Dentro de um mesmo ano, os preços do leite ao produtor oscilam muito mais do que os de outras commodities como a soja, o milho e a arroba de boi e certamente esta maior volatilidade traz consequências nefastas para produtores e indústrias lácteas.
Tomamos a série nominal (sem deflacionar) de preços de leite ao produtor (base Cepea Brasil) e preços de milho, soja e arroba de boi, todos eles levantados pelo Cepea/ESALQ/USP.
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Para aferir a volatilidade destes preços nos diferentes anos, tomamos o maior e o menor valor a cada ano e a diferença entre eles, para diferentes períodos de tempo: 2007 a 2024, 2010 a 2024, 2015 a 2024, 2020 a 2024 e 2023 s 2024 – calculando a média desta diferença de preços para os períodos de tempo indicados. O resultado desta análise aparece no gráfico 1.
Gráfico 1. Médias das diferenças entre o maior e o menor preço das commodities nos anos dos períodos indicados.
O gráfico mostra, por exemplo, que a diferença anual entre os preços máximos e mínimos da arroba de boi na média entre os anos de 2007 e 2024 foi de 23%, tendo atingido um pico de 28% na média do período de 2020 a 2024; o mesmo raciocínio vale para as demais linhas que mostram as variações das outras commodities.
Alguns pontos chamam a atenção:
- A volatilidade de preços de todas as commodities analisadas cresce bastante no período de 2020 a 2024, com a ocorrência da pandemia. De fato, neste período, tivemos aumentos expressivos dos preços, seguidos de reduções dos mesmos pela reação negativa da demanda às elevações exageradas dos valores praticados;
- O período mais recente (média 2023 e 2024) mostra que estas oscilações de preços tomam a direção de retorno aos patamares históricos, embora estejam ainda bem elevadas;
- Chama a atenção a alta volatilidade dos preços do milho, um dos principais itens de custo da produção de leite; no caso do milho, o contrato futuro da commodity disponibilizado na B3 é uma ferramenta importante (e que deveria ser mais conhecida e usada pelo produtor de leite) para proteção contra estas oscilações que em alguns momentos podem ser favoráveis ao produtor mas em outros não;
- Chama mais ainda a atenção a elevada volatilidade de preços do leite ao produtor; no período entre 2020 e 2024, a diferença média anual entre o maior e o menor preço praticado no mesmo ano foi de 47%, equivalente a ter preços de R$ 2,90/litro e R$ 1,97/litro no mesmo ano…. Não há coração que aguente…!
A grande oscilação de preços é prejudicial tanto a produtores, pela enorme dificuldade de previsão de receitas, gestão de custos e dos principais indicadores de performance de seu negócio, quanto para a indústria, que não tem a mínima previsibilidade da variação futura de seu principal item de custo, sem poder planejar tabelas de preços, repasses de custos e, como consequências, suas margens.
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O pior, em comparação às outras commodities analisadas, é que o leite é a única a não contar com contratos futuros em bolsa, que permitiriam produtores e indústrias terem a mínima condição de proteger as suas margens…
A boa notícia é que a CNA, junto com a Viva Lácteos e um grupo de indústrias, produtores e especialistas no mercado (no qual a MilkPoint Ventures participa) está trabalhando para, junto com a B3, criar um contrato futuro para a cadeia láctea, que permita, assim como nas demais commodities, que produtores e indústrias atuem nos futuros, travando seus preços e protegendo suas margens!
Autor: Valter Galan
Fonte: MilkPoint