A resposta para estas questões é: SIM. É possível que as vacas de leite iniciem uma nova lactação sem a necessidade de parir. Atualmente, existem protocolos hormonais de indução artificial de lactação que podem representar uma alternativa viável para algumas propriedades leiteiras.
Antes de iniciarmos nossa conversa sobre esta alternativa terapêutica, devemos lembrar da importância da avaliação individual dos animais e do sistema de produção antes da implementação de qualquer biotecnologia produtiva ou reprodutiva.
A técnica de indução artificial da lactação consiste em um tratamento hormonal que mimetiza o terço final gestacional de uma vaca, estimulando o desenvolvimento da glândula mamária e a síntese do leite. Assim, a fêmea não precisa parir para iniciar uma nova lactação.
Esta alternativa demonstra elevada viabilidade quando pensamos no alto índice de descarte involuntário dos rebanhos leiteiros. Seria só pensar naquela vaca de alto mérito genético e elevada produção de leite, que devido à alguma falha de manejo ou outra questão individual, esta fêmea não está gestante e se encontra no fim do período de lactação ou seca.
Ainda podemos pensar naquelas novilhas que ganharam muito peso durante a recria e estão apresentando resultados reprodutivos insatisfatórios, com dificuldade para se tornarem gestantes, mas o proprietário não deseja descartar esses animais, pois precisa manter a reposição das vacas adultas no rebanho. Assim, surge a possibilidade de induzir a lactação artificial desses animais.
Contudo, um fator muito importante é que atualmente os protocolos hormonais para indução artificial de lactação em vacas, empregam elevadas doses hormonais, que podem inviabilizar a utilização da técnica do ponto de vista econômico. Então, por que discutir uma alternativa que teoricamente apresenta elevado custo de implementação na propriedade? Como viabilizar economicamente sua utilização?
Pensando nestas mesmas questões, decidimos reduzir as doses hormonais atualmente empregadas em protocolos comerciais para testar e avaliar a resposta dos animais. Pois além de evitar o uso exacerbado de hormônios, poderíamos reduzir o custo da técnica e evitar que haja uma sobrecarga hormonal nos animais durante o tratamento.
Lembrando que o objetivo do tratamento hormonal seria simular eventos fisiológicos que aconteceriam de forma natural no fim do período gestacional.
Assim, baseando-se nos protocolos hormonais comercialmente difundidos, reduzimos a dosagem diária de benzoato de estradiol de 0,060mg/kg de peso vivo (PV) para uma aplicação a cada 48h de 0,006mg/kg de PV de benzoato de estradiol e 0,012mg/kg de PV de cipionato de estradiol. E o resultado foi surpreendente, considerando que as fêmeas apresentaram resposta satisfatória e economicamente viável após o emprego desta biotecnologia.
Este protocolo hormonal foi utilizado em mais de 15 animais, dentre vacas e novilhas holandesas (Imagem). O pico lactacional das novilhas foi próximo a 30,0kg leite/dia e das vacas foi cerca de 35,0kg leite/dia. Inclusive, uma das vacas apresentou produção máxima diária de 52,0kg leite. E além desta resposta relacionada a elevada produção de leite, as fêmeas apresentaram capacidade de retornar à ciclicidade normalmente durante a lactação induzida e apresentar bons índices reprodutivos.
Assim, cerca de 30 dias após o início da lactação induzida, as vacas apresentaram produção de leite elevada e que justifica o emprego desta técnica desde que avaliada cuidadosamente pelo Médico Veterinário.
Para iniciar o protocolo hormonal, existem algumas características individuais dos animais e do sistema de produção de leite que devem ser ressaltadas, como: a avaliação individual da fêmea, a ausência de produção de leite (período seco – vaca) pelo menos 30 a 40 dias antes de iniciar o tratamento hormonal e a ausência de acometimentos reprodutivos que possam prejudicar o desempenho produtivo/reprodutivo subsequente.
Portanto, esta ferramenta pode auxiliar técnicos e produtores de leite na decisão de descarte involuntário de fêmeas com elevado potencial genético e/ou problemas reprodutivos que podem ser solucionados sem a necessidade de esperar uma gestação para que iniciem uma nova lactação.
Outra possibilidade, compreende propriedades que detêm de um rebanho estável sem intuito de aumentar a quantidade ou comercializar animais.
Assim, pode-se evitar que algumas vacas passem pelo momento do parto, pensando que neste período crítico, ocorre o maior índice de óbito e descarte involuntário de vacas leiteiras. Enfim, o desenvolvimento e aperfeiçoamento de biotécnicas relacionadas a bovinocultura leiteira nacional apresenta elevado potencial para auxiliar o crescimento da produção de leite em escala e o sucesso da atividade.
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