ESPMEXENGBRAIND
25 mar 2025
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Fazenda
Fernando Costa Sousa e Elena Stein Carvalho Dias à mesa que congrega sabores ancestrais, pesquisa e afeto.

– Mãe, podemos nadar na piscina do tio Xixo? – pedia a caçula Elena à matriarca, dona Augusta.
– Podem, mas só depois das dez. Primeiro, venham me ajudar com os doces.

Um tanto contrariadas, as crianças, em férias de verão, invadiam a cozinha da Fazenda Chiqueirão para descascar goiabas, bananas, peras, marmelos, figos; despejar açúcar, mexer o tacho, envasar, embrulhar…

Assim, Elena Stein Carvalho Dias e seus nove irmãos cresceram, aprendendo as durezas e as belezas do fogão materno, de onde também saíam bolos, pães, queijos e toda sorte de iguarias típicas das roças de antigamente.

A televisão só chegou à casa de Ernesto Carvalho Dias – o pai – quando Elena tinha quatorze anos. Sem TV, a criançada corria pelos campos, subia em árvores, se deliciava no pomar, brincava, lia, admirava a mãe pintando – dona Augusta relaxava com pincéis e telas.

Desde 1947, o rebanho é fechado, ou seja, não entra nenhum animal de fora, e a reprodução utiliza apenas touros do próprio plantel, o que proporciona uma padronização genética dos bovinos da estância de 400 alqueires.

No limiar de um século de jornada – ele faz 100 em maio próximo -, seu Ernesto continua ativo, dominando os números e outras variáveis do negócio.

Elena saiu de Poços ainda adolescente. Aos 16, que choque térmico!, foi cursar o último período do ensino médio em Ribeirão Preto. Logo depois, sentou-se nos bancos universitários em São Paulo para conquistar o diploma de Artes Plásticas pela FAAP.

A faculdade foi interrompida por dois anos, quando ela viajou para o Canadá na bagagem da irmã mais velha, Matilde, cujo marido, engenheiro, conseguiu uma colocação profissional em Vancouver.

Na volta à capital paulista, Elena uniu a influência culinária de dona Augusta, a vocação artística e algumas receitas canadenses para empreender num ateliê de bolos sofisticados. Por mais de uma década, ela literalmente meteu a mão na massa e encantou uma clientela de paulistanos exigentes.

A avançada idade dos pais – dona Augusta também chega aos 100 neste 2025 -, um chamamento sentimental das raízes e o companheirismo do parceiro de vida, Fernando, fizeram a poços-caldense retornar ao solo vulcânico natal. Era 2018.

O então “menino” de 93 anos, seu Ernesto, incentivou sua menina: “Elena, nosso leite é bom, gordo, forte. Vá depressa fazer queijo”. Ela foi.

O arquiteto Fernando Costa Sousa abraçou o projeto da mulher e imergiu no universo queijeiro da Canastra. Ganharam o pingo e começaram a produção no embalo: testando, aprendendo, errando, conversando com produtores experientes. O terroir vulcânico, não sem muita pesquisa, vingou. A queijaria artesanal Pátio de Pedra nasceu para ser o único selo brasileiro que fabrica queijo de leite 100% da raça Caracu.

A coisa deu tão certo que os clientes iniciaram um desembarque intenso na Chiqueirão para adquirir o queijo cuja fama se espalhava rapidamente pela região. Café e pão de queijo entraram no cardápio da lojinha por clamores da freguesia, seduzida pela atmosfera rural do lugar.

Queijo curado, café coado e pão de queijo assado. Precisa mais? Elena, novamente iluminada pela cozinha da mãe e pelo tempero da existência, achou que sim, o menu poderia ser maior e melhor.

Tirando o pão de lenta fermentação da padaria Nita, tudo o que é servido no Pátio de Pedra é feito ali mesmo: bolos, doces, coalhada, geleias, quiches, pão de queijo etc. Uma combinação caseira e harmoniosa de aromas, cores, texturas e sabores.

Dessa forma, entre memórias afetivas, paladares ancestrais e a força das origens, Elena transportou o passado para o presente e fez da queijaria não apenas um comércio, mas um acolhedor refúgio onde o queijo descansa e as panelas borbulham, fermentadas por histórias, ternura e tradição.

 

 

 

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