A cadeia produtiva do leite e derivados é um setor de grande importância econômica e social para o Brasil.
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite, com mais de 34 bilhões de litros por ano, com produção em 98% dos municípios brasileiros, tendo a predominância de pequenas e médias propriedades, empregando perto de 4 milhões de pessoas.
O país conta com mais de 1 milhão de propriedades produtoras de leite e as projeções do agronegócio da Secretaria de Política Agrícola, estimam que, para 2030, irão permanecer os produtores mais eficientes, que se adaptarem à nova realidade de adoção de tecnologia, melhorias na gestão e maior eficiência técnica e econômica.
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Dados da produção brasileira destaca que a produção leiteira está concentrada em cinco estados que detém 70% do total nacional, com Minas Gerais detendo participação de 27,11%, seguido do Paraná e Rio Grande do Sul, com 12,45% e 12,26%. Fecham o ranking dos cinco maiores: Santa Catarina e Goiás.
Dada a importância do setor na economia do país os produtores tem buscado cada vez mais tecnologias que possam proporcionar o bem-estar animal das vacas resultando no aumento significativo da produção leiteira.
Um dos sistemas que despontaram nos últimos anos como modelo de eficiência foi o Compost Barn.
Recentemente, por meio dos levantamentos dos painéis de custos de produção, o projeto Campo Futuro, identificou, ao longo dos últimos dois anos, uma mudança no perfil produtivo das propriedades leiteiras em importantes regiões produtoras do País. A principal alteração foi a migração de sistemas semiconfinados para sistemas em que há o confinamento total das vacas em lactação.
Essa transformação foi registrada no oeste dos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, no Sul de Minas Gerais e na praça do Alto Paranaíba (MG). Para isso, produtores realizaram investimentos em instalações no modelo “Compost Barn”, também chamado no Brasil de “Composto”. Essa estrutura é formada por barracões cobertos, com a presença de uma cama de maravalha comum a todos animais, que, ali, permanecem sendo constantemente resfriados.
O investimento na estrutura visa o alojamento das vacas em lactação, garantindo um ambiente mais confortável e controlado, que é revertido ao longo prazo em melhor desempenho geral dos níveis de produção. As pesquisas mostram que entre as principais vantagens dessas estruturas em relação ao modelo anterior estão a diminuição na incidência das doenças de casco, redução dos níveis de mastite, maior controle sobre o consumo da dieta e melhores condições de temperatura e ambiência.
Quem também falou sobre a eficiência das vacas leiteiras neste modelo foi o produtor Mauricio Silveira Coelho, da Fazenda Santa Luzia, localizada em Passos/MG e pertencente ao Grupo Cabo Verde. Ele participou do podcast da MF Cast e falou sobre o ganho de produção usando a tecnologia.
Maurício destaca as vantagens do sistema Compost, comparando sua eficiência com o método tradicional na pecuária leiteira. Ele demonstra como o Compost tem gerado resultados superiores, trazendo benefícios significativos para o setor.
Durante o episódio o produtor compartilha sua trajetória de sucesso no campo além de contar as inovações pioneiras da sua fazenda, como a retirada da ocitocina através de práticas de bem-estar animal e bom manejo no Girolando.
Em certo momento ele fala sobre o ganho com o sistema. “Depois que vieram os compost [barn], até então o confinamento era sinônimo de free stall. Hoje de cada 10 novas instalações, pelo menos 7 são de compost, porquê caiu no gosto do pecuarista. É uma tecnologia mais fácil de trabalhar no dia a dia, você trabalha com dejetos sólidos ao invés dos dejetos líquidos. Para a vaca é muito mais confortável, ela tá numa cama, levanta fácil, tem menos desgaste de casco, uma série de vantagens” – destaca o produtor.
Mauricio ainda destaca que se o produtor pegar uma vaca que está no sistema tradicional e transfere para o compost barn, existe um incremento de 8 a 10 litros de leite por animal de um dia para o outro, é muito rápido. “As produções que estão crescendo estão adotando este sistema, muito mais estruturado e muito mais preparado para crescer” – destacou Mauricio.
Atualmente, a Fazenda Santa Luzia possui 1.800 vacas em lactação, com uma produção média diária de 36.000 litros. Tem seu sistema de produção baseado em pastos irrigados, rotacionados, com aproveitamento de dejetos para fertirrigação e biodigestores para produção de energia elétrica. Seu rebanho – composto por animais da raça Girolando – é bastante conceituado, sendo detentor de vários prêmios nacionais de produção e destaques nas principais exposições do país.
Sistema Compost Barn
Segundo a Embrapa o sistema de instalação Compost Barn visa reduzir custos de implantação e manutenção, melhorar índices produtivos e sanitários dos rebanhos e possibilitar o uso correto de dejetos orgânicos (fezes e urina) provenientes da atividade leiteira. Consiste em um grande espaço físico coberto para descanso das vacas. A área é revestida com serragem, sobras de corte de madeira e esterco compostado.
O principal objetivo do Compost Barn é garantir aos animais conforto e um local seco para ficarem durante o ano e a compostagem do material da cama. O método concilia a produção e o meio ambiente, visto que se baseia na ação de microrganismos que utilizam a matéria orgânica como substrato.
O Compost Barn pode oferecer aos pequenos e médios produtores uma alternativa para elevar a produtividade, além de possibilitar maior conforto e higiene para o rebanho, contribuir para a redução de problemas de perna e casco, diminuir a contagem de células somáticas (CCS), aumentar a detecção de cio e a produção de leite e diminuir o odor e incidência de moscas.
Atualmente, algumas propriedades rurais no Brasil têm implantado o sistema para novilhas e vacas em lactação. Neste projeto, o sistema está sendo caracterizado em propriedades leiteiras do Sul de Minas Gerais quanto aos parâmetros sanitários de qualidade do leite (CCS, CTB – contagem total bacteriana, evolução da flora microbiana do úbere, ocorrência de mastite ambiental e novos casos de mastite), reprodução (período de serviço e intervalo entre partos), locomoção (infecções de casco), bem estar e comportamento animal. Também, são avaliados a microbiota (bactérias e protozoários), características físico-químicas do composto ao longo do tempo e os custos de implantação e manutenção do sistema.