Na década de 1990 – de acordo com dados da Secretaria da Agricultura – existiam em território catarinense 75.000 produtores de leite.

A tendência é universal: concentrar para otimizar. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) está preocupada com um fenômeno que ocorre no campo: o intenso abandono da atividade leiteira por produtores rurais. Na década de 1990 – de acordo com dados da Secretaria da Agricultura – existiam em território catarinense 75.000 produtores de leite. Agora, em 2022, são apenas 24.000 produtores.

Essa brutal redução de 68% do número de estabelecimentos rurais dedicados à pecuária leiteira está levando a uma forte concentração da produção, observa o vice-presidente Enori Barbieri. Nos últimos três anos verificou-se a maior taxa de abandono, consequência da conjugação de vários fatores como as secas que reduziram a oferta de alimento para o gado e a crise econômica que achatou o poder de consumo da população.

Outros fatores também interferem nesse fenômeno. Os pequenos produtores, por falta de capacidade de investimento, não puderam acompanhar as novas tecnologias, portanto tiveram dificuldade em ampliar a produção e a produtividade. Assim, perseveraram na atividade os proprietários de estabelecimentos maiores, com alto grau de automação e agregação de tecnologia que apresentam melhor qualidade, maior produtividade e balanceamento dos custos.

“O microprodutor ficou de fora porque produzia pouco e para a indústria não compensa enviar o caminhão de coleta para apanhar a matéria-prima de um produtor com 3 ou 4 vacas”, explica Barbieri. Entretanto, a maior taxa de desistência é daqueles que não conseguem produzir dentro da propriedade os insumos necessários para nutrição das vacas. Esses produtores não conseguem aumentar o plantel porque não tem comida para o rebanho – o que representa o maior item nos custos de produção.

O êxodo rural associado à sucessão nas famílias rurais também tem influência nesse cenário. Os filhos se mudam para as cidades e optam por atividades urbanas, enquanto os pais permanecem até encerrar o trabalho no campo e vender a propriedade rural.

O dirigente prevê que a concentração irá aumentar, favorecendo o surgimento de grandes e médias propriedades, com áreas mecanizadas onde o proprietário consegue plantar o pasto, fazer feno e manter baixos os custos de produção.

DEBANDADA

A situação foi acelerada no último triênio com grande desistência da pecuária leiteira por causas multifatoriais. Além do êxodo rural, da falta de capacidade de investimento e da interrupção da sucessão nas propriedades, a seca afetou a produtividade, a crise financeira baixou o consumo, o preço caiu e os custos subiram.

A concentração da produção na cadeia do leite assemelha-se ao que ocorreu no passado com a suinocultura, quando os cerca de 60 mil criadores foram reduzidos para os atuais 10 mil, sem prejuízos de produção. Ao contrário: o plantel permanente de matrizes suínas cresceu de 300 mil para 800 mil porcas.

A produção de leite é uma atividade que se instalou em território catarinense na primeira metade do século passado, mas foi a partir da década de 1960 que começou a incorporar melhorias com a importação de vacas puras de origem da Alemanha. A partir de então se desenvolveu uma (inicialmente) lenta e contínua incorporação de tecnologias em genética, nutrição animal, manejo, profilaxia, higiene, cultivo de pastagens, gestão e controle de custos.

A cadeia produtiva do leite é essencial para a segurança alimentar de qualquer país. Há 20 anos, praticamente todos os cerca de 200 mil estabelecimentos rurais produziam leite; hoje são apenas 170 mil propriedades rurais, das quais 24 mil se dedicam ao leite. O Ibge identificou que, a cada ano, entre 1 mil e 1,5 mil produtores rurais desistem da pecuária leiteira comercial, ou seja, aquela que gera excedente. Mesmo assim, o leite ainda tem grande importância social e econômica para Santa Catarina. O Estado é o quarto produtor nacional e gera mais de 3 bilhões de litros ao ano. Proporciona renda mensal às famílias rurais e contribui para o controle do êxodo rural. O oeste catarinense responde por 75% da produção.

A SOLUÇÃO

O presidente do Sistema Faesc/Senar-SC José Zeferino Pedrozo defende que uma das saídas racionais para as crises cíclicas que afetam a cadeia de lácteos é a exportação. “Precisamos obter renda em dólar para melhor remunerar produtor e indústrias e, com o efeito cambial, repor os custos e as margens de rentabilidade.” Nesse sentido, a Faesc e o Senar/SC (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) investem fortemente em capacitação e treinamento para qualificar os produtores à exportação por meio da ATeG (assistência técnica e gerencial) em bovinocultura de leite.

Paralelamente, o presidente da Faesc defende uma política de apoio ao setor que inclua medidas articuladas entre os governos da União e dos Estados para estimular, simultaneamente, a produção e o consumo, abrangendo a redução da tributação, EGF para o leite, combate às fraudes, criação de mercado futuro para as principais commodities lácteas e manutenção de medidas antidumping e consolidação da tarifa externa comum em 35% para leite em pó e queijo.

Outras medidas incluem aquisição subsidiada de tanques de resfriamento e outros equipamentos para pequenos e médios produtores, o uso obrigatório de leite e derivados de origem nacional em programas sociais.

As informações são do Sistema Faesc/Senar-SC

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