricota, queijo com charque, com orégano e outros derivados.

De acordo com Saulo Guimarães, o deputado Claudiano já pediu ao Governo do Estado a ampliação do subsídio, antes restritas ao queijo coalho e ao queijo manteiga, para os outros produtos que as queijarias artesanais venham fabricar. “Essa medida é uma das saídas para se tentar manter o preço do leite”, afirmou.

Ainda segundo Guimarães, o preço do leite hoje em Pernambuco para as indústrias varia de R$ 2,30 a R$ 2,65. Já às queijarias, é cobrado de R$ 1,85 a R$ 2,25. “As queijarias compram cerca de 60% de todo o leite nosso”, complementou.

 

 

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